terça-feira, 25 de outubro de 2016

PARTIDOS SÃO COMO EMPRESAS

Vamos atualizar um pérfido perfil e defender, por meio de rápidas ilustrações, uma tese.

A tese: partidos e empresas se parecem. Neste regime de democracia formal financiada pelo capital, os partidos políticos se equivalem a empresas. Quem são os clientes? Os eleitores ou os investidores, rentistas, golpistas? Não sei responder (sem refletir) e nem devemos levar muito longe nenhuma analogia.


Por  enquanto, um traço comum: empresas e partidos iludem a população eleitora & consumidora, pois atendimento ao lesado é uma balela. Bullshit.

SAC é parte do esquema para tornar menos agressiva a imagem do capitalista explorador. Public relations, engodo.

Não podemos morder a isca; o que nos define é o trabalho e não o consumo. PROCON é desvio de rota na organização das classes trabalhadoras.

Anyway, mais como teste que por convicção, eu já tentei me comunicar com empresas e políticos. Aí vai o resultado:

1) Uma loja do supermercado Carrefour, em Uberlândia, pouco depois da inauguração, respondeu de fato minha carta. Assunto era: sugestão de instalação de um semáforo na avenida, para maior segurança dos pedestres/consumidores (e curiosos que iam ver lagosta no gelo). Ok. Funcionou. Simpáticos.
Carrefour é cruzamento
(mas em France tem disso: todas + outras)

2) Uma fábrica de cervejas não respondeu minha carta. Eu queria contribuir de graça para evitar uma simbologia ambígua e evitar cortes nas mãos de bebedores de cervejas (eu, inclusive). A seta curva impressa na tampa da garrafa sugere que se possa abrir o recipiente de vidro sem chave, com um giro feito com a mão. As garrafas long neck dispensam abridores, embora demandem, às vezes, a barra da camisa - mas os litrões não podem ser abertos com tanta facilidade. Enfim, nem todas. Negativo. O SAC da Ambev nunca respondeu minha carta. Tudo bem, continuo a tomar minhas bramas de milho, geralmente de latas vermelhas (tsss!...), para a dieta de manutenção, entre uma Weizen do Jairo e uma Ipa do Ita.
Redondamente enganado pela ambiguidade

3) Um fabricante de carros franceses teve a gentileza de responder minha carta. Eu reclamava de um comercial em que um motorista abandona seu carro velho de marca qualquer, ao pegar carona em um veículo novo da marca do anúncio (já me esqueci qual das três marcas). Problema: ao final da peça publicitária, ao fundo, o carro abandonado é destruído pelo fogo. Como assim? Queimar o carro velho e o pasto e a floresta?! A empresa jogou para o setor de marketing, sob uma suposta liberdade de criação e expressão, etc. Ok. Resposta meia boca...

Não se pode queimar, literalmente, o estoque

4) Uma loja da rede Extra, logo após inauguração em Uberlândia, não respondeu nenhuma de minhas três mensagens: a) por favor, vendam farinha de mandioca de nossa região, do jeito que apreciamos; b) por favor, vendam cachaça de verdade, do jeito que mineiro faz no Norte de Minas; c) por favor, deixem-me levar um caixote vazio de bacalhau, que vai servir de mesa ou estante muito style, etc. Negativo, negativo, negativo. Antipatia.

5) Escrevi cartas a quatro senadores brasileiros. Conforme já registrei aqui, em blog de 30 de abril deste 16, só uma secretária (ou máquina) do Sr. Perrela acusou recebimento, quando o assunto urgente era o código florestal. Agora, na última tentativa, apelei com a maior diplomacia ao Senador Cristovam Buarque, para que votasse contra o impeachment de Dilma. Não respondeu minha carta, mas deu de ombros e sujou as mãos e a ficha: vai para a gaveta dos golpistas. (E Buarque já lamenta que algumas crianças poderão ficar sem escola, com os cortes anunciados pelo Impostor Michel Treme. Umas 600.000 mil crianças sem escolinha. Alguns milhões de brasileiros sem comida, outros milhões sem bolsa de pesquisa, aposentados apreensivos, etc. Ora! Pois que saia fora dessa farsa! Que lute contra a destruição do país!)


O que mais? Ah! claro: na sociedade do espetáculo, as eleições norte-americanas e a operação morosa da PF aqui são reality shows. Mas isso é outra tese. E isso cansa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Leonardo Boff e as utopias mínimas

Leonardo Boff esteve na Universidade Federal de Uberlândia anteontem. O cartaz da nossa seção sindical, ADUFU, convidava para uma palestra sobre "Utopias libertárias", mas em alguma outra mensagem aparecia "utopia literárias". Não foi bem um erro, nem equívoco; é que o corajoso teólogo vinha de um evento de escritores na vizinha cidade de Araxá.

Parabéns a meus colegas do sindicato de professores!
(A ADUFU em seu papel de resistência democrática)


O auditório estava lotado. Ao procurar um lugar livre para ficar sentado no chão e ouvir a voz crítica do orador, passei perto dos bastidores, sem intenção de tietagem. A gentil e eficiente secretária de nossa entidade classista, Marluce, chamou-me e apresentou-me ao palestrante. Ficamos por ali alguns minutos conversando, enquanto a mesa se organizava.

Leonardo Boff, ao ouvir meu nome, brincou em termos mais ou menos assim (havia um pouco de barulho no ambiente): "Bento, Papa Bento XVI... Esse aí, quando ainda era o cardeal Joseph Tazinger, me fez sentar na cadeirinha..." Referia-se ao castigo sofrido por ele, sob o poder da burocracia conservadora do Vaticano. E essa é uma parte de sua biografia bem lembrada também por quem o apresentou à plateia.

Leonardo Boff também soube um pouco mais de minha formação filosófica. E quis saber por onde anda Ernildo Stein, que ele conhece como autor de importantes estudos e traduções da obra de Heidegger. Confirmei e atualizei alguma coisa. E também me referi a meu primeiro ano de teologia na PUC de Campinas, com uma turma da pesada, em 1978, os teólogos progressistas. Eu dizia um nome, ele acrescentava outro: Gorgulho, Euclides Balancin, João Nogueira e outros.

Este é um clássico do "Primeiro Leonardo Boff",
um livro denso e bem fuundamentado de teologia sistemática... progressista.


A conferência - muito boa e muito aplaudida - elencou três ou quatro grandes utopias que fizeram água (e sujaram a água do planeta) ou estão em descrédito, com o prazo de validade derrancado: o racionalismo, o socialismo autoritário de Estado, o pensamento único, o capitalismo sacana e concentrador, etc. Não acabou a era da utopia (e nem das ideologias - que ele prestigiou sem dizer em alemão "visão de mundo"); devemos continuar a lutar pelas pequenas utopias, utopias mínimas, tipo um prato de comida, uma luz acesa na sala... O tom foi de encorajamento para a luta que nos espera nesse momento escuro e triste da história do Brasil: para fora da história, para trás; barbárie.

Leonardo Boff tem sobre uma plateia de jovens, sobretudo, o efeito que Frei Beto também já provocou em 1981, em congresso de educadores, BH: o arrepio. Eles incluem Deus em sua conferência. Há uma prédica, uma admoestação clara e corajosa, etc.

O último etc. significa que o conteúdo dessa conferência pode ser recuperado em algum vídeo no site de nosso sindicato (Adufu) e que há vários livros de Boff e sua coluna no JB, Jornal do Brasil, traz seu posicionamento político (de esquerda, claro e firme).



Fico liberado para voltar ao tema do reencontro de duas feras: Stein e Boff. Nem um nem outro sabe bem dessa conciliação que vou apresentar aqui. Aguardei 25 anos para poder dizer quem é o cara e quem é... "o cara do cara".

Primeiro: o Prof. Dr. Ernildo Stein foi meu orientador no mestrado e na primeira fase do doutorado. Uma das mais brilhantes mentes que já vimos por aqui, nosso orgulho em grandes debates, quando costumava por no bolso figurões do porte de um Loparic, por exemplo, ou do triste Giannotti. Stein era para mim e tantos outros orientandos o mestre genial, o escritor compulsivo, o grande pai, até. E quem ele poderia admirar?

Pois bem. Em 1991, foi organizado um evento em Porto Alegre para comemorar os 90 anos da Editora Vozes. Dois oradores expuseram em formato acadêmico seus conceitos de "justiça", um político apresentou o que o governo estava a fazer de prático, supostos avanços. O quarto orador, Leonardo Boff, eterno franciscano, declarou com toda a convicção que o acompanha: A ressurreição é uma exigência necessária da justiça; só haverá justiça para os pobres e os que morrem sem chance de defesa e de preservação de sua dignidade quando ressuscitarem com Cristo. Tem que haver ressurreição, senão não haverá justiça...

Gente, foi um silêncio daqueles. Auditório impactado. Olho para o professor Stein, que tomava notas em seu bloquinho. Nesse ponto da fala de Leonardo Boff, ele parou de anotar e sacudiu a cabeça, pensativo, em gesto de aprovação.

Ernildo Stein era e é o cara. Leonardo Boff era o cara do cara...

Agora vamos ler o mais recente livro de nosso visitante ao cerrado:

um Franciscano militante da esperança, na boa companha de dois prezadíssimos "Chicos"


quarta-feira, 7 de setembro de 2016

NO GRITO, NÃO!

Independência E vida!

Independência  E chuva!

Que voltem os bons tempos, quando em sete de setembro caía um toró para refrescar os estudantes cansados daquele desfile, aquelas marchas.

Dia do Brasil de todos e para todos, festa civil de liberdade e direitos.

Contra os impostores,
contra os golpistas,
contra os entreguistas.

Com saudades do Henfil, da Graúna, do Bode Orellana...

Para colorir
(e não permitamos que aquela senadora gaúcha e outros golpistas
roubem os potinhos de guache verde e amarelo, etc.)

Imagem da net (em respeito ao quadro de Pedro Américo)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

QUE TREM É ESSE: A FILOSOFIA ANALÍTICA DO CONHECIMENTO?

Este post é para você aí, que ficou curioso sobre o conteúdo do livro (de filosofia) do Peter Bieri.
 

O cara
Antes, porém, uma ressalva em minha defesa: eu pensava que Bieri fosse alemão também porque ele assina o prefácio da primeira edição em Bielefeld, 1987, e o da segunda em Marburg, 1991, ambas na Alemanha.

Então, talvez o genro do Stein - meu ex-aluno A.N.B -  tenha se encontrado com Bieri em Bielefeld. [E sabem daquele sociograma, tipo "eu conheço alguém que conhece alguém..."? No caso, um grau de separação: conheço Ernst Tugendhat, que orientou tese de Bieri.]

Quanto a Marburg, Bieri era algum tipo de professor lá à altura, 91. [ Essa instituição tinha sido a salvação de Habermas, que lá defendeu sua tese sobre a esfera pública, trinta anos antes, etc.]

Vamos ao livro "Analytische Philosophie der Erkenntnis". Um pouco sobre os temas e autores, pois só faço resenha por encomenda (e nem sempre são aprovadas para publicação - às vezes por ignorância do parecerista).

Peter Bieri assina a obra como editor (organizador) e escreve a introdução geral (63 páginas) e uma introdução para cada uma das quatro seções da coletânea: 1. Condições para o saber; 2. A estrutura do conhecimento; 3. Ceticismo filosófico; 4. Teoria do conhecimento naturalizada.

Cito apenas os autores que conheço, alguns dos quais utilizei em sala de aula e em minha dissertação de mestrado (1986), um minucioso exercício na analítica da linguagem com intenções teórico-sociais: Roderick Chisholm ("Expressão epistêmica", "O evidente imediato"), Robert Nozick ("Condições para o saber", "Ceticismo"), Wilfrid Sellars ("O saber empírico tem um fundamento?"), Donald Davidson ("Uma teoria coerentista da verdade e do conhecimento", "O que é de fato um esquema conceitual?"), Barry Stroud ("O significado do ceticismo" "Argumento transcendental"), W. V. Quine ("A natureza do conhecimento naturalizado").

Eu aqui, autor de umas trinta resenhas, detestava "recomendar o livro" a alguma categoria: jamais usei o chavão do "volume que não pode faltar em sua biblioteca". Pode faltar, sim, quase sempre. Mas indiquei este post, no início - pois nem todo mundo que adora Lisboa e curte ferrovias aguenta filosofia. E esta escola é das mais pesadas: filosofia analítica do conhecimento. Um contraponto continental à filosofia analítica da linguagem? Boa briga, da qual vou saindo. Pode devolver meu paletó aí, ô baixinho....

Só mais uma pista, um elogio, obviamente esperado. O livro by Bieri é um show - comum nessas editoras acadêmicas europeias - de organização: umas quarenta páginas de anexo para bibliografia, mais uma lista de temas e outra de autores citados. Não resisto a uma rápida estatística dos nomes com mais entradas para consulta, pela ordem (decrescente): Quine, Descartes, Chisholm, Kant, Strawson, Moore, Rorty, Lehrer (who?), Carnap, etc.

(Corrigindo post anterior: a editora da 2ª edição da obra em 1992 é "Anton Hain"; a primeira saíra em 87 pela Athenäum, ambas de Frankfurt às margens do rio Meno - não vá procurar no rio Oder. Oder?)


 Para que os professores possam solicitar a compra dessa obra para as bibliotecas de sua universidades, vale procurar na editora "Peltz Athenäum", pois é dela a 4ª edição, de 1997 - que decerto é a última.


a peça

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domingo, 7 de agosto de 2016

BOA: TREM NOTURNO PARA LISBOA (versão ilustrada)

Ao procurar um bom filme dentre milhares nas listas da Netlix, quatro motivos me levam a escolher "Trem noturno para Lisboa": o meio de transporte, o horário, o destino e a cara do Jeremy Irons. Quem acabara de voltar de Portugal - onde viajara também de comboio - e considera que o magrão Irons convence continuou a ver a fita, sem transformá-la em trailer para assistir depois, pois... a temática política  atraiu para o enredo que ia a rumos inesperados.
Peter, aliás, Pascal tem todo o direito de escalar Jeremy para ser alter ego:
eu também interromperia minha aula e iria com a roupa do corpo seguir aquele moça e aquela história

Este blog não avançará nada sobre o plot do ótimo filme, em respeito ao colega C. A. que adquiriu o livro, mas ainda não o leu. Sim, o filme seguiu-se a um livro. E vamos falar um pouco sobre seu autor.
Um raro exemplo de filosofia & literatura
(a conciliação é possível nessa mediação: a pessoa/persona Peter/Pascal)

Ao final do filme, vi correrem nos letreiro dois nomes: Peter Bieri e Pascal Mercier. Ora, lembrei-me de um livro da capa vermelha que trouxe da Alemanha (e das referências do Prof. Stein a ele, na UFRGS). Mas poderia haver outros xarás desse alemão, pensei. Vim para o google e matei a charada: quem assina o livro, com o pseudônimo bem bolado de Pascal, é o mesmo filósofo analítico Peter Bieri, nascido, aliás, na Suíça, em 1944 - macaco que nem eu.
Um Pascal que não ficou só nos Penseès
(dupla militância bem sucedida)

Pois, então: um raro filósofo com a dupla e bem sucedida carreira de escritor... Muito me orgulho desse colega de profissão acadêmica - e agora vejo que ele leva doze anos de vantagem e que eu preciso tirar o atraso: vou achar logo meu pseudônimo, meu apelido e... escrever, ou melhor, publicar o que já escrevi e o que prometi escrever.

Coraggio! Avanti!
A edição que o blogueiro aqui tem em sua biblioteca é a 2ª, de 1992
(quando o Ernildo Stein estava às voltas com o problema da fundamentação)
um pouco diferente desta que está na net.

Bondinho diurno em Lisboa, maio de 2015
(by myself sem selfie)


quinta-feira, 14 de julho de 2016

MARX TEM RAZÃO: DILMA NÃO COMETEU CRIME NENHUM


Pedalada não é crime, decide procurador do Ministério Público

DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

14/07/2016 15h15

 

O procurador do Ministério Público Federal no Distrito Federal, Ivan Cláudio Marx (destaque deste blog), arquivou nesta sexta-feira (8) procedimento criminal que apurava as chamadas pedaladas fiscais do governo -atrasos nos pagamentos de valores devidos a bancos e fundos públicos. (...)
Leia mais na Folha de São Paulo. E acredite mais na verdade: impeachment é golpe.
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Querem mais?

A mesma Folha, em editorial de hoje, cobra coerência dos capas-pretas do supremo: eles, que infernizam Lula e sua família (e o Instituto Lula), eles - os juízes - não querem se ver inflados como bonecos de passeata e - pior - não querem revelar o quanto ganham, de vantagens, com palestras. Acima da lei os bacanas? Querem também o barbeiro do Hollande?


editorial

Sem transparência





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Do descrédito geral que engolfou o Executivo e o Legislativo, o Judiciário emergiu não apenas como instituição comparativamente ilesa de suspeitas, mas também como instrumento decisivo para a regeneração do quadro de dissolução de comportamentos instituído na democracia brasileira.
Sua cúpula, entretanto, parece ter-se dedicado nos últimos dias a desencorajar expectativas tão ambiciosas. Quando trata de defender os seus, o que o Poder dá mostras, para ficar na superfície visível, é de pequenez. (...)

A ironia, uma das muitas do caso, é que figuras como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (destaque em negrito neste blog) (PT), e seu célebre instituto, veem-se sob suspeita exatamente por terem recebido recursos de construtoras a título de palestras proferidas.

Risco à segurança, argumenta o CNJ. Risco de desmoralização? Não, nunca. Este vem dos "pixulekos". Quanto aos pixulés, na gíria para gorjeta, que fiquem em sigilo.



 

terça-feira, 5 de julho de 2016

JARBAS MORREU IGUAL UM PASSARINHO

Não, meus senhores; não farei piada com o tipo de morte que se encontrou com Jarbas. Aqui não é lugar para piadas e paródias de mau gosto.

Well, mas posso, sim, especular sobre a espécie de Passarinho a que ele pertencia. Tinha algo do papagaio, pois viveu muito e gostava de prosear na tribuna e admirava uniformes verde-oliva. Podia camuflar-se, à la mode do urutau, pois embora fosse um baita conservador - na turma dos reaças - lograva esconder-se sob as penas do liberal, do intelectual. Mas conviveu com falcões e abutres, desde seu início de carreira militar até seu cargo de Ministro (da Justiça!) no pífio governo de Collor.

Não, Jarbas Passarinho não interessa a esta coluna. O assunto aqui é filosofia. Subtema: de como a filosofia brasileira não prospera (um dos motivos). Para ser breve, jogarei tópicos. Também por falta de conjunções e ressalvas.

1. O filósofo Antônio Paim, que apoiou a ditadura militar, escreveu prefácio pra livro de Jarbas, sobre presidencialismo,

2. O filósofo Tiago Adão Lara escreveu e publicou tese sobre o tradicionalismo católico em jornais de Pernambuco, século XIX,

2.1 O orientador de Lara foi Paim;

2.2 Lara, ex-padre, foi um aguerrido militante dos direitos humanos em Uberlândia (militares e policiais não costumam apoiar essa causa);

3. O filósofo do cerrado escreveu duas ou três resenhas sobre livros de Paim (e criticou linha conservadora dele e de outro jovem conservador ligado a ele, José Maurício);

3.1 o mesmo blogueiro que agora digita coordenava um certo Núcleo de Cultura Latino-Americana, na UFU, quando Paim veio para conferência (pouco depois dos prolegômenos, Tiago também se afastaria dessa configuração "latino-americana" - não era bem aquilo);

4. Paim criou e dirigiu um Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro, que publicou enciclopédia com filósofos, sociólogos deste país;

4.1 Paulo Freire não consta dessa lista (nem Jacob Gorender ou qualquer socialista);

4.2 Lindolfo Collor, pai ou avô de Fernandinho, sim, está na enciclopédia (escreveu o quê?)

4.3 O livro foi publicado pelo Senado Federal, quando ACM o presidia.

(...)

N. O filósofo do cerrado não tem inveja nem ciúmes; jamais espera entrar para a enciclopédia desse CDPB, pois mal conseguiu entrar no prédio da sede, pra ver a biblioteca. Fica em Salvador, lá embaixo, ao lado do elevador que leva ao Pelô. De bermudas eu não poderia entrar no sagrado depósito de livros. Ainda bem 1: o porteiro dispunha de um pijama horrível, com elástico, dentro do qual me meti e fui sapear o acervo (circa 2008); ainda bem 2: mulheres - sobretudo baianas - podiam, sim, entrar de bermuda, de shortinho minúsculo... Quem seria contra? O blogueiro aqui é que não, mermão. E eu lá sou?...

+++++++++

Sorry. Não vou ilustrar este post. Sem graça como essa história toda.






segunda-feira, 4 de julho de 2016

O TERRÍVEL ENCONTRO DA FILOSOFIA COM A POESIA




 Filosofia e poesia. Namoro ou amizade entre as duas nobres produções de nossa cultura ori e ocidental? Quanta gente nesses campos já deu seu pitaco? Várias.

Por exemplo, três bentos: meu xará Bento Prado,
 que também arriscou uns versos, com gravata borboleta e muito scotch + meu xará B. Nunes (mas será o Benedito?)
e o autor deste blog que manteve linha de pesquisa alternativa, sobre gêneros literários da - e na - filosofia. E até o Habermas, sem jogo de cintura, ensaiou umas linhas sobre essa ingerência: poesia e sofia.

Mas nada resiste à violência crua de nosso dia a dia: cinco mortos no encontro das ruas Platão e Álvares de Azevedo. Shotdown. Decepção geral: filosofia não explica e poesia não consola as pessoas que sofreram essas perdas. Vidas perdidas. (Pior: a metafilosofia e a metapoesia se calam, se afogam na grande lagoa acadêmica. O jeito é atravessar o palco sem dizer nada, como recomendou Aristóteles, que também é homenageado em rua ali perto, no mesmo bairro.)


17 de agosto de 2015 08:36

Chacina deixa cinco mortos no bairro Lagoinha; não há suspeitos

por Diogo Machado

 

Cinco pessoas foram assassinadas na madrugada desta segunda-feira (17), no bairro Lagoinha, zona sul de Uberlândia. A Polícia Civil (PC) ainda apura as circunstâncias da chacina. Três vitimas foram identificadas, as outras tiveram os corpos encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) ainda sem identificação. Uma mulher, de aproximadamente 20 anos e que é, segundo a PM, conhecida pelo apelido de Tieta, está entre as vítimas dos assassinatos. O crime aconteceu cerca de seis horas depois do assassinato do agente penitenciário Edson Ferreira.

A Polícia Militar (PM) informou que as vítimas estavam em frente a uma casa no cruzamento das ruas Platão

e Álvares de Azevedo,
 

 por volta da 1h35. Até o momento não há informações detalhadas sobre o crime. No local foram encontrados diversos cartuchos de calibre 9mm, arma que pode ter sido usada no crime. O material foi apreendido pela perícia da Polícia Civil (PC). (...)
 

"Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!"

(É, meu caro poeta Aze[ve]do...Eles
morreram ontem, outro dia, no ponto
em que se cruzam tua arte e
a clássica filosofia.)


 

 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Sobre ideologia: reler Althusser, quarenta anos depois


Ideologia não é o cisco em meu olho, mas...
(sorry, Louis - que não curtiria metáforas bíblicas)
 
 
Em 1983, ouvi um argumento animador: quando a verdadeira revolução anticapitalista triunfar, vamos nos livrar não só da exploração do trabalho, mas do trabalho, curto e grosso. E, what is more, vamos também ser dispensados de ler Marx, pois “lire le capital” dá muito trabalho; é cansativo (e vamos preferir pescar de dia e ir à ópera de noite).

Durante campanha à prefeitura, há uns doze anos, vi em Uberlândia uma boa ilustração de outro ponto de nossa doutrina (no parágrafo anterior, trata-se de utopia das boas): é sempre a direita que aparece volta e meia para negar a ideologia – os seis candidatos se distribuíram três de cada lado, em debate sobre segurança pública: esquerda - direita.

Aqui cabe um traço, para separar premissas e conclusão, pouco antes do “logo” ou do “ergo”.

Nestes meados de 2016 – um inferno nas Américas, entre impostores aqui e postulantes fascistas lá – dá uma preguiça ter que voltar pela pinguela ensebada das baboseiras dos golpistas. Eles, os inimigos no poder, aprontam os recuos sociais e econômicos. E nós, cidadãos e intelectuais de brio, temos que voltar... a ler nossos clássicos, nossos mestres à penser.

Semana passada, o interino Michel disse que ideologia é coisa do PT, ou seja, resquício equivocado, superado. Na mesma semana, o PTB, com T de trabalho, veio à TV negar o caráter classista das relações trabalhistas. Sem nem apelar para a múmia ambígua de Getúlio Vargas, pregam que não há luta de classes. Nem furacão, nem vulcão. Eles, os golpistas, enrolam o rabo e sentam em cima. Nem admitem que o liberalismo e o pragmatismo sejam ideologia.

Não vou perder nosso tempo com leguleios. Não leio, mas li que Daniel Bell errou: o fim das ideologias não emplacou. E o fim da história, by Fukuyama, durou pouco.

Depois do fim, dá preguiça ter que voltar a ler, por exemplo, Louis Althussser. Mas reli o famoso e útil livrinho azul, com títulos vermelhos: Ideologia e aparelhos ideológicos de Estado, que são um programa de curso em notas escritas entre janeiro e abril de 1969.

Destaco a passagem que cai como carapuça na cabeça indevidamente coroada desse Michel, ex-chefe de polícia:

“O que se passa de facto na ideologia parece portanto passar-se fora dela. É por isso que aqueles que estão na ideologia se julgam por definição fora dela: um dos efeitos da ideologia é a denegação prática do carácter ideológico da ideologia, pela ideologia: a ideologia nunca diz ‘sou ideológica’”. (3ª edição, Lisboa, Editorial Presença, 1980, pág. 101)
 
Um post-scriptum envergonhado:

não é meu o exemplar de que disponho em casa para ler.
Noto, 34 anos depois daquele curso de especialização em educação
com Gadotti e cia., que o dono do livro é o Noé Ribeiro.
Está lá o nome do colega, com data: 82.
Vou ter que procurá-lo e devolver, em breve...
 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

DERRUBÁ-LO-EMOS!


 
 

 


“Vai cair, vai cair…”
 
Sugestão de consumo: este post de ser servido quente, ao som de

 
Todos os homens do presidente…
 
…estão caindo.
 

 Um a cada dez dias.
Esse Henrique Eduardo Alves do terno preto já vai tarde. Não apoiou Dilma nas eleições de 14, perdeu feio o governo de sua província e veio grilado feito cobra mal matada pra se vingar com pautas-bomba no DF. E, aliás, quem precisa de ministério para passear por aí? A muitos bastava suspender vistos para países vizinhos, tipo Guiana Francesa, essa colônia extemporânea.
Efeito do Machado: cabeças vão rolar
 
 
Ruídos: O mini stereo do Impostemer começou assim:
Nenhuma mulher
Nenhum homem negro
Nenhum trabalhador (até o Paulinho dá uma força notou o vexame)
Nenhum indígena, etc. etc.
Ou seja: só os Wasps (brancos, ricos e bien gorditos) e os capatazes mestiços e entreguistas.
Agora, aos poucos, a equipe do Interino vai ficando, por subtração, sem ninguém,
nobody , nieMANNd - nenhuma pessoa: só nulidades. O bravo ficou só, no cinema de caubóis. E agora, o golpista vai também se isolando. Ou, como disse Raulzito: "Quem não tem visão dá com a cara contra o muro".
 
Nesta long road of life, eu confesso que já estou cansado de tanta hipocrisia
 


Nem progresso, nem crise; mesócrise. Mais uma prova da regressão: o impostor adota o lema da bandeira, Ordem e Progresso... Que criativo! Que original! Que atraso nessa pinguela para 1889...
Aliás, a frase completa de Auguste Comte continha "amor", para completar o triângulo positivista à la mode maçon. Portanto, faz sentido essa campanha nos muros de São Paulo:

 
Ou seja, "mais" indica soma: ordem (qual delas?) + progresso (que inclui crise) + amor (fraterno, inclusive, pelos pobres que passam frio nas metrópoles e mucambos).

domingo, 5 de junho de 2016


Ponte para o futuro:
de onde teria vindo o slogan do interino golpista?
Fiscalizando o paraíso:
gangsters se escondem por trás desse papo construtivo
*****
 
A pergunta outro dia era: de onde esse interino Miguelito tirou o título de seu programa golpista? Uma possível resposta está no que se segue: veio de um esquema criminoso no Caribe, que envolve violência e políticos corruptos.

Fonte: o segundo filme da trilogia Worricker, de 2014. O episódio leva o nome de duas ilhas, Turks e Caicos, que são paraísos (inclusive fiscais) para os bacanas e gringos e, ao mesmo tempo, um inferno para os pobres nativos.

Cartaz do filme da BBC, que prestigia o jornal The Independent
Estamos curtindo Netflix – e esperamos que não degringole como ocorreu com as emissoras de rádio FM e com as TVs a cabo; não queremos pagar para ver comerciais. Um bom filme policial começa assim (e já podemos decidir nos primeiros três minutos se vamos continuar a vê-lo): um xerife ou um detetive está prestes a se aposentar e não quer se meter em encrencas na rua. Mas, é claro que vai sair de sua mesa no bureau e enfrentar tiroteios.

Não é bem o caso desse filme, onde brilha a bela Wynona Rider: nenhum  tiro, poucos palavrões. O único morto levou merecidos golpes de remo - que não foram filmados. Nosso espião inglês não lembra muito o James Bond; Johnny deixou seu carro em Cambridge, é magrelo, tem mais de sessenta anos e mede cada frase que pronuncia. A elegância britânica segue métodos e usa roupa escura. E que livro ele lê na ilha, onde tentava curtir sua aposentadoria? Farewell to arms, de Hemmingway. Muito sutil.

De Joãozinho a Michelzinho. O sossego da ilha vai ser quebrado por um evento voltado a magnatas e investidores. Gladstone, uma empresa que constrói presídios privatizados – onde a tortura é parte do pacote – teria a participação do Primeiro Ministro da Inglaterra. O investidor inglês Stirling joga tênis com o Ministro e dirige também uma entidade de caridade, cuja fachada leva o sugestivo mote de “A ponte – construindo o futuro” (The Bridge – building the future).

Quem quiser e apreciar o gênero, confira. O filme Turks and Caicos foi produzido para a BBC pelo escritor David Hare. A cena em que aparece o panfleto do evento para investidores, com a logomarca, está 14 minutos e 25 segundos após o início do filme.

A marchinha de "A ponte do rio Kwai" já encheu as medidas,
em ritmo de hino dos escoteiros
 
 
Ora, para quem gosta de uma boa teoria da conspiração, foi assim: a sogra do impostor, esse do mandato-tampinha, botou Michelzinho para dormir. A beldade recatada e do lar (ou do dólar?) estourou pipoca e a família veio ver um filme. Cairam nesse, talvez por causa do apelo do mar azul do Caribe. E dali surgiu a dica: “Este título é bom para meu plano. Pegá-lo-ei.”

Miguelito não está com essa bola toda:
a cada semana cai um golpista de seu reduzido ministério WASP
 
 
Tudo bem. Para os demais, que não querem ver ligações perigosas nessa armação diabólica, que faz o Brasil regredir e sofrer, fica a alternativa: foi apenas uma coincidencia. Cá entre nós, I’d rather doubt it. Ou, como disse inesperadamente o grosseiro espião norte-americano, vivido por Christopher Walken: “Don’t insult my inteligence!”
 

"Se lembra do futuro que a gente combinou?...
Hoje só dá erva daninha no chão que ele pisou"

(Chico e Miúcha, em passado recente)
 

 

 

 

quinta-feira, 2 de junho de 2016


Edição corporativa:
 
pra   encher a bola da  filosofia

 
Ou "puxar a brasa", para quem não aprecia
metáforas do futebol

O ilustre prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (do Partido dos Trabalhadores), é mestre em filosofia, pela USP, aliás... Haddad holds a master's degree in economics and a doctorate in philosophy from the University of São Paulo (conforme texto na Wikipedia).

 


O aguerrido militante Guilherme Boulos,  membro da coordenação nacional do MTST(Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente de Resistência Urbana, é Formado em filosofia pela USP  e escreve na Folha de São Paulo às quintas-feiras. Hoje, aliás, criticou a violência da polícia paulista em duas ocupações recentes e comentou uma vitória do movimento: o novo ministro-impostor vai manter contratos para construir 12 mil casas populares, conforme planejamento da Presidenta eleita Dilma (vítima de um golpe).  

 


O diretor do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi é formado em filosofia pela FFLCHUSP. Pode não parecer uma boa hora lembrar o nome do CEO, já que é citado na lista interminável de suspeitos e dedurados. Se isso ajuda, outros executivos de outros bancos também se enrolam, exceto, por enquanto os do Itaú, que emplacaram a direção do Banco Central: a raposa no galinheiro? Esopo que o diga.

 


E quem quiser encontrar outros filósofos em evidência, consulte a inevitável wikipedia.

 

Aliás, um longo e sonoro aliás: um dos dois fundadores dessa enciclopedia virtual é, sim, um filósofo! O outro é Jimmy Wales. O filósofo é Larry Sanger. Podem conferir essa história na revista Humboldt, do Instituto Goethe, numero 94. O artigo “O universo anárquico da wikipedia”, de Kerstin Kohlenberg, compara essa iniciativa-monstro a outra obra exagerada, o dicionário Brockhaus. O artigo saiu também no jornal Die Zeit, em edição mais longa. (Confiram em www.goethe.de/humboldt)

Kerstin conta que Larry aprendeu com Ayn Rand a defender uma concepção contextualista da verdade. Ok, tudo bem, mas se esse Larry tivesse sido meu aluno teria sido orientado a ler outros autores, em vez de ou além dessa estranha militante ultra-liberal. Tarski, Habermas, Rorty também ajudariam na discussão e na busca de conceitos não representacionistas, etc. etc.

Mas, reafirmamos aqui: o objetivo deste post é fortalecer o bom e velho corporativismo e ganhar adeptos para a filosofia, geralmente associada aos caras que não gostam de dinheiro, nem de sucesso, nem de tecnologia. Conversa... (sem murrinho na mesa).

 
A propósito, esta é a imagem para sardinha (herring)
na página da Wikipedia