sábado, 23 de julho de 2011

ENSAIO SOBRE A FOTOGRAFIA (DO MACACO)


Numa certa cidadezinha deste cerradão, mundo velho sem porteira, dois profissionais chamavam a atenção: um relojoeiro mudo e um locutor cego. Mais extraordinário seria se o mudo fosse trabalhar ao microfone da rádio e o outro viesse acertar pelo tato os mondaines e seikos. Not quite.
O fotógrafo cego
Há uns dez um cego arrepiou no circuito das culturetes de algumas metrópoles . Ganhou até coletânea de ensaios psicanalíticos, com algum francês a tiracolo. O Filósofo do Cerrado conheceu o cara, que nasceu com nome metido, Evgen Bavcar, ou seja, Eugênio. Expunha fotos e se expunha, com roupa extravagante e um chapéu preto de carroceiro, em sala de museu onde ninguém usava chapéu.  E ainda aprendia a tocar sanfona no Brasil. Nada tão extraordinário assim, já que Evgen enxergou até por volta dos dez anos. Depois perdeu a visão e ganhou uma Leica. E hoje um assistente bota ele na direção do tema que fotografa; vira ele e diz “fica quieto e dispara!”


O fotógrafo míope
Quanto ao emissor ora diante do teclado, cabe dizer dele que sua sina não era ser Suassuna, ou seja, além de mediano nisso, a filosofia, ficou a meio caminho do sucesso na fotografia, pois sendo apenas míope, dançou de novo. Todavia, há que admitir: fez suas melhores fotos quando esteve a clicar sem seus óculos. Logo, Evgen tem razão: o olhar atrapalha. Ou seja, a Kodak se vira.

O fotógrafo peludo
  1. Espelho é paia. Certa vez, em um caderno de cultura da Folha ou do Estadão, lia-se: “Não se deve dar espelhos aos macacos”. Incompreensível essa frase, que agora cai no esquecimento, já que os macacos querem mais: querem câmeras fotográficas digitais com visor.
  2. Shoot, shot, shot. Poderíamos lançar aqui a qualquer hora mais um manifesto fora de hora. No caso, um manifesto contra o excesso de imagens de nossa sociedade midiática, etc. Tarde demais, já que até os animais estão a produzir imagens. Foi-se o tempo das piadas caipiras e pegadinhas, tipo “o cabrito que disparou um tiro de espingarda em seu pastor”.
  3. Ape Copyright. Um macaco tomou a câmera de Fulano Slater, um fotógrafo inglês, na Indonésia e fez várias fotos, inclusive auto-retratos, esticando o braço. Agora está em disputa a autoria das fotos. Militantes dos direitos dos animais (não humanos e cada vez mais espertos) criam caso e com razão. Quem ainda nega direitos aos animais que se prepare: já se reivindica “direitos autorais” para eles. Macaco tá certo. E só falta mico piratear a obra do colega indonésio.
  4. Solidariedade símia. Exemplo deste primata : para não desrespeitar o macaco-fotógrafo, inclusive por transitar alguma matéria por aí, o digitador deste blog não vai publicar fotos do colega indonésio. Quem quiser que procure neste endereço, por sua conta e risco: http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=fotos+macaco+indonesia+slater&rlz=1R2ADRA_pt-BRBR416&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.&biw=1024&bih=456&wrapid=tlif131144958902410&um=1&ie=UTF-8&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=wi
E a matéria da Folha de São Paulo está em http://edicaodigital.folha.com.br/home.aspx?cod=JPQOKROMHOI

Sem condições para tirar lição de moral, pois até Esopo e La Fontaine estão pasmos,  acrescente-se apenas um sub-item:
E – Ensaio sobre a fotografia. A sensacional obra de Susan Sonntag vai ter que ser reescrita, pelo filho-editor ou pela amiga-fotógrafa, se é que ainda anda por aí e não na companhia de Amy Winehouse agora.
*****************************************************

Jovem!
No ano em que completar 27 anos, parabéns!
Você ganhou dos malucos que levaram a sério o plano de morrer jovem.
E para quem estiver na fila dessa aposta bizarra, vespano os dizassete,
cabe repetir a avaliação de L. Coelho ou de Nhô Quim:
--Você está feito, cara. Está feito bobo.


segunda-feira, 18 de julho de 2011

QUATRO PÊNALTIS PERDIDOS E ALGUNS ACHADOS

CERRADO NÃO QUER CAPA DE REVISTAS, ADMITE MURDOCH


Paulo Ghiraldelli Jr. apresenta-se em seu blog como o “Filósofo da Cidade de São Paulo”.  O colunista Pondé é o filósofo do jornal Folha de São Paulo. E semana passada um editorialista da Folha disse que o Chalita, ex-secretário municipal de Sampa, estaria fazendo campanha disfarçada por meio de vídeos exibidos nas estações de metrô – suas mensagens de auto-ajuda, pura água com açúcar do fisiologismo, fariam dele o “filósofo da revista Caras”. Ghiraldelli gosta de polêmica e milita em favor do pragmatismo norte-americano. Pondé provoca as mulheres, inclusive ou sobretudo as feias, mas outro dia levou um esculacho de um diplomata belga, por conta de suas opiniões duras contra os migrantes oportunistas. Bom saber que vários caras assumem ser filósofos, de naipes diversos, dentro e fora da academia (não só o Olavo de Carvalho, por suposto). Cada um na sua, na sua briga, levando desaforo pra fora de casa e esperando a desforra. Mas que ninguém mande este blog aqui para o Globo Rural. E muito menos para a revista Chácaras e Quintais, se bem que teria sido uma boa matutar numa cadeira de balanço na Quinta da Boa Vista, há duzentos anos mais ou menos.
 

CAVALARIA CRESCENTE E TÉCNICA AURÁTICA


A Alemanha comemora os 125 anos do automóvel do Sr. Benz. Corria 12 km por hora e tinha menos de um cavalo. Dia desses foi vendido o último Bugatti Veyron, de uma série limitada de 300 exemplares. Um monstro da indústria automobilística, com doze cilindros e 1001 hps. Melhor não falarmos de preço, velocidade, arrancada. Uma sugestão razoável: tais maravilhas poderiam ser construídas, mas o certo seria que houvesse apenas um exemplar, para um museu de arte ou design. E que ninguém esnobasse a coisa como mercadoria na estrada. Assim, poderíamos curtir nossa perdição da hora e ficar em paz com Th. W. Adorno e Cia.

COMO SÃO FEIOS OS CARROS FORTES

Com algum dinheiro e juízo, muitos podem comprar e manter um carro. Com muito dinheiro, poucos podem comprar um carro grande, veloz e muito bonito. Com dois milhões, carros de marajás e bandidos. Então, porque será que é tão feio o carro-forte, que vive a carregar dinheiro, muito dinheiro? Tão feio quanto um tanque de guerra. Aliás, merece espaço na garagem deste blog um trato para o slogan “L´automobile c´est la guerre!” Qualquer hora dessas.

LIVRO-OBJETO (de DESPREZO)
Fazer objetos é hoje moda no mundo das artes e coisas parecidas performáticas midiáticas. Há meio século, o termo objeto aparecia no repertório deste sertão da farinha podre como objeto escolar, aliás, no plural, objetos, que iam e vinham bem cuidados - em um estojo. Alguns culturetes pós-modernos acham massa falar de livro-objeto, por exemplo. Deliram nesse papo. Não objeto, meritíssimo, mas ressalvo que um dos gurus de certa vertente cultuada não botava fé. O primo Jorge Luis Borges refugou essa frescura, quando ia receber uma edição de luxo de um conto seu. “Era um livro enorme, encadernado com seda negra com títulos folheados a ouro e impresso em papel azul Fabriano, feito à mão (...) e cada exemplar numerado.” Depois da descrição, Borges, que já não enxergava, exclamou: “Mas isso não é um livro, é um caixa de bonbons!” E o deu de presente ao carteiro, que viera trazer o embrulho.
Goooooooool...
==============
Post scriptum neste post: Quase dá jogo. Este blog, ao completar 50 posts e mais de 1200 visitas, feliz da vida comunica que já tem dez seguidores. Valeu! Obrigadúúú... Quase dá jogo: mais um e serão onze a bater um bolão, sem chutar a areia e sem culpar a grama platina e nem a brisa cisplatina.