O título do livro propões revelar a injustiça que se esconde debaixo de alguma proposta de implantação e realização da justiça social, o que não se compreende de forma rápida e intuitiva, devido a essa aplicação não usual de "social". A ilustração da capa atrai o potencial leitor que percorre as bancas no corredor do shopping com ar condicionado: capitalismo gera desigualdade, poder ao proletariado, transporte grátis... Opa! vou comprar e ler!
As imagens de pessoas, todavia, montam uma amostra bastante estereotipada de um recorte sociológico, com quatro rostos de jovens não-brancos em gestos expressivos, punhos cerrados. Além da colagem sobreposta, "suja" como paredes de cidade grande, cheias de cartazes vencidos, onde se destaca a cor vermelha, que também foi usada no "in" de injustiça. E a mancha da metade superior da capa se reforça em fundo negro para a metade de baixo onde estão os outros termos do título.
Quem der o passo seguinte, ao segurar o obejto-livro mais perto dos olhos lerá o subtítulo: "Desmontando mentiras e teorias absurdas sobre raça, gênero e identidade - e o males autoritários do politicamente correto". Hora de virar a mercadoria-livro para conferir a contracapa com texto impresso meio torto, que se abre com uma pergunta: "Afinal, por quem os justiceiros sociais estão realmente lutando?" O texto com sinopse é apresentado em forma de cartaz para passeata ou muro e é sustentado por duas mãos de pessoa negra, que parece magra-subnutrida, cujo rosto está coberto ou escondido pelo mesmo cartaz e pelas intenções de autores, editores, artistas gráficos.
A orelhas trazem declarações de Helen e James, bem como suas credenciais e fotos: jovens, brancos, bem nutridos... e eis que já está o quase-comprador lançando hipóteses sobre a falta de neutralidade deles e de uma terceira pessoa, Rebecca, que nos fez o favor de resumir o livro original, Teorias cínicas.
Sim, a indústria editorial está em campanha de divulgação, ao simplificar o texto e expandir o leque de leitores curiosos, sem tempo ou com pressa. E eu sou um desses e de fato comprei o livro. Já o li e rabisquei e ri e xinguei, deu murros na mesa... Eu precisava me informar sobre essas ondas de estudos e ativismo dos últimos vinte anos, sobretudo porque me afastei da academia e da cena urbana há dez anos. Não quero apenas ficar antenado com o novo jargão, por razões de ética e etiqueta.
Mas... não. Não vou escrever uma resenha aqui. O que espero é poder montar uma mesa do sindicato dos professores na universidade onde trabalhei... Entender esses novos fenômenos, as novas pautas e poder contribuir com uma parte do nó górdio (ops!), no enrosco do pós-modernismo com diversas fantasias do liberalismo.
Minha fala seria ou será algo como uma "resenha ao vivo", e creio que vou gastar boa parte de meu tempo de fala com constantes ressalvas sobre como não quero ser confundido com os autores e suas posturas. E espero manter o bom humor, virtude que apreciei em recente leitura de um livro instigante de Frantz Fanon.
[Mural fotografado por mim na ilha Dominica em 2017.
"Los cinco cubanos" ficaram injustamente presos nos EUA, de 1998 a 2014.]