sexta-feira, 1 de março de 2013

Jacques Tati não é Jeca Tatu


Certa vez, em Taubaté ou adjacências, algum engraçadinho colocou um livro do Filósofo do Cerrado no escaninho do Mazzaropi. O ator botinudo não entendeu a piada e deixou o volume impresso em lugar visível para que o verdadeiro destinatário tomasse conta. Não havia bilhete no livro, com dedicatória ou um recado do tipo “para o mestre das presepadas, com carinho” (ou sem, que sai mais barato). E nem enviaram uma mensagem eletrônica ao dito cujo das calças de pular de brejo. Dias depois, o livro teimou em voltar para o escaninho do Mazza, que, por acaso, levou uma prosa com uma funcionária pública, que disse que fulano pensou que o livro sobre filosofia da linguagem era a cara do cara. E o livro voltou para a tampa do móvel em MDF, so as to say: take me home, my dearest and proper owner...
Imagem protegida contra pedras e vidraças

Ao contrário do Rei Roberto roendo as cordas da indústria cultural, eu não sou o cara. O cara é o caralho! Como dizia e repetia a Zazie, no livro de Queneau – leia-se Kenô – pra rimar com metrô. E isso é só pra dar uma prova do que anda lendo este sujeito meio pê da vida e, no mais, nem aí (doesn't give a damn).
Primeiro, muss man sagen: o Filósofo do Cerrado é o Severino, aliás, Soren... Kierkegaard. Pra quem matou a primeira aula, el filósofo danés es el tipo aldeão da Jutlândia. Confiram. E também um urbanóide, um dândi muito folgado e levemente don juanito.
Segundo: o autor deste blog é filósofo e é católico, mas não é nenhum “filósofo católico”...
Terceiro: o autor deste blog é democrata e é Cristão, mas não é nenhum “democrata-cristão”.
Quarto, com exclamação ao final: o autor deste blog nasceu no interior de Minas Gerais e admira João Rosa, Tio Tuca e Seu Dindico, mas... não é um “filósofo caipira”! Confiram no lattes. Se alguém encontrar alguma anedota tipo "Saarland" ou "Nova Bréscia", podem assar no dedo.

Quinto e sexto e... vai por aí.
Os filmes de Mazzaropi são chatos. Não dá pra ver, sem pensar, à moda do dilema dos biscoitos (fresquinhos&bestsellers): será que os Trapalhões eram mais engraçados quando eu era menino ou... nosso padrão estético era mais rasteiro? Tomou, psit!
O Jeca do Mazzaropi sempre se dá mal na cidade e... volta pra roça.
Oras bolas! Não há mais roça pra onde voltássemos. E uns tem um pé na roça, ao passo que outros tantos tem os quatro na cidade, muss man sagen.
E a “Marvada carne”? So what?
Ah! Now you are talking, baby! Um filme precioso, obra de gênio (não fosse um trabalho coletivo e demorado – na “carreira do Divino”...) A Weltanschauung caipira é aí tratada com poesia e graça (não deboche) e tem a postura política correta e verdadeira, pois Nhô Quim não volta para a roça; os migrantes, expulsos da terra, vão para a periferia da grande cidade e lá reinventam a sociabilidade, tipo os “parceiros do rio bonito”, sem afetação acadêmica. E armam churrasco na lage, feito o tributo a Hans Staden na Dokumenta de Kassel, em 2007. Releitura, com funk.
Pra quem não viu ou não entendeu ou nivelou com a palhaçada simplória, resta o refrão: “ah!... é... me passou...”
Mazzaropi é o caralho!

Por fim, ou quase, vale alertar que diferentemente do que cantou Gil próximo da antítese de sua incrível “refazenda”, Jeca Total não é o Jeca Tatu; para nosso bom gosto, genial é também o Jacques Tati. E podem, nesse caso, me chamar de “Meu tio”. Obra para ser revista, com trilha sonora e crítica ideológica. O tio é meio jeca, mas azarou o vernissage da casa modernista. Isso é o que há, contra a sonoridade maquinizada da vida moderna, que perde para a infância perdida e folgazã de crianças levadas e tios arredios ao capitalismo enquadrado, etc.

Se era presente, ok. Agradecido, com toda a cortesia. Merci.
Se foi provocação, agüentem o troco.
Agora, atenção ao garimpo! Se alguém encontrar por aí, em sebos ou gavetas, pago o preço razoável por obras como estas: Der letzte Befehl, dirigido por Sternberg (Alemanha, 1927) ou o surpreendente filme de Dziga Vertov, “O homem com a câmera”, de... 1929. O resto é a decadência do cinema. Not mine.


Não acabem com meu Simca Chambord, bitte...

2 comentários:

Maíra Selva disse...

nix verstanden...

comprar curtidas disse...

Muito bom o blog, adorei. Muito interessante!!