quarta-feira, 10 de agosto de 2016

QUE TREM É ESSE: A FILOSOFIA ANALÍTICA DO CONHECIMENTO?

Este post é para você aí, que ficou curioso sobre o conteúdo do livro (de filosofia) do Peter Bieri.
 

O cara
Antes, porém, uma ressalva em minha defesa: eu pensava que Bieri fosse alemão também porque ele assina o prefácio da primeira edição em Bielefeld, 1987, e o da segunda em Marburg, 1991, ambas na Alemanha.

Então, talvez o genro do Stein - meu ex-aluno A.N.B -  tenha se encontrado com Bieri em Bielefeld. [E sabem daquele sociograma, tipo "eu conheço alguém que conhece alguém..."? No caso, um grau de separação: conheço Ernst Tugendhat, que orientou tese de Bieri.]

Quanto a Marburg, Bieri era algum tipo de professor lá à altura, 91. [ Essa instituição tinha sido a salvação de Habermas, que lá defendeu sua tese sobre a esfera pública, trinta anos antes, etc.]

Vamos ao livro "Analytische Philosophie der Erkenntnis". Um pouco sobre os temas e autores, pois só faço resenha por encomenda (e nem sempre são aprovadas para publicação - às vezes por ignorância do parecerista).

Peter Bieri assina a obra como editor (organizador) e escreve a introdução geral (63 páginas) e uma introdução para cada uma das quatro seções da coletânea: 1. Condições para o saber; 2. A estrutura do conhecimento; 3. Ceticismo filosófico; 4. Teoria do conhecimento naturalizada.

Cito apenas os autores que conheço, alguns dos quais utilizei em sala de aula e em minha dissertação de mestrado (1986), um minucioso exercício na analítica da linguagem com intenções teórico-sociais: Roderick Chisholm ("Expressão epistêmica", "O evidente imediato"), Robert Nozick ("Condições para o saber", "Ceticismo"), Wilfrid Sellars ("O saber empírico tem um fundamento?"), Donald Davidson ("Uma teoria coerentista da verdade e do conhecimento", "O que é de fato um esquema conceitual?"), Barry Stroud ("O significado do ceticismo" "Argumento transcendental"), W. V. Quine ("A natureza do conhecimento naturalizado").

Eu aqui, autor de umas trinta resenhas, detestava "recomendar o livro" a alguma categoria: jamais usei o chavão do "volume que não pode faltar em sua biblioteca". Pode faltar, sim, quase sempre. Mas indiquei este post, no início - pois nem todo mundo que adora Lisboa e curte ferrovias aguenta filosofia. E esta escola é das mais pesadas: filosofia analítica do conhecimento. Um contraponto continental à filosofia analítica da linguagem? Boa briga, da qual vou saindo. Pode devolver meu paletó aí, ô baixinho....

Só mais uma pista, um elogio, obviamente esperado. O livro by Bieri é um show - comum nessas editoras acadêmicas europeias - de organização: umas quarenta páginas de anexo para bibliografia, mais uma lista de temas e outra de autores citados. Não resisto a uma rápida estatística dos nomes com mais entradas para consulta, pela ordem (decrescente): Quine, Descartes, Chisholm, Kant, Strawson, Moore, Rorty, Lehrer (who?), Carnap, etc.

(Corrigindo post anterior: a editora da 2ª edição da obra em 1992 é "Anton Hain"; a primeira saíra em 87 pela Athenäum, ambas de Frankfurt às margens do rio Meno - não vá procurar no rio Oder. Oder?)


 Para que os professores possam solicitar a compra dessa obra para as bibliotecas de sua universidades, vale procurar na editora "Peltz Athenäum", pois é dela a 4ª edição, de 1997 - que decerto é a última.


a peça

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domingo, 7 de agosto de 2016

BOA: TREM NOTURNO PARA LISBOA (versão ilustrada)

Ao procurar um bom filme dentre milhares nas listas da Netlix, quatro motivos me levam a escolher "Trem noturno para Lisboa": o meio de transporte, o horário, o destino e a cara do Jeremy Irons. Quem acabara de voltar de Portugal - onde viajara também de comboio - e considera que o magrão Irons convence continuou a ver a fita, sem transformá-la em trailer para assistir depois, pois... a temática política  atraiu para o enredo que ia a rumos inesperados.
Peter, aliás, Pascal tem todo o direito de escalar Jeremy para ser alter ego:
eu também interromperia minha aula e iria com a roupa do corpo seguir aquele moça e aquela história

Este blog não avançará nada sobre o plot do ótimo filme, em respeito ao colega C. A. que adquiriu o livro, mas ainda não o leu. Sim, o filme seguiu-se a um livro. E vamos falar um pouco sobre seu autor.
Um raro exemplo de filosofia & literatura
(a conciliação é possível nessa mediação: a pessoa/persona Peter/Pascal)

Ao final do filme, vi correrem nos letreiro dois nomes: Peter Bieri e Pascal Mercier. Ora, lembrei-me de um livro da capa vermelha que trouxe da Alemanha (e das referências do Prof. Stein a ele, na UFRGS). Mas poderia haver outros xarás desse alemão, pensei. Vim para o google e matei a charada: quem assina o livro, com o pseudônimo bem bolado de Pascal, é o mesmo filósofo analítico Peter Bieri, nascido, aliás, na Suíça, em 1944 - macaco que nem eu.
Um Pascal que não ficou só nos Penseès
(dupla militância bem sucedida)

Pois, então: um raro filósofo com a dupla e bem sucedida carreira de escritor... Muito me orgulho desse colega de profissão acadêmica - e agora vejo que ele leva doze anos de vantagem e que eu preciso tirar o atraso: vou achar logo meu pseudônimo, meu apelido e... escrever, ou melhor, publicar o que já escrevi e o que prometi escrever.

Coraggio! Avanti!
A edição que o blogueiro aqui tem em sua biblioteca é a 2ª, de 1992
(quando o Ernildo Stein estava às voltas com o problema da fundamentação)
um pouco diferente desta que está na net.

Bondinho diurno em Lisboa, maio de 2015
(by myself sem selfie)