quarta-feira, 25 de julho de 2012

E como íamos dizendo...

Prestes a completar cem posts, este blog ainda comete o erro técnico básico de digitar o texto diretamente neste dispositivo, em vez de começa pelo velho e bom Word. De bobeira, perdeu-se metade do texto. Não era pra ser seriado. Sério. Vamos tentar emendar a conversa aqui e, de repente, dar alguma direção que interesse a alguma filosofia impura.
NÃO TROCAMOS MENINAS 15 ANOS

Quem pensaria em trocar meninas de quinze anos? Algum menino de cinco, talvez. Mas os demais, em sã consciência, geralmente não vêem defeito nelas, que desabrocham, no auge de candidatas a vestais. Em diversas sociedades e culturas, é inadmissível considerar pessoas como mercadorias. Nada de trocas, portanto.
E cabe ressaltar, misturando essas vitrines de lamber com a testa, que não será tampouco permitido trocar noivos por meninas debutantes. Olha o babado, o capricho. Adolescentes dão um trabalho enorme. O confeiteiro levou mais tempo. E já não curtimos mais os sambinhas machistas de outrora, tipo “tenho uma mulher de trinta”. Cuidado com as femen! Elas vem com dois trinta... e oito.

O engenheiro mecânico Luis, também chamado Ludovico, foi cruel com os filósofos profissionais, ao dizer que eles não entendem de gramática. O homem comum lá na rua entende conversas que o filósofo não domina; um jogo que ele não sabe jogar. Por exemplo, esta placa.

Primeiro o contexto, então – base da pragmática. Muitas vezes, basta o contexto do discurso mesmo. O síndico, o zelador e o pintor gostaram dela. E funciona, sobretudo para livrar o condomínio de responsabilidades, caso alguém quebre um dente de leite ali. Mas o chato do filósofo não-analítico, com queda pela metafísica e pela especulação, gostaria logo de botar defeito na mensagem e cair em prosas sobre sentido e significado. Uma saída seria reduzir a placa à palavra cuidado!   - ou a um símbolo,
 já que algumas crianças não sabem ler. A pragmática hoje, inclusive através de diversas teorias da comunicação, dedica-se a exercícios de decodificação, que visam listar todas as mensagens contidas em uma frase polissêmica, muitas vezes deliberadamente montadas para a confusão. O contexto trará critérios desambigüizadores.

Vamos tentar aqui tal exercício, indo até certo ponto, de desmembrar a frase imperativa (ou sugestiva?) “Srs. pais, cuidem de seus filhos!”, que inclui as mensagens:
Sr. pai, cuide de seu filho
Sr. pai, cuide de sua filha
Sr. pai, cuide de seu filho e de sua filha
Sr. pai, cuide de  seus filhos (eles) e de sua filha
Sr. pai, cuide de suas filhas e de seu filho
Sr. pai, cuide de seus filhos (eles) e de suas filhas

Sra. mãe, cuide de seu filho
Sra. mãe, cuide de sua filha
Sra. mãe, cuide de seu filho e de sua filha
Sra. mãe, cuide de  seus filhos (eles) e de sua filha
Sra. mãe, cuide de suas filhas e de seu filho
Sra. mãe, cuide de seus filhos (eles) e de suas filhas

Sr. pai & Sra. Mãe (parents, um casal), cuidem de seu filho
Sr. pai & Sra. Mãe (parents, um casal), cuidem de sua filha
Sr. pai & Sra. Mãe (parents, um casal), cuidem de seu filho e de sua filha
Sr. pai & Sra. Mãe (parents, um casal), cuidem  de  seus filhos (eles) e de sua filha
Sr. pai & Sra. Mãe (parents, um casal), cuidem de suas filhas e de seu filho
Sr. pai & Sra. Mãe (parents, um casal), cuidem de seus filhos (eles) e de suas filhas

Srs. pais (fathers, pai+pai, eles, 2 ou +, todos), cuidem de seu filho
Srs. pais (fathers, pai+pai, eles, 2 ou +, todos), cuidem de sua filha
Srs. pais (fathers, pai+pai, eles, 2 ou +, todos), cuidem de seu filho e de sua filha
Srs. pais (fathers, pai+pai, eles, 2 ou +, todos), cuidem  de  seus filhos (eles) e de sua filha
Srs. pais (fathers, pai+pai, eles, 2 ou +, todos), cuidem de suas filhas e de seu filho
Srs. pais (fathers, pai+pai, eles, 2 ou +, todos), cuidem de seus filhos (eles) e de suas filhas

... e ainda:
Sras. mães (todas elas, que cabem no genérico masculino português) vezes 6 composições familiares

Srs. pais (uma mãe & vários pais, dois ou mais – até todas) ) vezes 6 composições familiares

Srs. pais (um pai & várias mães, duas ou mais – até todas) ) vezes 6 composições familiares

Srs. pais (todos os pais & todas a mães) ) vezes 6 composições familiares... etc.
E, claro, o etc.
Só podemos interromper uma lista dessa natureza, com um oportuno “e o resto”.
O contexto. Ah! bem lembrado.

E para que serve isso? Por exemplo, para a propaganda. E a coisa se complica e se estende, quando o veículo da peça publicitária inclui imagens, na revista, na TV. E dá-lhe semiótica, então. Pois imagens conversam e há coincidências geniais ou infelizes, etc.
E, por falar em relevância...

E onde fica a filosofia nisso? Primeira resposta: há um bom livro de semiótica e pragmática sobre isso: Pragmática e cognição: a textualidade pela relevância( Edipucrs, 2002), escrito por Jane SILVEIRA e Heloisa FELTES. Elas seguem uma teoria de Dan SPERBER e D. WILSON. Estes, por sua vez, talvez sigam a semântica de Grice ou de Greimas. Conferir. Pois há várias semânticas. Por fim, para quem queira saber, será possível encontrar algum filósofo ainda mais recuado, nesses bastidores. Até esbarrar na Unhintergehbarkeit.

Segunda resposta, que é um exemplo recente de “aproveitamento” de teorias alheias combinadas. Habermas enveredou até um certo ponto nas pesquisas das ditas ciências da linguagem. Cortou caminho e seguiu de Austin e Searle para Wunderlich, interessado em dêiticos (eu, aqui, agora...) e classificação de verbos. Quando se cansou dos performativos e já tinha o que queria para fundar uma teoria social, suspirou, tomou um café e disse: “vamos voltar à reflexão”.

Habermas foi longe com esses materiais: até a defesa de uma certa teoria discursiva do Estado e da Democracia. Mas, se você procurar o seguidor de Searle, vai ver – como eu vi em GT Anpof  - que ele continua na sua paciente tarefa empírica sem fim de... classificar verbos. Sim, pois novos verbos surgem e novas formas de vida que levam a novos modos e aspectos, etc.

Pois bem. Os lugareños entendem a resposta “o moço não passou”, embora nem todos queiram pagar por um guaraná sem açúcar. Os pescadores ali não entendem muito bem a conversa do turista. E nem sempre convém que se entendam. Podem lucrar com o mal-entendido e vender um guia, por exemplo, um folheto. Ora, o estudioso da pragmática é quem vai mais longe ao se dedicar a analisar demoradamente todas as frases e sub-frases ditas, insinuadas e escondidas nas entrelinhas. O pesquisador deve entender não só de gramática e de lógica, como esperavam e pregavam antigos filósofos. Agora, o estudioso desses fenômenos da comunicação deve saber e considerar que “o moço passa”. Qual moço? Com que freqüência? O que ele faz? Ele traz novos estoques de refrigerantes ou bebe tudo que aparece ali no bar da praia?

Ora, um “homem comum lá no parque infantil”, mesmo que não seja pai ou, sendo pai, esteja longe de seus filhos marmanjos, não deixará de cuidar (seja lá o que isso signifique) de freqüentadores do playground, de usuários do escorregador, caso aconteça algo digno de sua intervenção para prevenir um acidente. Esse homem comum, que substituiu na filosofia analítica inglesa o kantiano sujeito transcendental, tem lá seus traços ideais também: ele é adulto, em pleno gozo de suas faculdades mentais, sabe ler aquela placa escrita naquela língua, e, enfim, não é um filósofo complicado, que se enrola na gramática... Pois se alguém disser “fogo”, saia correndo ou... empreste o isqueiro, a depender do contexto.


Para encerrar, um grande achado, com uma curta sugestão de análise. E umas imagens com legendas misteriosas, que cairão na classe “batom na cueca”, ou seja, do inexplicável. Bobagem; tem explicação, mas temos que fazer onda e fingir que não. Pois também prezamos e jogamos os joguinhos da pura curtição.

Derrida ia gostar dessa, mas eu vi primeiro.
O x anula ch e vale como x.


O xis da questão: xis vale ou xis anula?

“Na Gramatologia, esse fora e dentro é riscado com um X, a fim de acentuar pela tipografia (escrevendo...) a artificialidade dessa membrana que separa o próprio (dentro) e o impróprio (fora), essa estrutura em que dentro e fora não são apenas separados por uma linha ou fronteira, mas o espaço interno é marcado pelo seu fora, sendo a rigor inviável essa separação (2001, p. 53). (...) Sua existência, contudo, apresenta-se pela impossibilidade da constituição da identidade sem exterioridade, etc.”

No livro Do Espírito, Derrida entendeu o uso de aspas como se fossem pinças ou prendedores de roupa no varal, prontos para retirar do texto um termo suspeito como “espírito”, que depois, no discurso de Heidegger, evoluirá para um simples espírito, sem destaque gráfico, e, por fim, depois de 33, ganhará destaque em itálico ou negrito, com fanfarra e fogos de artifício: Espírito.
O termo está e não está, para coisas que são e não são (ou que apenas não são... aceitas por todos). Metafísica? Derrida também compôs uma frase autodestrutiva em um de seus 52 aforismos para um prefácio; um deles é “isto não é um aforismo”.

Por fim as misteriosas afinidades eletivas garimpadas na net por meus queridos filhotes, os rebentos 


Sofá Bento

Chega de lutar por uma marmita!



 




Tem base?


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