quarta-feira, 4 de abril de 2012

CASTROMÓVEL E OTIMISMO PASCOAL


PAPA BENTO XVI VISITA O POVO DE CUBA (março de 2012)

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SOLUÇÕES FILOSÓFICAS


Ainda em tempo de quaresma, vale lembrar que alguns filósofos vendem mal seu peixe. Dizem que na filosofia as perguntas são mais importantes que as respostas. A editora Brasiliense, desde os anos 80, acreditou nisso e lançou a bem sucedida coleção "Primeiros Passos". Cada título pergunta: o que é isso? O que é aquilo? Tipo, o que é teoria? O que é ética? Na França, obra similar se chamava "Que sei eu?" O primeiro a fazer essa pergunta, em tom malcriado, foi Caim, quando o Criador pergunta pelo irmão Abel.

Um dia, tomando chuva no ponto de ônibus, pensei: se o prezado colega Valls comprou um carro com as quinze primeiras edições de seu livro, porque não eu? E quase enviei uma proposta para a editora fundada pelo Monteiro Lobato: eu poderia escrever o volume "O que é pergunta?"

Crianças não acham graça nessa mania de perguntar por perguntar. Não vêem sentido nisso. E também detestam quando nos perguntam e nós não prestamos atenção: "Paiê, aquilo é o coração do porco? É o coração do porco?" (Resposta só veio vinte anos depois, graças a um VHS caseiro).

Pra variar, gostaria de mostrar que filósofo também apresenta respostas, soluções. E aqui me apóio  no grande filósofo brasileiro Leônidas Hegenberg: duas confirmações isoladas da mesma teoria, embora os dois autores tivessem algum contato profissional. De fato, em 1990, em evento dos positivistas de Curitiba, ele me disse que Habermas estava certo quanto a suas expectativas de validade - e para isso trouxe um argumento tipicamente positivista. Ou seria apenas "anti-refutacionista"? Ça vas! Deixa pra lá.

Vamos aos fatos brutos: um dia, mês passado, fui atender um aluno da filosofia. Ele levou seu notebook e... quando abriu o dito computer portátil, notei que usava um dispositivo semelhante ao que eu acabara de instalar em meu laptop. Cansado de brigar com o touch pad, aquele mouse de esfregar dedo, resolvi cobri-lo com um pedaço de isopor de bandeja de salame fatiado. Agora vejo que umas 6 ou 7 folhas de post it também conseguem isolar o calor dos dedos.

Não vamos registrar patente, pois somos os típicos filósofos que desprezam as fortunas fáceis. E também não me venham com aquele papo de que é possível desligar a tal placa de esfregar dedo. Não existe um botão pra isso. E as instruções se perdem na máquina e nas listas de discussão. Um saco. Colar um chumaço isolante foi mais rápido. Bonito não ficou. Mas beleza não vem ao caso. E o importante é nós afastarmos da mera perguntação sem fim.



E SE ACABAREM COM O MOUSE, DO JEITO QUE FIZERAM COM O MIMEÓGRAFO,
EIS A AMEAÇA: "EU VOU VOLTAR PRO QUEROSENE!"


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SEÇÃO GERAÇÃO VELHA INOVA

LANÇAMENTO OFICIAL DE

GODOFREDO BISCOITO, O OTIMISTA


(Pequena homenagem ao grande Millôr Fernandes, que não achava este o melhor dos mundos - e agora passou desta para a melhor, whatever it means for a genius like him)




domingo, 1 de abril de 2012

A EMPREGADA TEM EMPREGADA

Reviravoltas da falsa dialética:

Parada 1: Namorada dá na morada
Quem é que entende o ex-genro do Chico Buarque? Grande compositor o baiano Carlinhos paramentado de Bispo Brown, que canta a namorada. Novidade: a namorada tem namorada. Essa seria, segundo nosso mestre e guru Stein, uma boa circularidade. Pelo menos para os chegados na imaginação meio safada. Aê, demorô.
http://letras.terra.com.br/carlinhos-brown/44865/

Parada 2: Patroa vira empregada da doméstica
O dia que a classe operária for ao paraíso talvez não seja o dia em que a classe burguesa descerá aos infernos. Os pobres vão morar nas mansões do Bairro Lídice. E os ricos vão mofar em barracos de lona preta à beira da BR. Depois da revolução? Pode ser, pois as contingências desviam nossos projetos históricos: pode não ser, daí. Ademais, o problema está mal colocado: “pobre” e “rico” é papo de religião caridosa: nós somos a working class. Sea lo que sea, a mera inversão não é ainda a superação dialética coisa nenhuma. Mas tudo bem, já seria uma boa vingançazinha: ver as madames ralando. Eivada de preconceitos é a canção de sucesso de Eduardo Dusek, que virou filme e teatro e briga na feira: a bacana tem empregada, mas cai em desgraça e a madame acaba virando empregada de sua ex-doméstica, agora madame cheia dos querê.Vejam que não é fácil domesticar o capitalismo, essa instabilidade cheia de curvas e índices.


Parada 3: A empregada tem empregada
Surpresas da ascensão social no Brasil da era Lula-Dilma, sexta potência mundial, com IDH nanico. Notícia recente em Uberlândia, começo de 2012:
“(...) Com mais tempo livre e mais renda, algumas empregadas conseguem pagar outro trabalhador para cuidar das suas casas. G. B. trabalha de segunda a sexta-feira e para aproveitar o fim de semana, ela paga uma sobrinha R$ 60 para fazer a faxina semanal de sua casa. As sextas-feiras à noite, ela e a família vão para a chácara que possuem num dos loteamentos na Represa de Miranda, onde costumam passar o fim de semana. Para ir para o trabalho, ela deixa o carro na garagem e vai de ônibus para economizar.”

Parada 4: O avesso do avesso da profecia
Geringonças para a guerra e para a guerra do comércio

“Mundo velho tá perdido, já não endireita mais”. (Obrigado Tião Carreiro e Pardinho!) É que inverteram a profecia de Isaías.
“E ele julgará entre as nações, e repreenderá a muitos povos; e estes converterão as suas espadas em enxadões e as suas lanças em foices; uma nação não levantará espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerrear.” Isaías 2:4
Essas lagartas estavam predestinadas a ser taturanas

Na história recente, fizeram justamente o contrário: o trator agrícola foi transformado em tanque de guerra, conforme podemos ler no belo livro que conta a história da marca Caterpillar: “O Oficial britânico, frequentemente creditado como o pai do tanque, visitou Benjamin Holt em abril de 1918. Swinton disse que foi o trator do tipo com esteiras (lagartas) que inspirou sua idéia do tanque e ajudou a mudar o curso da guerra”. (All in a day’s work: seventy-five years of Caterpillar. Forbes Publish., 2000, p. 15 - essa marca surgiu da fusão da Holt com outra).
Parada 5. E eis que virão dias modestos
Esfregar roupa não mata ninguém

Em tempos bicudos, caberia uma nova onda de profecias, mais realistas, com base em uma escatologia mitigada. Maluco não falta por aí. Muito Odorico Paraguaçu vai ter seu dia de Beato Salu, já já. E não é que isturdia grande um prefeito gaúcho recomendou que todos estoquem mantimentos e erva (mate). Pois... o fim está próximo, meus irmãos. Devem os novos profetas sugerir coisas menores, tipo plataforma reformista. Coisas assim: “e eis que com as tábuas dos paletes que embalaram suas máquinas de caça-níqueis farão tanquinhos de lavar roupa suja em casa de senadores, etc.”

Seção Infantilidade filosófica
(agora sem gordura trans)

Três dilemas para colorir
e uma recompensa pra levar de lanche

Exemplos de dilema, para os inocentes que ainda não podem entender o que seja uma sinuca de bico. E para os dimenó que não estranham o impasse que se passou entre a mula e o mulo, a título de emulação:
Dilema 1: Para um míope, qual é sempre a coisa mais difícil de encontrar? (Resposta, sem virar de cabeça para baixo: Seus óculos.)
Dilema 2: Se eu faço café de manhã para ligar os neurônios amanhecidos, como posso coar café (para ligar neurônios) antes de tomar café?...Ou seja: ainda com os neurônios desligados?...E...como é que é mesmo? (Já chega, entendemos. E cuidado com o bule aí no fogão!)
Dilema 3: Um certo filósofo muito do organizado,  rigoroso pra dedéu, escreve na sua agenda, no dia 31 de dezembro de 1787: “comprar uma nova agenda”. Mas esqueceu-se de ler no dia certo. E agora, começa o ano de 1787 e ele está sem agenda nova e não pode começar a organizar nada, pois não tem agenda e é contra seus rigorosos princípios ler a agenda do ano anterior – pois até tem uma vaga noção de que anotou algo ali. E ele teria que ticar o item, dar baixa, etc. (A solução veio das sobrinhas do capitão Manoel, que enviaram de presente ao tio uma nova agenda, dessas de bolso. São muito práticas. Foi uma coincidência e veio a calhar, admitiu o velhote em tom categórico.)

Criança diz cada uma (que parece dez)
Durante décadas líamos a página dos Bloch, na revista Manchete: “Criança diz cada uma!” Depois cada um de nós começou a conferir em casa, com os filhos e sobrinhos, a inteligência desses queridos espertinhos. Eles cresceram, a garota-propaganda dos Bloch apareceu na capa da revista em 1988, aos quinze, de shortinho (eh!). Elas gostaram, as crianças. A revista faliu. A moça virou apresentadora de TV, etc. etc. Vê-la na revista foi uma recompensa para centenas de pirralhos que outrora diziam cada uma. E agora trazemos também aqui um agrado para os pequenos pensadores. A todos que nos ensinam na simplicidade e na ambigüidade das definições ostensivas, nosso presente:
 o banho da meia-noite.
Amigão do Chico Bento

O Erick já adotou (e o Bruninho não deveria ler isso aqui), desde os sete anos, e sua mãe Sandra ficou pê da vida com este filósofo do cerrado nem sempre chuvoso. As crianças adoram brincar na rua até tarde ou perder tempo com games. E era bom dormir fora de lugar, no banco de tábua lá na varanda da roça. Preguiça geral de tomar banho. Pois aqui vai a sugestão, registrada em cartório, com patente e tudo: criançada suada e cheia de macuco, quando for mais ou menos 23:58, entrem debaixo do chuveiro (e não vale levar guarda-chuva, como faz o Didi Mocó!) e fiquem ali cantando na chuva e lavando as voltinhas da orelha até... as 00:02. Em quatro minutos, vocês poupam água para salvar o planeta, poupam energia longe da hora de pico e... eis a grande vantagem: esse banho vale por dois dias. Pois na noite seguinte, quando alguém vier com aquele papo de vai tomar banho, vocês respondem cheios de razão que já tomaram banho. E aí, outro incômodo desses só 47 horas e 56 minutos depois.
Esse belo artifício politicamente correto acaba de receber o respaldo da comunidade científica internacional. Esta semana, duas notícias maravilhosas: higiene demais nos deixa doentes + comer pipoca faz-nos bem. Sem surpresas e sem muito sal. 
Sobre a vantagem de brincar na terra, vejam neste endereço e outros milhares:


Seção limpando gavetas
"Democracia e República"
Notas para a última aula de filosofia política: a diferença pode ser ilustrada como se segue.
A república proíbe a afixação de símbolos religiosos em prédios públicos. A democracia permite que todos exponham seus símbolos de crença e de descrença.
Alguns senadores andam pedindo uma “refundação” da república. A democracia é conquistada, aperfeiçoada, discutida em grupo. A república é fundada por alguém, quase sempre um militar, com um golpe. A democracia exerce a liberdade; a autoridade, a república a funda.
A democracia quer saber o nome dos torturadores, para que não se repita. E quer localizar os ossos dos jovens na selva do Araguaia. A república velha de Caxias, Tamandaré e Hercílio Luz matou Conselheiro, Muckers, Profetas, pobres famintos, cangaceiros, mulheres e crianças em todos os movimentos de oposição ou de autonomia.
A república tem armas, escudos, bandeiras e hinos: é a nação. A democracia argumenta, reivindica, protesta: é o povo.
A Alemanha teve um suspiro republicano em Weimar,de 1919 a 1933. A redemocratização do Brasil já passa dos trinta anos, com bons resultados.
Há muitos exemplos de pequenas e sossegadas democracias, ao passo que a gigantesca e autoritária China é uma República.
Na origem da república brasileira, predominavam os engenheiros; na democracia, os advogados tem metade das cadeiras.
A democracia declama, no chão da praça pública; a república proclama-se (de cima de uma cavalo).
A república insiste em soberania (acima da autonomia universitária, por exemplo), ao passo que a democracia é a luta por direitos.
A república desconfia da anarquia que se esconde na democracia – quer a ordem a ferro e fogo; a democracia fica atenta ao despotismo fardado da república dos Deodoros – prefere o progresso acertado no consenso.
E o teste é sempre este: onde queremos viver? Em que regime? Quanto nos custou chegar aonde chegamos? E tenhamos cuidado com as combinações desastrosas, tipo “democraduras” – longe de nós!
 Etc., inclusive um desacordo: democracia não deveria ser adjetivo, como em "República Democrática do Congo" - até porque o Zaire é que foi um grande democrata. E é. E alguém já viu a bandeira de uma "Democracia republicana"? Democracia é um valor substantivo: nós é que lhe damos sustança.

UFU: ocaso


(Ao procurar imagens no Goooogle para ilustrar essas confabulações, vejo título de um texto sobre os dois temas, de um filósofo midiático brasileiro. Não tinha lido e não vou conferir. Prefiro dar uma de Ludwig Desaforado Wittgenstein: "me é indiferente se outro se o que pensei já foi pensado por outrem antes de mim", no prólogo do TLPh.)