sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O LOBO DO HOMEM NASCEU APTO?

No meio de tantas tarefas, faltou a este blogspot tempo para um post mais elaborado. Hora da gaveta, mas sem maracujá. Bem fresquinha essa tradução de nota de rodapé. Consta da edição original, mas falta na de língua portuguesa que circula por aí. Mistura de "born to be alive" com academia de musculação tipo "fitness center", ou seja, coisa de alcatéia.



HOBBES, Th. De cive.

Nota ao final da seção II, do cap. I [born fit]

Já que agora vemos verdadeiramente uma sociedade constituída entre homens, nenhum dos quais vivendo fora dela, desde que vemos todos a desejar reunião e mútua correspondência, pode parecer um extraordinário tipo de estupidez colocar bem no limiar dessa doutrina um impedimento diante dos leitores, como a negar que o homem nasceu apto para a sociedade: portanto, eu devo dizer simplesmente que é de fato verdade que, para o homem, por natureza, ou enquanto homem, isto é, assim que ele nasce, a solidão é uma inimiga; pois as crianças precisam da ajuda dos outros que as ajudem a viver, e aqueles de idade mais madura precisam dos outros para ajudá-los a viver bem, motivo pelo qual eu não nego (mesmo que a natureza obrigue) que os homens desejem se encontrar. As sociedades civis, todavia, não são meros encontros, mas vínculos, para cuja formação são necessários a fé e os pactos. A virtude é completamente desconhecida das crianças e dos tolos, bem como o proveito é estranho àqueles que não provaram as misérias que acompanham suas falhas; donde acontece que aqueles, por não saberem o que seja a sociedade, não podem entrar para ela; estes, por ignorarem os benefícios que ele traz, não lhe dão atenção. Fica manifesto, por conseguinte, que todos os homens, por causa de nascerem na infância, nascem inaptos para a sociedade. Muitos também (talvez a maioria dos homens), seja por falha mental ou por falta de instrução permanecem inaptos durante todo o curso de suas vidas; ora, as crianças – tanto quanto aqueles de idade madura – tem uma natureza humana; por isso o homem é feito apto para a sociedade não pela natureza, mas pela educação: mais ainda, embora o homem tenha nascido em tal condição de modo a desejá-la, não se segue, que ele por conseguinte tenha nascido apto a entrar para ela, pois uma coisa é desejar e outra é estarmos aptos na capacidade para o que desejamos; pois mesmo aqueles, que por causa de seu orgulho, não se inclinam a condições iguais, sem o que não pode haver sociedade alguma, ainda a desejam, de fato.

(p. 44 e 45 da edição de Howard Warrender, Oxford)

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E o desenho a seguir é também novinho, fruto de idéia besta ou bestamente filosófica, embora a mera inversão não chegue ainda aos pés da centopéia dialética. Fazer o quê?

lesson one



Qual é a graça?

Podem escolher uma:

tri graciosas minas


domingo, 28 de agosto de 2011

FILÓSOFO ALEMÃO COM SEIS LETRAS

Uma peça de teatro nos anos enta tinha o curioso título “Greta Garbo – quem diria – acabou no Irajá”. O lugar deve ser um subúrbio do Rio. A peça devia ser coisa de teatro de rebolado ou de revista. Ou barra pesada, tipo “Navalha na carne”, a conferir.

Pois o filósofo hoje, no cerrado ou no chalé suíço, tem que rebolar para não perder seus preciosos conceitos. Olhem onde foi parar uma peça de resistência da crítica anti-capitalista: numa reles revista de palavras cruzadas.

Tem base? O complexo conceito-porrete “Indústria cultural” já perdeu seu ferrão aqui. Virou equivalente de entretenimento, passa-tempo, bolachinha recheada de inutilidades domésticas. Já não se destaca a aparente contradição no simples ato de ajuntar de um fôlego essas duas palavras: cultura+indústria. Ou seja, a cultura virou mercadoria, mas ninguém liga, desde que a mercadoria circule. Assim como “big brother” passou a ser diversão inócua.

Desafio: Qual o nome da editora do livro em que apareceu esse conceito da teoria crítica? Pista. foi em 1947...( Contando o tempo. Valendo um milhão! Quem quer dinheiro? Tic tac, tic tac...)
- Espere aí, querido...

Isso! Acertou! A resposta está co-ré-tá! Vai para o trono. Editora Querido, de Amsterdã (mas não me perguntem de onde vem esse nome, queridos...)

Ninguém aqui quer ser o guardião da integridade dos conceitos. Outros já caíram na boca do povo: ego, espaço público, paradigma. Deixa quieto. As línguas vivas vivem disso: empréstimos, adulterações, mal-entendidos e vampirismo geral.

Mais divertido é ver como a simples indústria de papel colorido pode se vingar de toda pretensão ranzinza da crítica mal-humorada.

No outro extremo, recomenda-se: ler Adorno. Sem medo. Quem quiser passar pela experiência do incompreensível e do banho de erudição, leia a tese de Adorno sobre Kierkegaard. Tão difícil e agradável quanto ler o próprio dinamarquês. Não é a toa que sua obra mais hermética (e qual não o é?) tenha o título de Temor e tremor.

Quem acha que esses dois filósofos são enrolados pode esperar sentado,

 pois não sairá uma versão de suas obras pesadas em palavras cruzadas. Hum... Talvez um caça-palavras. (E é claro que uma versão em quadrinhos do Diário do Sedutor seria formidável. Se for desenhada pelo Guido Manara, então... Best-seller pra galera babar. Sério.)

TIPO ASSIM

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[P.S.: Ops! Misturei Guido Crepax com Milo Manara... Duas feras da boa "indústria cultural" que até Adorno ia gostar de.]