segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

GANHA QUEM CHEGA POR ÚLTIMO

O Filósofo do Cerrado não está desesperado para produzir e nem quer aparecer no guia Who is who da academia. Demorou meio século para aceitar essa tara de ser filósofo, whatever that means. É devagar, é devagar, devagarinho, como canta Martinho da Vila. Devagar, mas não parando. Nem quase parando. E nem é por causa da latitude, da malemolência dos trópicos, nem nada. É por causa da coisa mesma. Certa vez uma jovem trácia disse que o Filósofo do Cerrado era muito devagar e que precisava tomar um biotônico. Com muita paciência, na aula seguinte, o dito cujo apareceu com uma tartaruga.

Uma tartaruga na capa de uma revistinha. E uma frase. Que bela defesa essa! Quem poderia encontrar melhro advogado que Wittgenstein? Pois com ele era tipo "cala a boca, Zebedeu!" Ou... "vou dar um tempo".

"Na corrida da Filosofia, ganha quem consegue correr mais devagar. Ou quem atinge por último a meta" - eis a frase de Ludwig, que serve de mote para esta raríssima revista Aquiles - ensaios de análise filosófica.
Esse número um, no ano um, acabou se tornando o número ùnico. Creio que nunca foi retomada a publicação, mas era algo mais que um impresso. O grupo se reunia e discutia um tópico. Anotavam resumos de argumentos, com réplicas e tréplicas. Tudo muito resumido e clean, elegante. Fui a uma ou duas reuniões na casa dos Carrion em 1984, ano da publicação. 
"A inspiração original foi a revista ANALYSIS, de Oxford, que traz artigos curtos e diretos", conforme a "Circular", na última página, a p. 64. Doze artigos nesse espaço. Coisas como "A questão da justificação das regras" (Rejane Carrion), a Verdade (Raul Landim), "O desregramento da beleza" (Valerio Rohden).

O Filósofo do Cerrado não foi muito longe com a filosofia analítica, mas preza Austin, Quine e Ryle. O ensaio "Expressões sistematicamente enganadoras" e mesmo a história escrita por Passmore são leituras elegantes que cativam e se mantem mesmo depois de tantas novidades e decepções.

E voltar-se-á este blog em grande estilo (ou seja... piece-meal investigation) ao dilema constante da existência de filosofia brasileira, no singular ou no plural - ou a negação de algo parecido ou inferido em tal rubrica.  Aguardem. Calma, pois é devagar, devagar, devagarzinho.

Devagar, por favor!
Roulez doucement
Despacito
Slow please 

==================================================================
PS.: Aquela aluna e o Filósofo do Cerado ainda se comunicam, de boa. E ela também se tornou professora, com pós-graduação. Uma outra leva a sério o gosto pela corrida em maratonas e também faz bem à filosofia que faz bem às pessoas que querem bem aos animais e coisa e tal.

============================================================
TRANSLATION: Never mind if you think you are going too slow in the path of philosphy. Our philosopher was once compared with a turtle. He was not angry nor sad with the girl who said that in his classroom. He brought next week this philosophical journal Aquiles, which quoted Wittgenstein: "In the race of philosophy the winner wil be the one who runs slower. Or the last runner who reaches the end strip". This journal had only a first issue and was interrupted, but theis editors planned it to be as Analysis, from Oxford. And in fact it was a good example of analytical philosophy in Brazil, 1984.