quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SACI, SANDY E SANDICES DE PUXA-SACOS

Quando eu era criança, não exatamente em Barbacena, o ar quente de aguosto e setuembro provocava redemoinhos de poeira. Os moleques mais levados daquelas ruas entravam no meio do negócio e tentavam rodar o corpo no sentido contrário. Isso poderia desativar o "redimunho", ao contrariar o capetinha que ia lá dentro. Saci era dessa categoria e fazia suas pequenas diabruras só para atazanar a vida das lavadeiras de roupa. As mães católicas olhavam de rabo de olho e não aprovavam nem esse enfrentamento do coisa-ruim e nem girar o berra-boi, pois foi um instrumento do suplício de Jesus.

Mas aí vieram o Ziraldo e o programa de Lobato na TV, com o sítio do pica-pau. E o Saci tornou-se cada vez mais uma figura querida de nossa imaginação. Nos anos enta, a Caixa Econômica Federal lançou uma campanha de poupança que tinha um saci biônico como mascote... Quem abria uma conta ganhava um cofre-nik. Mas não sei se já havia correção monetária e muita gente não compraria nem um picolé, anos depois, com suas economias.

Em São Luís do Paraitinga, na Serra da Mantiqueira,
a Sacilogia é uma ciência empírica que reúnde observadores
e conta com entidade e estatuto: SOSACI

Desde entonces ou desde sempre, nossas finanças brigam com o dólar e nossas tradições tem que disputar com invenções estranhas. Está certo, podemos e até devemos aprender um inglesinho do gasto, mas sem macaquear os ianques, por favor. Nos EUA, eles tem essa brincadeira com abóboras e máscaras. Um lance de consumo, antes do dia de Todos os Santos. Creio que os brasileiros teriam mais afinidades com a festa religiosa mexicana, um dia depois, Finados. Se chover, a festa será maior ainda. Pois somos dois povos cristãos e cheios de santos e de respeito pelos muertos. Mas sem medo de assombração.

Se o Saci está no redemoinho, pode estar também no enorme furacão com 1.600 km de diâmetro que esgadanhou parte de Noviorque e adjacências, anteontem. Tão violento, mas sempre com nomes de mocinhas: Sandy, Sandrinha. Lamento mais pelas mortes e menos pelos prejuízos. Quem mandou fazer casa de papelão na areia? Como construir no subsolo de uma ilha? Para que refazer os prédios das Torres Gêmeas? Resposta: por pura prepotência, arrogância. Bastava um jardim meditativo ali. Um anjo barroco absorto.


E agora, nossa mídia. Que vergonha! Alguns repórteres deslumbrados, com água pelos joelhos, quase choram diante de uma bandeira norte-americana rasgada pelo vento furioso... Menos. Menos. Essa imprensa vendida lamenta, com razão, - nós aqui também - as cinquenta mortes. Mas não dá destaque às 2.300 pessoas que foram mortas no Afeganistão, na era Obama, por meio dos sacanas drones (aviões não tripulados).

Uma universidade norte-americana esteve avaliando os números desses ataques em áreas de combate. Segundo essas fontes deles, a eficiência do equipamento é a seguinte: quem envia os drones não corre risco e não morre. Mas, do lado de lá, no Afeganistão, a população civil não tem sossego com esses troços zunindo nos céus, dia e noite. E podem atirar bombas a torto e a direito, a qualquer hora. Os pesquisadores universitários calculam que menos de 2% dos mortos são, de fato, "terroristas", segundo definições e critérios criados por eles. Ora, ora. A aversão aos invasores é maior que isso e, decerto, crescente.
ABÓBORA?

SÓ SE FOR COM CARNE SECA...

Em outros tempos, esse papel do estudo sobre impacto de bombas coube a uma pessoa: John Kenneth Galbraith. Antes da Segunda Guerra, esse economista canadense a serviço dos USA, trabalhava em controle de preços. Serviu diversos presidentes, democratas e republicanos. Mas, como a guerra é também a continuação dos negócios por outros meios, de preços o gringo passou a bombas; analisava a eficácia dos bombardeios, o custo/benefício - expressão em uso muito impróprio, nesse caso. Galbraith exibia uma frieza típica de um liberal, que depois escreveria memórias, sob o título "Contando vantagem". Uma diferença hoje talvez seja a preocupação acadêmica com os direitos humanos. Mas, essa doutrina não parece tão eficaz  e barata quanto bombas voadoras nada seletivas.
OS ESPANHÓIS TAMBÉM, COM 25% DE DESEMPREGO,
DEVIAM APRENDER A LIÇÃO E RESPEITAR A COMIDA, SAGRADA:
ACABAR COM AQUELA BESTEIRA DE GUERRA DE TOMATES

Eles, acima do Equador, neste continente, não acreditam em direitos humanos na periferia do império. Eles e elas não acreditam em aquecimento global e não vieram assinar compromissos na Rio+20. Eles e elas não acreditam em castigo e brincam com assombração. Brincam com fogo, desperdiçam comida e confundem santos com espíritos malignos. Por via das dúvidas, se você aí cruzar com alguma entidade ou espectro,  numa noite de apagão - por causa de pique em fim de novela no lixão - é melhor cortar uma volta e rezar alguma coisa pertinente, pois pode ser uma alma penada. E diga também e repita umas emboladas oportunas, entremeando uns "vade retro" e uns "t'esconjuro". Seja eclético em país mestiço. Cruz Credo!

Mas o que nos arrepia e assusta pode ser apenas mais uma molecagem, como esta e tantas outras. Coisa de Saci, pra não se levar muito a sério. E depois do susto, é sempre bom restabelecer a diferença: o que é cosia séria e sagrada / o que é presepada e perfumaria. O que é costume nosso / o que é consumo dos outros. Etc.


TÁXIS AMARELO-ABÓBORA FLUTUAM NO RIO HUDSON

(Americanos deram bandeira dois com essa festa bizarra)

(foto com créditos no cantinho, deu na FSP, hoje)

***************


UM POUCO DE FILOSOFIA ILUSTRADA

De volta nosso personagem Godofredo Bolacha,
em homenagem ao pragmático Leibniz,
que acreditava ser este o melhor dos mundos possíveis.


***********************

Em breve nesta tela:

FILOSOFIA & MAKE UP

A médio prazo:

AMBIGUIDADES & PUSTEJOVSKY

Sine dia:

NOVAS ANEDOTAS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA UNIVERSAL