sexta-feira, 18 de novembro de 2011

LIVROS FORA DE LUGAR E PIADAS FORA DE HORA

Onde colocar um livro com o título Parerga e paralipomena? E que tal este: Os arcanos do inteiramente outro... A chance de errar é grande e é melhor não chutar. Olha na ficha catalográfica.


Qual é o tema? Idéias fora do lugar, inspiradas por livros fora do lugar.Ou seja,
O CONFLITO DAS FACULDADES
que, na verdade, denunciam
O CONFLITO DAS (MINHAS) FACULDADES MENTAIS

Antes, porém, vamos às obras que se tornaram famosas também por serem deixadas em estantes erradas.
Essa obra sobre nossa história não deveria ficar
ao lado de tratados da mandioca e da cenoura

Essa obra não veio de nenhuma betoneira e
só ajuda o engenheiro na construção de um certo socialismo...

E as coisas pioram na biblioteca quando, enrubescido, o estagiário pensa que vai levar uma bronca. Esses livros deveriam estar na gaveta da diretora!
Depois do grande sucesso do volume 1, aprenda como
se enroscar na queda de braço e no corpo a corpo da política

E outro filósofo também trouxe sua contribuição, sem a malícia dos trópicos, onde surgiram também a guerrilha e a republiqueta de bananas. Engajar-se é tomar posição. Ou não?


 
O artista da capa merece elogios. Vejam como ele situou as palavras e
decerto também as coisas: uma de pé e outra deitada

Um filósofo francês disse recentemente que o filósofo é um sujeito que quebra a cara. Tem razão. Foi o Deleuze ou o Derrida, um deles. E isso se refere a tantos de nós, sem dúvida. Aqui começa a fazer água nosso projeto de criar uma seção para livros fora do lugar. Nós é que ficamos sem lugar. Vejam isso:


Sim, é a capa de um livro.


Aliás, de um inocente livro sobre contação de histórias, lendas  e parlendas infantis...

Que vergonha para o jovem estagiário!
Que mico pagam todos os que maliciam!

De volta a Deleuze. Quem quiser um ótimo guia para entrar na catedral kantiana, pode contar com esse francês nosso contemporâneo. Ele entendeu a arquitetura do alemão e nos deixou esse precioso livro, cujo subtítulo é "a doutrina das faculdades". Desde entonces, pensava que "o conflito das faculdades" do próprio Kant tinha tratado das mesmas forças: imaginação, entendimento e razão em geral. Ledo engano o nosso. Vejam no que deu. São dois sentidos de "faculdade" bem conhecidos em nossa linguagem corrente. Mas os equívocos também são parte do esforço de compreensão. Admitam.

Enfim, para dar razão a Freud e Cia., o título de Kant indica aquilo que você não queria admitir: o conflito referido por ele é mesmo uma briga entre a faculdade de teologia e a faculdade de filosofia. Não brinca! Já vimos isso em alguns campi por aqui: em São Paulo houve um pega pra capar entre estudantes de duas faculdades de direito, não foi isso? Sem falar do entrevero ocorrido bem aqui no cerradão entre uns e outros. Deixa pra lá.
 

Não foi aquele entrevero entre alunos da Pi-delta-kappa com a...?
 

Aqui está um artigo para quem quiser um resumo comentado do livro de Kant. Uma informação histórica preciosa sobre origens da prepotência de certas áreas do saber - aquelas que sabem arrancar dinheiro do rei e dos súditos em apuros.
Artigo do Hermas g. Aranha, na coletânea da editora Liber Livro, Brasília, 2011
Kant também penou com o puxa-saquismo do rei, que favorecia a medicina, o direito e a teologia. Sim, o pastor era um funcionário público... Já o filósofo, desde pelo menos uns 300 fica pra escanteio e tem que lutar por seu lugar no campus e nas editoras.
Enfim, alguns reis gostariam de fazer com os filósofos aquilo que o bibliotecário maluco fez com nossos livros: expatriá-los. Ainda bem que algumas rainhas nos quiseram como preceptores e sabe-se lá o que mais, nas alcovas reais. Descartes que o diga, pois não era bobo, nem nada e só se levantava depois do meio dia.