sábado, 11 de agosto de 2012

COMPRE UM CARRO E GANHE UM OVO



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Compre um carro novo e ganhe um lindo ovo de Páscoa!” Essa foi a chamada de uma campanha de vendas, citada como exemplo do comportamento inexplicável do mercado e do consumidor. Não há proporção entre a mercadoria e o brinde. Mas, e daí? Funcionou.
Um aluno de filosofia, que trabalhava como publicitário, contou-nos isso numa aula. Ele queria deixar o ramo dos anúncios, há uns quinze anos. Creio que ele seria capaz até de lançar a campanha: "Compre um ovo de páscoa e ganhe um carro". Pensando bem: um ovo de dez quilos de bom chocolate - amargo, 85% - já compra um fusca meia-oito - 30 hp, fumando. 

FILOSOFIA POLÍTICA EM BOAS MÃOS

Você já leu textos de filosofia da ciência? De Rubem Alves a Ernst Nagel,  passando por Claude Bernard, por exemplo? O que nos intriga é o perfil desses pensadores. Parece-nos que o ideal seria um cara que fosse ao mesmo tempo filósofo & cientista. Rubão não era e saiu da pequena área. Claude veio filosofar, por problemas de saúde. Não é à toa que alguns autores de sucesso nesse campo misto tiveram uma vida anfíbia, entre o laboratório borbulhante e a silenciosa reflexão na cadeira de balanço.
Teríamos uma combinação assim no caso da filosofia política? Quantos filósofos foram políticos? Quantos políticos filosofaram? E, dentre eles, quantos se dispuseram a escrever sobre filosofiapolítica? Claro que Hobbes e Maquiavel foram engajados e contratados para tarefas específicas. Francis Bacon foi um Romeu Tuma. Mas hoje, como fica?
E um ovo de páscoa pode ser uma urna recorrente: ao abrir, surpresa!

DOIS PERFIS ADEQUADOS: A.W. K. e Doutor Z.
Reencontrei anteontem, ali na Belarmino, o ex-aluno da filosofia que voltou para a publicidade. É que ainda não ganhou na loto, disse ele, palitando os dentes. Ganha dinheiro na produção de propaganda política. Breve em nossas telinhas, e de graça para os eleitores.
Isso fazia parte do perfil do aluno: não tinha medo de computadores, internet, filósofos midiáticos. Antes de fazer o curso, já debatia com o jovem filósofo Desidério Murcho, de Portugal. E ajudou a criar um grito de guerra para sua turma, a primeira da UFU a se formar em filosofia.
Esse aluno, A. W. K., descobriu uma polêmica que se tornou um pesadelo para muitos editores de periódicos acadêmicos. E eu era um desses. Relia todos os manuscritos aprovados. Um sujeito compôs um artigo de araque, fake, e enviou a uma revista de ciências humanas, que mordeu a isca. Publicaram uma paródia. O título fantasioso deveria ter despertado a atenção dos editores, pois continha termos um tanto adversos como hermenêutica, física quântica, transcendental, sei lá. Alan Sokal, me parece, é o nome do cara que armou essa pegadinha. E depois curtiu, ao desbancar os critérios frouxos das já difamadas ciências humanas. O golpe rendeu.
Hermenêutica. Pois bem, olha a ironia da coisa, sem revanche. Esse mesmo aluno escreveu uma resenha de um livro de Ernildo Stein, sobre hermenêutica. Era tarefa escolar. Considerei publicável o trabalho dele, que foi enviado a uma revista muito respeitada. Publicaram, e não houve susto depois. Driblamos, sem golpe algum, os impedimentos que iam se tornando praxe, para excluir autores sem doutorado. Um graduando publicou, de boa, pois a resenha tinha qualidade, enfim.
E não é por acaso que um ovo de Páscoa vem acompanhado de um cartão com...
VOTOS
greetings
auguri

Agora penso que esse filósofo contemporâneo e descolado (sem o peso de certas ideologias e batalhas que minha geração mantém ou arrasta) tem uma boa oportunidade de entender a política, de refletir sobre os mecanismos que convencem o eleitor a dar seu voto a um dos 650 candidatos a vereador na cidade, a grande Udi. Mas não precisamos repetir o vício do ofício, que é esperar uma tese paquidérmica. Não, a história do carro com ovo de páscoa já formata um comentário: assimetrias na política também são curiosas, no mundo das trocas nunca justas. Quem promete mais? O candidato ou o eleitor? Eleições dão o que falar e pensar, mas o aluno não ia gastar muito papel com retrospectivas e fundamentações complicadas. Rir também vale e ele é bem-humorado.
UM GRITO DE GUERRA
O aluno de filosofia, hoje com diploma e de volta para uma agência de publicidade, certamente ajudou a criar o grito de guerra de sua turma. O grito já apareceu neste blog, mas ainda não foi devidamente contada a historinha da origem do bordão. No dia da formatura, no três, todos os cinco ou seis gritaram “e a Nicarágua?”
O EX-PREFEITO QUE É UM LEGÍTIMO DOUTOR-FILÓSOFO
Só mais um minutinho, para apresentar outra figura respeitada por este blogueiro e por milhares de mineiros: o Dr. Zaire, hoje com status de guru, figura rara na centro-esquerda brasileira, merecedor do título de  “carismático”. Médico, sereno, modesto. Depois de ser prefeito de Uberlândia por duas vezes, matriculou-se no curso de filosofia da Católica. Já tive a honra de vê-lo no meio da platéia em umas três ocasiões em que participei de mesas-redondas lá e na UFU. E ele esteve em nosso evento sobre Rousseau, em junho último.
Portanto, eis dois bons perfis para a filosofia política: A. W. K., que vem da publicidade para a filosofia e volta-se para a propaganda política, e Dr. Zaire, que vem da experiência na política para a filosofia acadêmica. Os demais saem em desvantagem. Inclusive este blogueiro verde.

E para os filósofos da velha guarda, que curtem SÍNTESES:

um Fusca de chocolate.

Eleito como nossa imagem final.

2 comentários:

@kntz disse...

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Mas e a Nicarágua?

Rafael Cordeiro disse...

Muito bom caro Bento!!! E saudações ao A. W. K., meu "vizinho", com quem tive interessantes discussões.