sábado, 14 de maio de 2011

NOVANTIGA e a Revolução de 17

Se um dia você visitar o centro antigo de Frederickstadt, poderá conferir esta curiosa placa de rua.

O compadre Xande percebeu a graça e fotografou. O filósofo do cerrado foi na mesma toada e cismou que ali tinha pano pra manga. Achou que a imagem serviria para ilustrar um post ou uma aula em que aparecesse o papo da dialética.

Pois não é que essa cidade, depois de expulsar os holandeses, passou a se chamar Filipéia, pra puxar o saco de outro capa-preta? E até aí, a rua continuava a se chamar Rua Nova. A cidade foi rebatizada como Parahyba, em homenagem ao rio lá embaixo. Por fim, depois de desavenças políticas e amorosas, a capital passa a se chamar João Pessoa.

Não, meus caros medievalistas, a coisa toda não se encaixaria melhor no tema nominalismo, não. A mudança de nome revela uma baita sacanagem. Ao lado dessa placa está o convento dos monges beneditinos, que tiveram grande participação nos movimentos republicanos nordestinos de... 1817. Isso mesmo. Cinco anos antes daquela cena pintada às margens plácidas, com Dom Pedro I, ao proclamar a independência e/ou morte, escondia a matança que banhara de sangue Pernambuco, Paraíba, RN, Ceará e adjacências. Supitaram com a monarquia portuguesa cá instalada. Poucos sabem disso. O filósofo do cerrado chega a pensar em processar seus professores de história - ou será que matou essa aula?

¿Mas onde está a sacanagem da nada transparente e sempre ingrata história? Botaram na rua dos rebeldes o nome do General Osório, que matou e mandou matar no Paraguai, virou herói, barão, com estátua eqüestre e tudo. Com isso, a oficialidade reinante conseguiu implantar naquela rua o nome de uma contorcionista que era ao mesmo tempo um legalista de caserna e um anti-republicano. E é claro que o nome "Rua Nova" era muito mais charmoso.

É quase sempre difícil falar de dialética. O que é isso a dialética? (Was soll denn das?) Simples, responderá Oskar Negt. Mas antes, um exemplo de resposta simples, dessas que nos permitem e até obrigam sair de fininho assobiando. Um dia, encantado com a visão bossanovista de um barquinho a deslizar no macio azul do mar, o sábio ressabiado perguntou ao velejador: por que é que não tem um trem bacana desses lá na minha terra, na represa de Guapé, por exemplo?! Resposta curta e grossa, de enxotar cachorro a ganir: Por causa que não tem vento, oxente!

Pois, então. Esse alemão marxista, Oskar Negt, disse, entre duas baforadas de cachimbo, que a dialética do espaço público consiste nisso: sempre que os proletários formam seu espaço público, a burguesia detona e/ou avacalha. (E Bauman completaria: na era dos shoppings, a praça pública foi reduzida a um lugar êmico, que nos expulsa, vomita. Conferir.)

(Na falta de foto de Negt com cachimbo, ei-lo ao microfone. Será censura do Ministériodasaúdeadverte?)
 
Esperavam o quê? Que Negt viesse com categorias transcendentais e termos latinos (jogando criativamente com locus, situs e intervalo, por exemplo), só porque nasceu perto da terrinha de Kant?

Mas sempre tem a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar. E a coisa não parou e nem pára por aí. Tipo Juanito Caminador: Keep walking.