sábado, 17 de setembro de 2011

QUEM É O SEM-CABEÇA AQUI?


Não é lá um legítimo problema metafísico, mas muitos se divertem com essa lista de cenas e coisas que ninguém viu: enterro de anão, orelha de freira, cabeça de bacalhau. Chico Anysio já escreveu sobre o primeiro e vamos deixar o convento fora disso. Sobrou-nos, então, o Kabeljau.

Mas hoje, sem-cabeça é o consumidor que compra bacalhau (em latim: Gadus mohrua). O infeliz do peixe, salgado ou congelado, cruza meio mundo para chegar até nosso prato de quaresma.

Da Noruega, não vem direto para Santos ou Vitória. Vai antes ser embalado a vácuo na China. Bacalhau made in China, ou seja, na RPC - República Popular da China.

Muito antes disso, na velha Alemanha, em 1817, o novato professor Hegel preparou seu primeiro curso. Objetivos da disciplina: dar uma força para a essa novidade, a História da Filosofia. Enfim, o mestre queria vender seu peixe, armar seu esquema.


É verdade que o tempo amarela nossas fotos

e a capa de livros antigos


mas sucede também que a história revela a cada dia os equívocos deles e nossos. Hegel errou feio ao afirmar nesse curso que virou livro: “É possível que em determinada nação se dê uma pausa, na cultura, na arte, na ciência, nas capacidades intelectuais em geral. Parece ter sido o que sucedeu com os chineses que, vai para dois mil anos, teriam estacionado no atual grau de desenvolvimento.” (p. 39 da edição de 1961, Armenio Amado Editor, Coimbra).
Sem revanchismo, nem piadinhas contra os teutos, a ironia da história (essa sim!) é que hoje, em 2011, a China pode comprar os países europeus em crise. Mas isso sempre mudar. Ou não.

Bem, poderão os hegeliões replicar que o genial Hegel diagnosticou corretamente o status dos chinos até então. O problema maior permanece: sua equivocada filosofia da história – programa besta para o adiante de um nacionalismo colonialista, como outras vertentes dessa estranha mistura mistificadora.
Decerto este blog e esta tecnologia digital sem território vão passar. Nossas palavras vãs passarão, sim senhores, assim como o cinema. E aí Wim Wenders completou: mas esse velho cedro no caminho do aeroporto até Cannes, essa bela árvore – “tanto mais bela quanto mais antiga” – permanecerá aí mesmo depois que o cinema acabar de morrer. (Well, em Uberlândia, nao aposte nisso: da noite para o dia vem o homem da moto-serra e...)

Mas há decerto outras caras desse professor Hegel, umas ainda por descobrir. Não só de corujas noturnas vive a seita hegeliana. Além do galo da madrugada de Cirne-Lima, o próprio Hegel, ele mesmo, teria usado uma imagem muito mais radical de filosofar às cegas, de romper pelo subsolo, numa escavação bruta, que vai solpando o terreno. Enfim, a toupeira em lugar da coruja. 
Até reaparecer aquela frase de sintaxe cambeta, vamo nos contentar com esse baita tatu canastra, extinto no cerrado sem nenhuma consideração ou Aufhebung . Mas que fique a lição do blogueiro canastrão, em tempos de paca, cutia, tatu não mais: na dúvida, hibernar.


PS1: Acredite. Essa coincidência ficou bem aí na foto triste - "ago", de agosto e de passado, para um pobre tatu que, em 1995, já estava empalhadinho da silva no museu de Machado, Minas Gerais.

PS2: Créditos. As imagens da coruja, do mapa e do barco vieram do dicionário Delta Larousse, 1913.
A primeira imagem é de desenho de moradores antigos do Brasil, MAX - Museu de Antropologia de Xingó, Sergipe. Só o "made in China" vem da net, pois o restante é caseiro e inédito.

4 comentários:

Anselmo Coyote disse...

Uai..., mas esse blog é uma finura, uma formusura. Inté vô comentar isso com o cumpadi Rúbis.

Anselmo Coyote disse...

Ô de casa!!!!

Bento Borges disse...

Nem fogo, nem brasa!
Prezadíssimo Coyote, além de responder assim na rima, que nem brincadeira de menino isturdia grande, recordo e aplico o grito de Dona Rosa, na pensão do Jalapão, TO - "rudêia!" - e com isso agradeço a ilustre visita. Então e aliás, como diria o pampeano, "se aprochegue, vivente!Se abanque, no más".
Grato. Valeu. Faz sempre assim.
Nhô Bentoborges

Anselmo Coyote disse...

Apois, é assim qui eu apriceio, mas num me ispanta não, sinhô. O cumpadi Rubis teceu uma mezinha miúda mais copiosa de qui nesses domínio a hospitalidade um brinco.
Adispeço muito emocionado.
Abrass.