terça-feira, 26 de junho de 2012

TÁ FRIO TÁ QUENTE



Desde 1811


Será que o Presidente Lugo superestimou o apoio que tinha junto ao povo? Certo é que ficou isolado no meio político e levou uma rasteira, um golpe, que em inglês soa como "impeachment" - da noite para o dia, sem prazo de defesa. Em janeiro deste 2012, Lugo declarava a um jornal da capital Paraguaia:

“Infelizmente, nao existirá um Lugo II, não existe um clone meu e não posso ser reeleito de novo. (...)mas temos mais apoio (adhesión) que o Obama! (...)” [Do caderno de viagens deste blogueiro FC]

Ora, não é nada engraçado que a ala "liberal autêntica" venha agora tripudiar, ao implantar o vice na cadeira de presidente. Francamente, meus caros vizinhos. E nem podemos concordar com o pronto reconhecimento do novo governo pelo Vaticano. Um julgamento moralista por causa dos filhos do padre Lugo? Melhor que o estimado presidente Lugo tivesse  deixado clones, então. Razoável é fazer o que está fazendo: um governo paralelo. Não pode é vacilar.
                            
  
Parede antiga diante da moderna sede do Parlamento paraguaio

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O que importa agora é isso, quase um escândalo, pela demora: o Egito elegeu seu primeiro presidente e saiu da pré-história. Viva está a recém-nascida democracia possível, que dá uma resposta a outros países e povos: vai demorar, mas as liberdades virão mesmo que seja após o ferro e o fogo. A Europa, que saiu da guerra com medo de guerra, iniciou seu longo caminho rumo a uma União Européira com a criação da Comunidade do Carvão e do Aço, em 1951, ou seja, mais fogo e mais ferro. Todo apoio aos corajosos egípcios, cansados de faraós e de militares.

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Como ficou essa coisa toda, na diplomacia acima do Equador: A primeira dama Michelle Obama não respondeu nossa carta. E o marido dela não veio ao Forum da ONU para o Meio-ambiente. Mas mandaram a Sra. Clinton para o Rio com mais 20 milhões de U$D, uma ninharia, e um discursinho chocho. Aqui não era lugar pra encher a bola de Steve Jobbs. Nosso herói é Chico Mendes. E olha que ela podia citar sua conterrânea, Dorothy, assassinada no Pará por motivos semelhantes: a defesa da floresta. O que faz o casal Clinton a propósito? Investiram dinheiro nos canaviais de Goiás. E de repente agora estão querendo destilar na África álcool para os carrões norte-americanos. Negócios privados, como antes. Confiram as memórias de John K. Galbraith. Muitos presidentes norte-americanos administravam o país como se fosse sua fazenda.

                                                  

Querem filosofia? Pode um filósofo colaborar no debate sobre o meio-ambiente e não só reclamar, reclamar? Sim, mas toma um tempinho. Eis um esquema.

Grande parte dos negociantes, da sociedade civil e da mídia atuou contra o sucesso da Rio+20, para depois dizer: "tá vendo? eu disse... resolução fraca, etc." No caso da sociedade civil, faz falta um Forum Social Mundial paralelo, além da Cúpula dos Povos, pois tantas marchas e seios nus tiram o foco e jogam fumaça no tema que devia ser central: salvar o planeta.
No caso da mídia, dividida, muito cinismo. A rede Bandeirantes, por exemplo, jogou todas as fichas contra o evento. O Joelmir com aquela cara de assustado e constrangido para repercutir a voz dos donos e anunciantes. E aí acharam um professor de Alagoas, secundado por um calouro da USP. Vieram questionar a (hipo)tese do aquecimento global. Sim, é fácil encontrar representantes da ciência e da anti-ciência, bem como aqueles gatos pingados, que se situam no limiar dos paradigmas em disputa.
E chegaram a invocar a filosofia, guardiã da anarquia e do relativismo, no caso deles, como a imaginam. Ora, esse papo me lembrou do título inesquecível de uma separata, guardada  há 30 anos: "Anything confirms anything?". Pode ser que qualquer coisa confirme qualquer coisa, mas não em qualquer contexto de discussão e de pesquisa. O que significa a semântica dos mundos possíveis, por exemplo? É difícil falar disso.
Para entendermos isso, teríamos que ler o ensaio citado, ao lado dos outros que compoem um dossiê, em debate com Goodman e Elgin, e que envolve a crítica a uma compreensão errada de Hempel, seguidor de algumas bandeiras do neopositivismo. E não se pode esquecer que a ênfase deve cair no termo "confirmação", parâmetro que o falibilismo de Popper vinha derrubar - ou pretendia fazê-lo, através de uma ciência "unificada por um só método". E bastaria um único cisne não-branco... Ironia: Thomas Kuhn encerrou a série, com suas revoluções científicas. As panelinhas da academia estão em disputa, mas os grupos não podem passar por cima dos velhos e bons "melhores argumentos". A concepção intersubjetiva de verdade pressupõe um consenso racional - e não a média da ignorância.
A anarquia metodológica não pode ser interpretada de maneira cínica. Mesmo Feyerabend, a propósito do "tudo vale", traria antes argumentos e exemplos históricos, sobretudo com Galileu: valia tudo (mas não valia igualmente) para produzir explicações razoáveis - e não, como quer a mídia, para um recuo ao senso-comum e à confusão da opinião pública (para beneficiar projetos privados e nocivos). 
Por fim, a referência ao texto e uma ressalva. Em blog, só podemos levantar a lebre e pautar o assunto. Quem quiser filosofia hard core, relevante, terá que ler os textos e encarar as distinções, os recortes históricos, os avanços. Mas, por favor, não citem a filosofia onde basta uma pequena dose de honestidade e inteligência, na linha do "é necessário, mas não é suficiente". Pois mesmo que o planeta não esteja aquecendo e mesmo que os ursos polares continuem a dormir em suas pranchas de gelo, a questão, Sr. Joelmir et caterva, é que o ar de São Paulo é doente, o barulho é um horror e o povo é mal-educado (pois sua cidade recicla menos de 2% do lixo). E há, enfim, inúmeros motivos, inclusive éticos e estéticos para mantermos as florestas e cerrados e mangues.
E esse locutores são os mesmos que concordam que temos que valorizar a educação. Pois que comecem a se convencer não só do valor do conhecimento; educação vem para mudar atitudes, embora isso seja difícil com gente do courco grosso.

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Collectif - Synthese - An international journal for epistemology, methodology and philosophy of science - Volume 45 - No 2 - October 1980 - Varia : including a symposium on Nelson Goodman- Dordrecht, Boston, D. Reidel Publishing Company, (1980), broché, 15,2 x 22,3 - 125 pages paginées de 191 à 315. Articles de : - Carl G. Hempel : Comments on Goodman's Ways of Worldmaking . - Israel Scheffler : The wonderful worlds of Goodman. - Nelson Goodman : On starmaking. - Herbert E. Hendry and James E. Roper : Anything confirms anything ? - C. Z. Elgin : Indeterminacy, underdetermination, and the anomalism of the mental. - Richard F. Kitchener : Genetic epistemology, normative epistemology and psychologism. - Martin Huntley : Propositions and the imperative. Bon exemplaire.





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Minerva é muito mais que uma marca de sabão em barra.