Uma camiseta que sintetiza o projeto apresentado no post anterior.
Claro que esse Russell - que não é piloto de Fórmula Um - não é nada bonito para ser estampado numa T shirt...
Mas este não é um curso de estética e o tema é nicotina.
Uma camiseta que sintetiza o projeto apresentado no post anterior.
Claro que esse Russell - que não é piloto de Fórmula Um - não é nada bonito para ser estampado numa T shirt...
Mas este não é um curso de estética e o tema é nicotina.
ANTEPROJETO
NON-ANTITABAGISTA
NEM TAMPOUCO APOLOGÉTICO
DESSE VÍCIO ALIADO DE PENSADORES
GERALMENTE CHEGADOS NUM CAFÉ FORTE
E NUM VINHO TINTO SECO
Na imagem acima, metade da direita
(e prestem atenção nessa posição ideológica):
eis o filósofo John em todos os tons de Gray.
Ao lado dele, a capa de um livro recente saiu aqui recortada de maneira infeliz.
Mas que não venha a galera da bioética, pois não fui eu nem o paintbrush.
No restante da arte para a capa do livro não muito CATólico,
estava o referido animal sentado sobre a ponta de seu próprio rabo
- em uma referência clara à tão explorada escultura de Rodin.
Mas o pensador aqui aproveita a deixa:
autores ingleses são do tipo "enrola o rabo e senta em cima"
Ainda não sei quais vou digitar primeiro, em que ordem, sob qual critério. Por enquanto, apenas a listagem.
CARTAS –
BRIEFEWECHSEL von und an Herr Borges
6 5 1982 Bento a Valério Rohden (datilog, copia, 1 f. pede
trancamento de matricula)
12 1 1984 Marisa Cherubini (datilografado, com PS. Musse
disse que não entendia letra dela – sobre minha nota em exame de língua
estrangeira e noticia de Stein e outros)
23 5 1984 Regina (Weber?) Colantoni (?), datilografado, com
noticias da Pedagogia, UFU
14 6 1984 Marisa Cherubini, secretaria da pós UFRGS, Porto
Alegre (manuscrito, uma folha, sobre vinda de Prof. Antonio Marques, Critica do
juízo, Coimbra)
15 3 1985 Marisa Cherubini (manuscrito, sobre bolsa e
formulário enviado)
26 3 1985 Bento a Danilo Marcondes (datilografado, Xerox, 1
f, sbore minha dissertação e pedido de bibliografia)
31 3 1985 Danilo Marcondes a Bento, RJ,( em resposta a carta
minha do dia 26, manuscrito, 2 folhas; sobre artigos, bibliografia, Habermas,
evento no Rio)
19 8 1986 Micheloto a Bento e Frau, Sampa, ( manuscrito,
duas folhas, assuntos familiares, pergunta por tio Bagageiro)
16 3 1987 Bento a Barbara Freitag (datilogr, 2 f., sobre
planos de doutorado)
10 10 1987, RJ, Flavio Beno Siebeneichler; manuscr, 1 folha,
informa que recebeu e leu minha dissertação de MS e sugere que continue tema em
DR e pede artigo para numero especial da Revista Filosofica Brasileira, nº
especial sobre Habermas.
26 11 1987 Bento a Flavio Beno Siebeneichler, sobre artigo
encaminhado on Habermas e uma cantada para doutorado meu no RJ, 89...
26 11 1987 Bento a Alvaro Valls ( datilograf, 1 f., sobre
nossa revista Edufilo, enviei exemplar e pedi artigo)
25 1 1989 Bento a Rejane Carrion (datilogr, copia, sobre
temas de curso com ela e artigo e resenha que eu publicaria; Faria; uma cantada pra ela enviar resenha p
nossa revista)
26 1 1989 Bento a Stein (datilogr, copia, uma pag; sobre
exemplar que encaminhava de minha trad do Geuss, mais planos para doutorado e
saudades do ambiente acad Ufrgs)
10 9 1989 Bento a Olinto Pegoraro, UFRJ, from Udi (datilogr,
sobre minha particip no evento preparatório da vinda de Habermas)
10 9 1989 Bento a Sergio Pinto/ Cefla (datilogr 1 f, sobre
Nucla)
13 10 1989 Bento a Arthur Virmond de L Neto, positivista de
Curitiba ( datilogr, 1 f, sobre minha aceitação de convite deles para evento em
90)
6 9 1990 Bento a Maria Cecilia (datilogr, 1 f, sobre minha
resenha de livro dela e sugiro nomes de Valls e Rubens RN para coletânea sobre
ética q ela ia organizar)
21 9 1990, Aachen, Raul FB a Bento; carta datilogr timbr 1
folha, (sobre planos meus de DR, recomenda CCYdel, do Zea, com endereço)
12 10 1990 Bento a D. Pfeiffer (carta datilogr, cópia; 3
folhas; sobre Dr na Alemanha)
28 10 1990 [a data da carta é 99, mas pelo assunto deve
estar errada] Dietmar Pfeiffer a Bento (datilogr em papel timbrado Uni Münster,
1 folha; sobre meus planos de DR.)
30 10 1990, Udi, Bento a Leopoldo Zea, carta datilogr, em
español, 4 folhas,( sobre plano de DR no Mexico em tempos de Nucla)
7 11 1990, Udi, Bento a Raul FB; datil 1 folha (sobre planos
de DR no Mexico, cita carta enviada a Zea)
16 11 1990, Aachen, Raul FB a Bento, datilogr, 1 folha
(sobre convite a ele pra vir a UFU, aceita... para 91 – nunca veio, por falta
de agilidade da UFU – a não ser que tenha vindo quando estive fora)
16 11 1990, Aachen, Raul FB a Leopoldo Zea, carta Kopie, 1
folha, timbrada, Missionswiss..., (carta de apresentação de Bento a Zea)
20 11 1990 Bento a D. Pfeiffer (carta datilogr., 5 folhas;
sobre planos de Dr)
27 11 1990 Bento a Zea, Leopoldo, México (carta curta,
datilogr; sobre fax enviado, cobra resposta sobre Dr – nunca veio...)
28 11 1990, do Cela, Münster Uni, folha longa contínua,
ilegível, apagada, responde fax de 20 11
1990 sobre planos de Dr, cita um tal prof. Eikelpash...
11 12 1990 Diretor do Lateinamerika Zentrum, Münster a Bento
(fax, sobre contato com Prof. Pfeiffer e ... ajeitando um lugar pra meu Dr na
Alemanha ...)
1 8 1991 Bento a Osvaldo Freitas de Jesus (datilogr, cópia,
6 páginas, longa analise de nossas
relações intelectuais, em torno de... Heidegger inclusive, incl. Ao evitá-lo)
23 4 1992 Bento a Fatima Santos, Poa (datilografada, sobre
artigos da Revista Educaçao e filosofia, em que ela trabalhava)
6 5 1992, de Renato Oliva para Bento, manuscr, 5 fohas
pequenas, sobre planos acadêmicos, inclusive Kant e Freud, pede que eu envie
textos de Levinas
3 6 1992 Bento a Valério Rohden (datilografado, copia em
carbono, sobre plano de estudos na Alemanha, carta de recomendação dele,
agradecimentos)
23 7 1992; de Bento pra Flickinger; 5 paginas, datilogr,
sobre disciplina on Hermeneutik que fizemos na UFRGs, naquele ano ou no
anterior.
21 9 1993 Bombassaro a Bento, de Freiburg (postal antigo,
com noticias de seu Dr e novo end, q é o mesmo de hans haufe..)
14 12 1994 (?) Hohenbostel, Dona Buchholz para Bento e
família; carta familiar com imagem de Natal
29 12 1995 Bento a Türcke, Udi (impresso, 1 f, sobre caps da
tese, prontos e por fazer)
24 7 1997 Raul Fornet-Betancourt a Bento (manuscr, 1 f.; em
alemao, sobre resenhas minhas e pavonices dele)
9 10 1997, Alvaro Valls para Bento, email curto, sobre minha
impossível defesa de Dr na Ufrgs, conforme conversa dele com Stein
15 10 1998, Raanan Rein, Tel Aviv University, para Bento;
datilogr, 1 folha, sobre minha intenção de publicar em revista deles
26 11 1998, de Bento para Valerio Rohden; digit, duas
folhas; apresento departamento da UFU e convido para escrever na revista
eDufilo e para conferencia na Ufu
3 12 1998; de Bento pra Leonardo Vieira; uma folha, digit,
convido-o para evento na filosofia UFU
16 12 1998, de Valério Rohden para Bento, email curto, em
que concorda vir a UFU e dar uma entrevista pública, com perguntas previamente
lidas, etc. (anexo com perguntas preparadas pelo Prof. Marcos Seneda)
17 5 1999 Ricardo Navia a Bento, Porto Alegre, (manuscrito;
assunto: artigos)
18 11 1999; de Bento a Valerio Rohden; uma folha manuscr,
com assunto acadêmico e familiar (agradeço visita dele a UFU, refiro-me ao
Panga e a nova casa nossa, em construção)
26 11 1999 Rodrigo Duarte a Bento (email curto, com endereço
de Martin Jay – cessão de copyright de texto traduzido - e agendando conversa
nossa sobre minha tese DR)
8 5 2000, Rodrigo Duarte para Bento, email curto sobre
curriculum lattes e greve na UFMG
14 6 2000, De Marcia Castro, Defil, para Norma, secretaria
da UFMG; confirmando data de qualificação de meu DR, em 15 de junho, 2000
(problemas com a comunicação desde entonces...)
5 7 2000 Muna a Bento, Udi, (Shirley Paes Leme, digitada,
confirma minha participação em evento com minha conferência “Pato Donald e Mickey Mouse na filosofia”)
24 8 2000, Udi, de Ricardo Micheloto para Bento, 1 folha manuscr;
sobre evento em Ituiutaba: provavelmente concurso de contos... Sueco seria ele,
pseudônimo?
18 9 2000; Micheloto a Bento, manuscr, 1 folha, sobre Livro
do Vilela e concurso de contos
25 10 2000, Rodrigo Duarte para Bento, email curto, comenta
defesa do DR – ocorridaduas semanas antes - e circunstancias raras
19 11 2000, Sofia Stein a Bento, manuscr, meia pagina, um
gentil bilhete , de passagem por Udi, Catolica
21 5 2002, Valerio Rohden para Bento, manuscr, 1 folha peq,
sobre atestado que me enviou e sobre meu artigo que ele ia deixar na revista da
Ulbra (foi publicado)
23 5 2003, Jayme paviani para Bento, email curto, sobre meu
livro do pós-doc, que ele viria a publicar
5 6 2003 Vani Rezende a Bento (email curto, sobre planos
dela, bolsa, projeto e meu tempo perdido com trad de Adorno, Satars down on
earth)
4 9 2003; Michleto a Bento, datilogr, meia pag., sobre
contos e tormentos do tempo e da forma
25 9 2003; Edmilson a Bento; email curto, sobre projeto dele
de livro pra homenagear Stein, aos 70 [enviei minha contribuição, talvez sobre
melancolia, mas nunca soube noticia...]
8 10 2003 Rodrigo Duarte a Bento, email curto (convite pra
banca de Romero)
1 11 2004 Joao Carlos Brum Torres a Bento (email curto sobre
meus convites a ele: artigo e aula inaugural de nosso mestrado na UFU; o que
não rolou)
22 11 2004, de Caon pra Bento, email curto, sobre minha ida
ao Forum social em Poa
24 11 2004 Bento a Ricardo Navia (email curto, sobre endereços, eleições aqui e lá, UY, anpof)
30 11 2004 Gabriel Setti a Bento (email curto, com endereço
para carta de recomendação)
14 12 2004, Luiz Alberto Hebeche; email curto, sobre
sacanagens de Capes e Cnpq, com os nomes dos mafiosos
23 12 2004 Bento a Bombassaro (com resposta dele / email;
assuntos: Alemanha, artigos, Forum social em Porto Alegre – de fato fomos e nos
hospedamos com ele, na Cidade Baixa)
28 12 2004, Gabriel Setti a Bento; email curto; cobra carta
de recomendação
5 1 2005 Bento a ISS, Holanda (?) (digit, 1 f., carta de
recomendação para Gabriel Setti, em inglês )
16 2 2005, Adriano Naves de Brito a Bento e outros ligados à
revista Philósophos (sobre sua editoração, com novo endereço em Porto Alegre –
“sobre o meu cadáver” diria depois o Gonzalo Palácios e repetiria...)
8 3 2005; de Bento a Pedro Eustáquio; carta manuscrita, 1
folha, enviada por mãos indígenas e... jamais entregue ao compadre
9 6 2005 Bento a Raul F-B (email + de 1 p, sobre resenha que
fiz p ele e pedido p ele resenhar meu livro tese, o que não aconteceu; falta de
reciprocidade...)
10 7 2006; de Renata Carone, uma desconhecida da PUCSP, para
Bento, autor do ensaio “a figura de Ulisses na dialética do escl”; pedindo
cópia
28 9 2007, Alfredo Culleton para Bento, email curto, agradece parecer meu a artigo para Revista Controvérsia,
deles, na Unisinos
16 6 2012, de Bento para Fundaçao de ciência e tecnologia,
Portugal, digit, 2 folhas; carta de apresentação para Francielle Vieira
Sem data:
2001 a 2008, de Hans haufe
2002... de hans haufe, com o Grillito valeroso no verso
2002... de hans haufe, familiar
2004, dezembro, de hans haufe fala de MG, revista Humboldt,
etc.
2004... de Ricardo Musse para Bib, sobre minha tese
publicada, passa endereço Rua Tucuna SP
2005... de Isac Nikos sobre tese dele que eu iria argüir
2008, circa, de hans haufe, com modelo de solicitação de
vinda dele
2009, depois da palestra na UFU, de hans haufe
2011, De Fabio Coelho, circa 2011, bilhete sobre cordel –
Filosofia do paidos - que me enviara de Campina Grande e sobre cachaça e
conhaque...
2012, circa. Francielle envia comprovante de trabalho nosso
apresentado em Praga (not Braga)
FILÓSOFOS NÃO ESCREVEM MAIS,
ACHEI UMA CARTA JÁ DIGITADA
NO ANTIGO PC.
E TENHO TAMBÉM UMA LISTA
DAS CARTAS QUE GUARDEI
ENTRE 1983 E 2012.
TALVEZ ME DÊ AO LAZER
DE DIGITÁ-LAS EM BREVE.
✏
Udi. 6.5.92
Prezado B.:
É um prazer receber notícias
suas. Não escrevi antes por absoluta falta de tempo. Mas não esqueci. No final
da carta falo dos textos que gostaria que você enviasse. Espero que tudo esteja
correndo bem aí no Sul.
Aqui no cerrado as coisas têm ido
bem. Tenho trabalhado num bom ritmo e estou concluindo a pesquisa Kant-Freud. A
leitura e a reflexão têm me absorvido e feito esquecer um pouco da chatice da
“crise”.
Em relação ao trabalho, ainda, a
leitura Kant-Freud foi muito gratificante e a conclusão tem me levado a alguns
pontos possíveis para uma tese de doutorado. Em 1º lugar a correlação entre o
mecanicismo de Newton e a Teoria da Relatividade em Einstein. Isto me leva a
problemas em torno da História da Ciência. Mas temo que enveredar pela Teoria
da Relatividade talvez fosse um tanto quanto indigesto.
Em 2º lugar, buscar esta reflexão
sobre a ciência ao nível da Filosofia; no caso Henri Bergson. A opção por Henri
Bergson tem me parecido mais prática.
No mais, tenho tido um bom tempo
para a boa leitura e a boa música*, reclamando um pouco do isolamento
intelectual aqui do Planalto Central.
Os textos que me interessam do Lévinas
são os seguintes:
1.
O diálogo judaico-cristão. (não é de Lévinas; é texto da mesa-redonda)
2.
O desejo em Lévinas e Lacan
3.
Kant e Lévinas
Tenho feito algumas leituras
sobre psicanálise, judaísmo, cristianismo.
Bom, estas são as idéias que têm
ocupado minhas preocupações de filósofo atualmente. A “episteme” atual,
pós-moderna, ou seja lá o que for, é muito chata. A Filosofia nos oferece esta
<possibilidade de> volta a #### tempos mais interessantes.
Agradeço a gentileza da remessa
dos textos de Lévinas.
Abraços a você e
família.
Renato.
[endereço]
(Isto
fica atrás do shopping, entre 2 fazendas)
*Renato tinha muitos discos de
Jazz, sobretudo de Sarah Vaughn e Billie Holiday
<...> inserção, acréscimo
#### termo rasurado (talvez fosse
“novos”)
“Arte: Uma sensação de
experiência feminina”
Uma sensação de
experiência feminina – Invocações primitivas que vão além de um emaranhado de
ismos
Louise Bourgeois é com certeza a artista menos conhecida que
já expôs uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, uma honra
normalmente reservada aos Picassos ou pelo menos aos Frank Stellas deste mundo.
Ela tem quase 71 anos, é francesa, reside em Nova Iorque desde 1938, e é uma
escultora madura sob qualquer definição concebível da palavra. Até bem
recentemente, poucas pessoas queriam olhar para seu trabalho e seu
reconhecimento era pequeno, pelo menos comparado com a fama que rodeava Louise
Nevelson, aquela Abelha Rainha da arte irresistivelmente durável. Bourgeois não
pertence a nenhum grupo e era uma solitária completa; seu trabalho parecia ter
uma qualidade troglodítica estranha, como algo pálido debaixo de um tronco, o
vulnerável produto da obsessão, mas com um ferrão na sua cauda.
Essa qualidade permanece, mas nesse período duas coisas
mudaram seu status no mundo da arte. Uma foi o colapso da ideia de que a arte
só tem um caminho, a trilha abstrata que avança para a história. Por isso vale
a pena examinar o tipo idiossincrático de surrealismo tardio de Bourgeois. A
segunda mudança, que a torna ainda mais interessante, foi o feminismo. O campo
ao qual a obra de Borugeois retorna constantemente é a experiência feminina,
localizada no corpo, sentida desde dentro. “Eu tento, disse ela a um
entrevistador, referindo-se a um trabalho, representar uma mulher que está
grávida. Ela tenta assustar, mas ela é quem fica assustada. Ela tem medo que
alguém invada sua privacidade e que ela não seja capaz de defender aquilo pelo
qual ela é responsável”.
Este tipo de assunto está bem distante das preocupações
normais da escultura, que se impõe à cultura de uma maneira “masculina”. O que
Bourgeois monta é um imaginário surrealista de pequenas ameaças, defesas, covis,
ventres, quase incipientes agrupamentos de formas. Sua obra é às vezes
agressiva e patética, carregada de sexo e fisicamente desajeitada, tensa e
obtusa. Ela emprega um imaginário do encontro para tornar concreta uma sensação
de solidão quase inevitável. Em resumo, é fisicamente, mesmo que nem sempre formalmente,
um rico material e deve ser motivo de alegria que o Museu de Arte Moderna e
Deborah Wye, Curadora Associada, o tenham promovido em uma mostra tão
minuciosa.
Os trabalhos mais rigorosos e satisfatórios de Bourgeois tendem
a ser aqueles baseados tanto em totens “primitivos” ou formas naturais: pólipos
corais, seios, pencas de brotos e cilindros, com suas pontas truncadas e
inclinadas em ângulos diferentes, grudados numa plataforma. Eles dão uma
impressão de vivacidade pré-conscinte – natureza em marcha. Sua aura se torna
um pouco mais sinistra numa grande escultura, Femme-maison ’81, feita em mármore preto: um cacho ondulado de
longas formas tubulares, mais para o frondoso que para o fálico, roçando e se
empurrando entre si com uma energia irresistível, peculiar, que se empinam em
torno de um platô onde repousa um pequeno abrigo, esquematicamente talhado.
Ao mesmo tempo, a imaginação de Bourgeois tem um lado desagradável,
nojento, como devem ser os atos reais de exorcismo. As fantasias que sua arte expele
dentro do casto espaço da galeria tem tanto a ver com incesto e canibalismo
como com as satisfações estéticas mais costumeiras do MoMA. A mais vívida
delas, e a mais crua, é um tipo de gruta cheia de estalactites marrons
pendulares, intumescidas e com formato de seios. Uma banal lâmpada vermelha
brinca sobre elas; no meio há uma mesa, talvez um altar de sacrifícios, e por
toda a caverna estão esparramados junto com o que parecem ser pedaços
mumificados de carne. Eles não podem ser identificados como humanos; no máximo,
eles se assemelham a pequenas pernas de cordeiro. Mas eles fazem pensar na temível
caverna do Cíclope Polifemo da Odisseia, coberto de fragmentos de indizíveis
ceias. O título é A destruição do pai,
1974.
“É uma peça muito assassina”, aponta Bourgeois no catálogo,
com certa insuficiência de expressão, “um impulso que aflora quando se está sob
muita pressão e se volta contra aqueles que mais se ama”. O mesmo imaginário
aparece de novo, de uma maneira levemente mais distanciada, em seu ambiente de
grande sala, Confrontations, 1978. Aqui
o espectador é excluído da mesa central, que está coberta de seios, restos de
comida cobertos de látex e outros bocados, por um círculo de caixas de madeira.
Estas afinam para o alto, como versões dos dolmens em lugares de rituais
arcaicos, instigam a serem lidas como efígies abstratas da figura humana: um
círculo de observadores, suas costas a esconder a audiência, absorvida em um
obscuro ritual.
Alguns talvez possam achar esse imaginário não apenas arcaico,
mas decididamente demodê: invocações do ctônico e do primitivo padronizaram a
trajetória de modernistas durante três quartos de um século. Bourgeois,
todavia, utiliza suas citações primitivas para ultrapassar os convencionais
agrupamentos da história da arte moderna – o emaranhado de ismos que nos diz
tão pouco sobre o real sentido da arte – e para remexer dolorosamente entre as
camadas de sua própria composição. Que equivalentes pode a arte encontrar para
pintar a feminilidade desde dentro, distinto das convenções costumeiras de
olhá-la desde fora através dos olhos de outro sexo? O que pode ela dizer sobre
interioridade, fecundidade, vulnerabilidade, repressão ou ressentimento? Como
pode ela proporcionar um substrato diferente de sentidos para o corpo? É para
tais questões que a escultura de Bourgeois se volta, nem sempre com êxito mas
com uma consistência e uma intensidade chocantes. Algumas delas parecem “não-heróicas”,
deficientes por completo, até mesmo incoerentes: mas estes são subprodutos de
seu esforço para descrever, por meios surrealistas, experiências que são
automaticamente excluídas da arte heroica. Por tais operações, Bourgeois pode
ser o sobrenome errado, mas é bom ver uma tal artista conseguindo seu tributo,
finalmente.
Robert Hughes
(Revista Time, 22/11/1982,
pág. 58; tradução de Bento Itamar Borges, em 1982, com revisão em 2022 – sendo que
há leves discrepâncias entre o texto originalmente impresso na revista e o
disponível hoje na internet, mas apenas no tangente a títulos de obras de arte citadas
no artigo.)
ula