sábado, 24 de setembro de 2011

GODOFREDO, O FILÓSOFO QUE VIROU BOLACHA

Se você já ouviu falar em Leibniz, um filósofo cheio de outros talentos, talvez fique curioso ao encontrar um pacote de bolachas com esta marca.


Gottfried nasceu em Leipzig, mas fez sucesso e carreira em Hannover. A fábrica das bolachas fica nessa cidade da Baixa Saxônia. E daí? Talvez seja um negócio da família Leibniz, de herdeiros. Coisa comum em um país que se orgulha de escrever na placa da panificadora que aquele forno assa há três séculos. Ou a cervejaria de Einbeck, desde... 1378 naquele prédio.


E você quer saber do que mais? No Brasil, Bauducco, Mabel e Aymoré também podem ser sobrenomes. Deixa disso e vamos fazer pesquisa séria. Coisas do tipo, o conceito de x em fulano de tal.

Curiosidade é uma sarna. Duas décadas depois, com a ajuda do Goooogle, podemos voltar à pesquisa. Mas é preciso perder um tempinho para curtir isso tudo: pão, cerveja, filosofia, pesquisa. Agora, com imagens e sites podemos afirmar e indicar a fonte: a bolacha Leibniz presta, sim,  homenagem ao mais ilustre morador de Hannover.


Aqui vemos uma menina dessa importante cidade de feiras industriais. Ela vestiu a camisa Leibniz. E decerto curte o rock do grupo Skorpions. Belas melodias de Hannover. Belos jardins no parque Herrenhaus. "Immer geradeaus! Immer geradeaus!"



Bolachas pra levar de lanche ao ginásio.



Bolachas resistentes e duráveis para comer nas trincheiras da Primeira Guerra.

Esses postais são itens preciosos de colecionadores.

Uma nova palavra foi inventada nessas embalagens, para desespero dos dicionaristas conservadores: cakes, do inglês, virou Keks. Para quê, se já havia Kuchen? (No sul do Brasil é "cuca"). Leibniz Keks, bolacha Leibniz, inclusive com sua figura estampada, usando peruca francesa.



A família Bahlsen passou a produzir tais biscoitos com o nome do filósofo inventivo em 1892.

Leibniz esteve na França, em missão diplomática nada singela: propôs que o rei francês atacasse e ocupasse o Egito. Geopolítica das boas. E também foi conselheiro do rei da Rússia, onde esteve. E também na Inglaterra, para assuntos científicos tão importantes como registrar a patente do invento que disputava com Newton: o cálculo infinitesimal, seja lá o que isso signifique.

Alguém já imaginou um filósofo que, além do mais, inventou uma calculadora? Fazia três operações e não gastava pilha.

E que tal um filósofo que pesquisava bombeamento de água em minas de prata nas montanhas do Harz alemão? Era ele. Deu errado, inundou tudo.

Voltou da França e, no caminho, passou pela Holanda para visitar Spinosa. Daí em diante, passou seus últimos 40 anos a serviço de Hannover. E é aí que ele merece homenagens em bolachas e em placas de bronze. Era bibliotecário e tinha tempo para pesquisar a história da cidade. E, segundo o invejoso do Bertrand Russell, esse nosso Godofredo era um grande... bajulador de poderosos. Uma maldade, em uma época sem bolsas da Fapemig ou da Fundação Ford. Tinha que agradar os príncipes. Resultado da pesquisa de Leibniz: o príncipe de Hannover tinha sangue azul e merecia o posto de eleitor. Pronto! A cidade cresceu em importância política.

Não é hora de falarmos das mônadas. Até porque esse é o lugar-comum quando o nome Leibniz aparece. E, de cara, muitos querem refutar a doutrina ou tese do melhor dos mundos. Por enquanto, vamos admitir: o mundo ficou melhor depois de Leibniz e das bolachas com prazo de validade mais longo que o do pãozinho francês. Agora, fala sério: essas bolachinhas não se parecem com as tais mônadas?



Antes isso que as versões místicas. Ou não? Confiram.


Como diria o líder dos Gremlins: é bonitinho, mas não ajuda a metafísica.

cada bolacha é uma bolacha e a harmonia reina no pacote



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A fonte prometida: recorte um pedaço desse texto abaixo, pesquise no google e caia numa página sobre marcas e patentes, no mundo dos negócios não apenas panificados. O autor é Dirk Schindelbeck, data: dia de São João Batista, 2009. (Rs... rs... -risos, risos -, pois o nome do cara tem "beck", de padeiro.) E as seguir um tira-gosto do texto dele, com destaques nossos:

"Die Mutter Hermann Bahlsens hatte einem Herrn Schmückler, der in Hannover ein „Fabrikgeschäft englischer Cakes und Biskuits” führte, 20.000 Mark geliehen. Als dieser die Summe nicht zurückzahlen konnte, wurde ihr Sohn zunächst Teilhaber des Geschäfts, übernahm es schließlich und gründete am 1. Juli 1889 die „Hannoversche Cakes-Fabrik H. Bahlsen.” Als Zuckereinkäufer für eine Londoner Firma kannte Hermann Bahlsen (1859-1919) die englischen Dauerbackwaren gut und brachte 1891 seinen eigenen „H.C.F. Butter-Cakes” auf den Markt. Obwohl das Produkt noch im selben Jahr auf der Brüsseler Nahrungsmittelausstellung die Goldmedaille gewann, befriedigte Bahlsen der Name nicht. 1892 benannte er seinen Cakes nach einem der größten Söhne Hannovers, dem Philosophen und Mathematiker Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), um. Schon in den ersten zwei Jahren ihres Bestehens wuchs die Zahl der Mitarbeiter seiner Firma von 10 auf etwa 100; Auslieferungslager in mehreren deutschen Städten entstanden."