segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ALIMENTOS SAUDÁVEIS E A CURA DE DOENÇAS

 


PIMENTA DE MACACO:
ALIMENTO, REMÉDIO E PERFUME 


O que faz um professor aposentado, além de ler e pescar? Esta pergunta já reduz a resposta, pois “o filósofo” não se afasta das atividades. Longe da sala de aula, pensa de graça. Pois como disse, em outro contexto, o Raimundo Popper, “só ao deixar de ser professor, pude me tornar um filósofo”. E, para complicar, o nórdico Severino pregava: um homem casado não pode ser filósofo. Palavras de um ideólogo e de um solteirão, respectivamente, que brincam com o dito e o mencionado.  

 

O Filósofo do Cerrado – à maneira de super herói na Sessão da Tarde – tem pretensões singelas, tipo “salvar o planeta”. E não dormiu no ponto nesses sete anos longe do cuspe e giz.

Pegando um atalho: logo depois da defesa da dissertação de Raoni Terra, o filósofo conversava com o novo mestre agrônomo e com a filha lá fora da biblioteca. Aí uma arguidora, de passagem, pegou a prosa pela metade e quis corrigir: “mas essas hortaliças sem agrotóxico (ou orgânicas) não curam câncer...”

Resumo da ópera: apoiei e continuo a apoiar três projetos acadêmicos com efeitos saudáveis e imediatos. Acompanhei uma pesquisa de doutorado sobre cura de (algum tipo de) câncer, com plantas do cerrado. E apoiei uma pesquisa sobre redução de agrotóxicos na agricultura, bem como continuo a incentivar, em continuidade, um doutorado sobre uso de adubação orgânica no cultivo da batata.



 

1.  Tomate ensacado. Mestrado, UFU.

Meu filho Raoni Terra, agrônomo concursado, a serviço da Prefeitura de Uberaba, concluiu em 2016 sua pesquisa experimental sobre proteção de frutos mediante processo de ensacamento, sem uso de agrotóxicos.

 

Eu, que acompanhei a graduação dele e financiei sua ida aos EUA (estágio em fazenda moderna que produz tomates em estufa), bem como outros dois estágios no Brasil e fiz discurso improvisado no dia da formatura, etc. pude então, ao lado de várias outras pessoas generosas, assumir tarefas manuais e braçais nessa fase intermediária da pós-graduação desse “agricultor” altamente qualificado.

 

Dois plantios extensos de três variedades de tomate, um no inverno, outro no período de chuvas – para efeito de comparação. E as embalagens também foram variadas, para que se chegasse ao material ideal, entre tule, organza e não-tecido. Ou seja, uma pesquisa assim inclui carregar peso - usar enxada e tratorzinho - bem como cortar e costurar tecidos para milhares de sacos. Família e amigos participaram, com muito gosto.

 

E, sim, fui o revisor oficial da dissertação: gramática, ortografia, ABNT.

"Agradeço aos meus pais, Kássia e Bento, que dedicaram a vida à docência no ensino superior, pelos ensinamentos sobre humanidade e ética, que, desde cedo, me levaram a valorizar a busca da construção de uma sociedade mais justa e solidária."

O texto da pesquisa sobre tomates saudáveis pode ser lido de graça, neste endereço: https://repositorio.ufu.br/handle/123456789/23585?mode=full

 

A pesquisa também resultou na publicação de um artigo, em parceria com o orientador, Prof. Dr. José Magno Queiroz Luz. Eis a referência:

http://200.19.146.79/index.php/biosciencejournal/article/view/43250 

Productivity and quality of bagging fruit of hybrid tomatoes




2.    Batata com adubação orgânica, UFU. É um projeto de pesquisa de doutorado, na UFU, em andamento. Raoni Terra trabalha novamente sob orientação do Prof. Dr. Magno Queiroz, que tem como campo experimental uma empresa que planta e frita batatas, na região do Triângulo Mineiro.

 

O doutorando não tem bolsa, pois é empregado assalariado da Prefeitura de Uberaba, mas conta com alguma ajuda do pai para o combustível e algum insumo – idas e vindas entre Uberaba e a UFU, bem como viagens em dia de campo, aos batatais.

 

E é claro que o apoio moral e o incentivo do pai e da família – e da galera – também contam e muito. A grande motivação, com resultados em evidência, é a produção de alimentos saudáveis, SEM agrotóxicos e com o mínimo de química, que já são comercializados a partir de plantações e manejo orientados pelo agrônomo, no município de Uberaba. Espera-se que os experimentos do doutorado também tenham em breve – além do interesse acadêmico e empresarial – imediata e vantajosa aplicação e divulgação.

 

RAONI TERRA DE OLIVEIRA BORGES. Adubação de variedades de batata com composto orgânico em combinação com adubação mineral. Início: 2019. Tese (Doutorado em Agronomia) - Universidade Federal de Uberlândia. (Orientador Prof. Dr. José Magno Queiroz Luz).

 

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Remédio contra câncer, a partir de árvore do cerrado

 

Thaís Fernanda Moreira fez graduação em farmácia, no Paraná, onde também concluiu seu mestrado em Ciências Farmacêuticas, 2013, sob o título: CARACTERIZAÇÃO FITOQUÍMICA E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE Rhamnus sphaerosperma var. pubescens (Reissek) M.C. Johnst. (Rhamnaceae), sob orientação do Prof. Dr. Obdulio Gomes Miguel. Bolsa CAPES, Brasil. Palavras-chave: Rhamnus sphaerosperma var. pubescens; Antraquinonas; fitoesteróis; antioxidantes; motilidade gastrointestinal. Grande área: Ciências da Saúde.

 

https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/29690

 

Logo em seguida, realizou na UNESP de Araraquara seu doutorado, sob orientação do Prof. Dr. Iguatemy Lourenço Brunetti. De início, a planta cotada para os experimentos em laboratório seria a “pimenta de macaco” (Xylopia aromática), bem conhecida nossa aqui no cerrado, com flores de intenso e agradável odor. E as sementes são, de fato, usadas como tempero, com sabor semelhante à pimenta do reino. Para isso, eu e a tia dela – que acompanha e incentiva Thais desde a graduação - coletamos folhas e frutos na região do Triângulo Mineiro, à margem esquerda do Rio Paranaíba.

 

Posteriormente, por razões técnicas e operacionais, a doutoranda voltou a trabalhar com a mesma espécie utilizada durante o mestrado e que vem a ser conhecida popularmente como “canjiqueira” ou “fruto de pombo”. Os procedimentos, reagentes e resultados obtidos podem ser conhecidos (e compreendidos por quem é da área) no endereço:

 

O Filósofo do Cerrado teve a honra de assistir a longa sessão de defesa dessa tese tão relevante, em 2016, no campus de Araraquara. Para um ex-professor de Metodologia Científica e de Filosofia da Ciência, foi aquela uma ótima oportunidade para acompanhar uma exibição da mais avançada pesquisa de ponta que, aos poucos, vai completando o conhecimento sobre as diversas formas da terrível doença câncer. Um esforço gigantesco para uma causa grandiosa de interesse geral: a saúde.

 

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/154773/moreira_tf_dr_arafcf_int.pdf?sequence=3&isAllowed=y

 

Agradecimentos: 

"Aos meus tios Waldenice e Bento, por todo exemplo, incentivo e amor."

 

 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Em breve, dez anos deste blog

Caros e queridas,

raros e eventuais visitantes,

em breve publicaremos aqui uma carta de Valério Rohden.

Para marcar os dez anos disso,
que surgiu como recurso didático 
e midiático: 
o blog do filósofo do cerrado fez referência inaugural
ao filósofo catarina que visitou o cerrado. 

A carta estava perdida e foi - qual ovelha parabólica - encontrada: (ueba!) festa na floresta - sem churrasco. 

A carta, é claro, está inédita
 - unpublished - 
pois quase ninguém escreve cartas
e ninguém publica tais missivas jurássicas. 

Aguardem. 

E passem por aqui lá uma vez na vida, pelo menos na década. 

O blog está ativo e o seu foguista, vivo e kicking. 

See you later, jacarés. 


FdoC 

sábado, 25 de abril de 2020

Aos 64, no grupo de risco e tocando o barco

Entrando na onda self delivery 
Ano passado na Irlanda de J. J.


2020


FILOSOFIAS DA VIDA VIVIDA:  Todos os vivos estão no grupo de risco. Viver é arriscado. Mas no contexto de uma epidemia, tenho que admitir: vou ficar em casa e fugir do vírus.  

Quanto tempo quero e espero viver? A pergunta ganha um novo sentido agora, quando entrei no terceiro terço dessa lifetime...

O que vier é lucro, sobrevida ou, como diz o Julio Cabrera, no seu intrigante livro de ética de cabeza pra bajo: Não-suicidas não são exatamente sobreviventes...


Aqui está uma tabela para animar os calouros da filosofia. Não se trata de medir QI e nem saber se você joga xadrez ou sabe falar de vinhos. O importante é viver muito.

E aqui cada um pode se situar em relação aos filósofos que já partiram desta. O número à esquerda indica o quanto a figura viveu. A cada ano – se Deus lhe der vida e saúde – movimente uma casa para diante.

Km 64. O filósofo do cerrado, que também acredita em geração espontânea, no éter e foi, sim, preceptor de Alexandre, seu irmão mais novo cinco anos, a quem ensinou golpes de capoeira e pesca de lambaris, está em 2020 na boa companhia de...?

Well, não achei ninguém com meia-quatro. Então, digamos, estou entre Adorno e Barthes. Diferente da estante de minha biblioteca, onde me vejo espremido entre Bobbio e Bubner...  


Faça sua própria classificação. Veja como está seu ranking. Não custa nada. E não é o tipo de mensagem que precise passar adiante. Importante é manter-se vivo e tentar chegar aos 103 anos. Para isso, não precisa ser arquiteto de JK, mas sem dúvida a receita passa pela combinação de verdad y método.


...
29 NOVALISGeorg Philipp Friedrich von Hardenberg (1772 - 1801)
38 LURIA, Isaac  (1534 - 1572)
40 LASK, Emil [1875-1915]
42 KIERKEGAARD, Søren Aabye - (18131855)
44 WHORF, Benjamin Lee (1897-1941)[1]
46 BAUDELAIRE, Charles. [1821- 1867]
48 BENJAMIN, Walter [1892-1940)
49 AUSTIN - (Lancaster, 1911 - Oxford,  1960)
52 FICHTE, Johann Gottlieb [1762-1814]
53 MERLEAU-PONTY, MAURICE (1908 - 1961)
54 DESCARTES, René (1596 - 1650)
56 NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm (1844 – 1900)
56 SAUSSURE, Ferdinand de: (1857 - 1913)
56 WEBER, Max [1864-1920]
56 ALIGHIERI, Dante: (Florença, 1265Ravena, 1321)
58 FOUCAULT, Paul Michel (1926. – 1984)
58 MAQUIAVEL, Nicolau [Niccolò Machiavelli] (1469 – 1527)
59 HERDER, Johann Gottfried von (1744 - 1803)
59 DURKHEIM, Emile. [1858-1917]
60 SIMMEL, Georg (1858-1918)
61 HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich [1770 – 1831]
62 ARISTÓTELES (Estagira, na Calcídica 384 a.C. - 322 a.C.)
62 WITTGENSTEIN, Ludwig Joseph Johann - (18891951)
63 ADORNO, Theodor (1903 – 1969)
63 HESS, Moses (1812-1875):
63 MANDEVILLE, Bernard de (1670 – 1733)

è 64 FILÓSOFO DO CERRADO (born in 1956, and counting…)


65 BARTHES, Roland (19151980)
65 BATAILLE, Georges (1897 – 1962)
65 SAINT-SIMON, Conde de, ou Claude-Henri de Rourroy - (17601825)
66 KOJÈVE, ALEXANDRE (1902 - 1968)
68 HUMBOLDT, Friedrich Wilhelm Christian Karl Ferdinand (1767- 1835)
68 MEAD, George Herbert [1863-1931]
69 MAIMÔNIDES, Moisés: (1135-1204)
70 BRETON, Andre – (1896 – 1966)
70 LEIBNIZ, Gottfried (1646 - 1716)
71 LUHMANN, Niklas (19271998)
72 BOURDIEU, Pierre: (19302002)
72 SCHOPENHAUER, Arthur (1788 – 1860)
73 BAUER, Bruno (1809-1882)
73 HOLDERLIN – Johann Christian Friedrich (1770 – 1843)
73 KOSELLECK, Reinhardt [1923 – 2006]
74 DERRIDA, Jacques (19302004)
74 KUHN, Thomas Samuel: (19221996)
74 LYOTARD, Jean Francois: (1924 —1998)
75 CASTORIADIS, Cornelius (1922 - 1997)
75 PEIRCE, Charles Sanders (1839 - 1914)
75 SARTRE, Jean-Paul Charles Azmard (19051980)
75 SOREL, Georges Eugène - (18471922)
75 KORSCH, Karl. [1886-1961]
75 ENGELS, Friedrich - (1820 - 1895)
75 MARX, Karl [1818, 1883)
76 JUNG, Carl Gustav (1875 -1961)
76 RORTY, Richard: (1931 - 2007)
76 VICO, Giambattista (1668 - 1744)
77 FREGE, Friedrich Ludwig Gottlob: (1848 - 1925)
77 PARSONS, Talcott Edgar Frederick (1902 - 1979)
78 BACHELARD, Gaston (1884 - 1962)
78 DILTHEY, Wilhelm (18331911)
78 HORKHEIMER, Max (1895 – 1973)
78 RUGE, Arnold (1802-1880):
79 HUSSERL Edmund Gustav Albrecht  (18591938)
79 SCHELLING, Friedrich Wilhelm Josef. [1775-1854]
80 LACAN,  Jacques-Marie Émile (1901 - 1981)
80 KANT, Immanuel - (17241804)
82 FREYER, Hans (1887 - 1969)
82 HAMANN, Richard Henry: (1879–1961)
82 BERGSON, Henri-Louis (Paris, 18591941
83 FREUD, SIGMUND (18561939)
84 PIAGET, Jean. (1896  -1980)
84 SWEDENBORG, Emanuel  (1688 – 1772)
85 SCHOLEM, Gerschom: (1897 – 1982)
86 DAVIDSON, Donald Herbert (1917 – 2003)
86 JAKOBSON, Roman Osipovich: (1896 - 1982)
86 JASPERS, Karl Theodor: (1883 - 1969)
87 CREUZER Georg Friedrich (1771 - 1858)
87 HEIDEGGER, Martin [1889 – 1976]
88 DUMÉZIL, GEORGES (18981986)
89 LÉVINAS, Emmanuel: (19061995)
91 HOBES, Thomas (1588 – 1679)
92 POPPER, Karl R. (19021994)
96 BLANCHOT, MAURICE (1907 -- 2003)
97 SCHMITT, Carl - (18881985)
100 LÉVI-STRAUSS, Claude (Bruxelas, 28 de novembro de 1908...)
102 GADAMER, Hans Georg. [1900 – 2002]

A tabela ainda está sendo testada. Já passamos da fase de laboratório, com ratos e homens (Of mice and men).  Aos poucos, alguns escritores serão substituídos por filósofos com pedigree, antes que alguém entre com recurso. Por razões estéticas, seria bom dispormos de uma tabela que exibisse pelo menos um filósofo para cada idade. E quem souber de um pensador, tipo James Dean, que tenha vivido rápido e morrido cedo, favor enviar comentário. Hasta la vista, babe. E, é claro, vamos melhorar essa lista com nomes de nobres pensadorAs e escritorAs. Aguardem.

LIVROS QUE ANDEI LENDO EM 2019:

1.Poética, Aristóteles
2.Odes (Horácio)
3.Aforismos (Leonardo de Vince / espanhol
4. Los argonautas de la Kombi ( Cortázar y mujer )
5. Onze de setembro (Chomsky)
6. Partilha de sombra (Walmyr Ayala)
7. Enquanto agonizo (William Faukner)
8. Histórias do bispo de UDi (Dom Fernando de tal)
9. Enigma, o crime de Araraquara (Max Brandão)
10.Diário de um cucaracha (Henfil)
11. You never can tell (Bernard Shaw, teatro, original inglês)
12. Oração da coroa (Demóstenes)
13. Persépolis (Marjane Satrapi, gibizão, presente de L.)
14. Memórias, volume I (Zé Dirceu)
15. As mil e uma noites, volume I, 364 pag., ramo Sírio
16. As mil e uma noites, volume II, 330 pag. Ramo sírio
17. As mil e uma noites, volume III, 326 pag., ramo egípcio





[1] Acrescento aqui em 2018 o Whorf, seguidor de Sapir, que não é bem um filósofo. Mas quem o é? Esse era um engenheiro de segurança que visitava indígenas, que falavam outra língua e...viviam em outro mundo, etc. Ora, isso interessa à filosofia. E Wittgenstein também era engenheiro...

Experiência estética e mística em Braga,
Portugal 

Em 2019 visitamos um país fantástico: Marrocos




Mas também sem a cachaça
ninguém aguenta esse rojão


sábado, 21 de março de 2020

Sobre natureza, humanidade, evolução (e contra a virus)

Caros colegas de reclusão e de luta em favor da vida humana,

transcrevo aqui um texto de quatro páginas, que pode animar essa causa terrível.

O autor é um filósofo metido em temas como natureza e evolução - Professor da Universitá la Sapienza di Roma.

O tradutor é meu amigo Márcio Gimenes, filósofo, da Universidade de Brasília.

Leiam, reflitam e participam dessa proposta de flashmob (virtual, no momento).

Saúde e sorte ao "serumano"

(e que o virus leve a pior e não fique por aí, nem fossilizado: vai perder a coroa já!)

Prof. Bento Itamar Borges




Vírus, mãe natureza e estultícia humana: o que significa vencer a guerra contra a atual pandemia? Por um flashmob[1] filosófico


Que a humanidade seja capaz de enfrentar com coragem, determinação e solidariedade também as provas mais desafiadoras da vida e da história, é notório. E o confirmam também os flashmob com os quais os italianos manifestam a própria reação contra a atual epidemia e sua gratidão por pesquisadores, médicos, enfermeiros, voluntários que nesta luta comum se encontram na linha de frente. 
Desta nossa capacidade de re-agir – ou resiliência- especialmente nestes dias e de tudo compreensivelmente se ouve falar também com acentos bélicos: estamos em guerra contra um inimigo invisível e ninguém deve desertar. Como em vez disso fazem sempre aqueles que, com maior ou menor cinismo, mesmo na mais grave calamidade buscam apenas compreender como desfrutar o melhor somente para os próprios fins egoísticos: economistas, políticos, de vã notoriedade. Mas deixemos ademais no seu mister os parasitas do sofrimento. É para aqueles que são solidários com aqueles que são atingidos majoritariamente por essa epidemia que quero fazer uma modestíssima proposta, na esperança que não soe excessivamente estranha. 
O auspício que muito e justamente se ouve nestes dias é que da “guerra” contra a atual epidemia se possa sair não apenas o quanto antes, mas também melhorados. É exatamente aqui o ponto: o que significa vencer a guerra contra o vírus e melhorarmos a nós mesmos? Indubitavelmente significa conter e no final derrotar a pandemia. Mas não deveria significar também acrescentar a nossa crítica consciência de como devemos nos comportar no futuro para não nos encontrarmos de novo em similares situações? Devemos vencer para poder começar tudo como antes?
Eis: quero propor uma espécie de flasmob filosófico que nos estimule a dedicar alguma reflexão também a este problema: se de fato estamos em guerra, contra o que devemos lutar para vencê-la efetivamente? Somente contra os vírus que sobre a face da Terra estão antes de nós seres humanos? Ou também contra as concepções e os comportamentos de nós “sapiens” que estamos transformando a Terra de ambientehabitável em ambiente-pesadelo para um número sempre crescente de seres vivos? A começar obviamente dos seres humanos e dos animais- não humanos mais frágeis e mais pobres. 
É fácil e completamente racional pensar que a estas questões toda mulher e todo homem responderá com os acentos (filosóficos, ético-políticos, religiosos) que majoritariamente ouve nas próprias cordas. Mas arrisco uma previsão: destes flashmob filosóficos nenhum de nós, como pessoa e como cidadão, sairá melhor. E talvez mais do que qualquer poder fazer ou refazer – admirável dizer- também a mais interessante das descobertas. Aquela mais intimamente ligada ao nascimento e ao desenvolvimento da própria filosofia, nomeadamente – literalmente – da pesquisa do saber-sabedoria a qual também nós seres humanos podemos legitimamente aspirar: a descoberta que existe uma realidade natural e que dessa somos parte também nós seres humanos, com as nossas histórias individuais e com toda a história da nossa espécie. Apenas parte. Mais: <<pequena parte>>, como advertia já Espinosa, não proprietários, dominadores, predadores e quem tem mais se impõe.
Se portanto a vitória que nos interessa obter sobre o coronavírus não é voltar o quanto antes às concepções e comportamentos pré-pandêmicos, mesmo alguns modestos flashmob filosóficos podem nos ajudar a compreender que sairemos melhores dessa pandemia apenas se, e somente se, soubermos nos confrontar criticamente com a descoberta ou re-descoberta há pouco relembrada: com o fato de que "podemos afastar a natureza com um grande garfo, todavia ela sempre retornará / e furtivamente se insinuará entre os obstáculos que se interpõem no seu caminho" (Horácio, Epístolas, I, 10, 24-25). Vale dizer: tu ser humano podes também negligenciar o fato de seres parte da natureza. Mais: nos confrontos da natureza podes ser mesmo arrogante. Mas em realidade o teu pertencimento a mãe natureza (antropologia do eco-pertencimento) antes ou depois torna sempre a se fazer sentir. Antes ou depois a mãe natureza retorna – mas quando ela se foi? – quando toda a sua indiferença ao nosso destino, ao nosso bem e ao nosso mal, com toda a sua potência sobre-humana do infinitamente pequeno, e do infinitamente grande: como vírus, como terremoto, como água e ar poluído, como desertificação, extinção de espécies, crise ecológica que não é exagerado definir epocal.. 
E por que não: pode voltar também como oportunidade de melhorar nós mesmos. Como nossa resiliência à crise. É inegável de fato que da realidade natural fazemos parte também nós seres humanos, com o nosso compromisso de melhorar as concepções, comportamentos, tentativas de sermos felizes, na medida do possível, e solidário para com todas as formas de sofrimento, Este é o saber-sabedoria que somos solicitados a pesquisar – e praticar – da filosofia, nascida exatamente como <<indagação sobre a natureza>>. E cujos cultivadores - permitam-me este último esclarecimento - um eminente representante da Grécia clássica ouvimos falar nestes termos: «Bem-aventurado aquele que aprendeu com esta investigação. Ele não causa sofrimento aos concidadãos e nem ações injustas, mas investiga a ordem eterna da natureza imortal e pergunta: com que finalidade surgiu, de que maneira, quando? Alguém assim nunca é presa de pensamentos e ações más e das quais deveria se envergonhar "(Euripides, Frammenti, n. 910). Apenas um similar elogio de uma autêntica pesquisa filosófica veio à minha mente lendo a resposta de David Quammen - um estudioso e popularizador que durante anos alertou contra os riscos da passagem de vírus de uma espécie para outra - à questão de saber se o coronavírus pode ser chamado de vingança da natureza sobre o homem:<<Não creio na metáfora da ‘vingança da natureza’ que tende a personificar a Natureza como uma entidade sábia, com o seu fim e sua vontade. Não sou assim romântico. Concebo a natureza como a concebia Darwin: [...] Aquilo que os outros vêem como uma vingança da natureza, eu descreveria assim: ecossistemas complexos abrigam animais, plantas, fungos, bactérias e outros organismos celulares; e todos esses organismos celulares abrigam vírus. Se decidirmos comprometê-los, o fazemos por nossa conta e risco "(" Huffpost ", 9 de março de 2020, entrevista aos cuidados de S. Baldolini). Nisso, tinha razão Horácio, como um bom sábio epicurista: verdadeiramente faremos bem em não nos surpreendermos jamais com o retorno da mãe natureza. E quanto mais hoje que dispomos de conhecimentos científicos que somente os estultos poderão subestimar. 
A última intenção destas considerações é trair o espírito de espontânea agilidade que anima sempre todo autêntico flasmob. Espírito com o qual me pareceu possível, interessante e oportuno comunicar-me com vários, especialmente em face da atual pandemia, eles ouvem o peso e o fascínio de uma resiliência também educativa. Na convicção que encontrar qualquer minuto para reativar também a nossa reflexão filosófica sobre como sair melhores desta guerra ‘contra’ o coronavírus, não é deserção do fronte comum. E ainda menos gosto por polêmicas que dividem. Ou pelos vaidosos discursos dos doutos. 
Mais simplesmente e bem sabendo que leituras e ocasiões para os necessários aprofundamentos individuais e coletivos certamente não faltarão: é um convite a tornar explicito o componente reflexivo que me parece animar os flashmob contra esta pandemia. Eles nos lembram que, precisamente ao presente, planetário "urgências da história" (K. Löwith), devemos aprender a reagir também, melhorando a nós mesmos e a nossa sociedade.
Não é esta mensagem de sábia resiliência também filosófica que, em definitivo, estamos procurando transmitir também nestes dias?  Não é na possibilidade de melhorar-nos que vem à luz o sentido mais autêntico e apreciável de cada exortação a compreender sempre melhor as coisas – a oportunidade e os limites – que nos interessam como seres humanos e como habitantes deste frágil planeta? De cada exortação a ser mais consciente e nunca esquecer - como de um modo verdadeiramente tocante e exemplar Gramsci soube recomendar ao filho desde ambiente fechado um cárcere – que na história, e mesmo entre os seus desafios mais severos e brutalidade mais atroz, eles sempre agiram, agem e agirão também <<os homens viventes [...], todos os homens do mundo enquanto se unem entre si em sociedade e trabalham e lutam e melhoram-se a si mesmos>>?
Gramsci concluía a breve carta ao pequeno Délio com um paterno: este modo de olhar a história <<não pode não agradar-te mais que qualquer outra coisa. Mas é assim?
>>.
A nós pode bastar o simples augúrio de um bom flashmob também filosófico para todos.

Orlando Franceschelli, 16 de março de 2020

[Tradução de Marcio Gimenes de Paula. Agradeço ao professor Marcos Aurélio Fernandes pela preciosa leitura e sugestões de melhoria na tradução]



Acessados em 19.03.2020



[1] “Um flashmob é um grupo de no minimo 10 pessoas que se reúnem repentina e instantaneamente em ambiente público, realizam uma apresentação atípica por um curto período de tempo e rapidamente se dispersam do ambiente como se nada tivesse acontecido” (Fonte: Wikipédia-
https://pt.wikipedia.org/wiki/Flash_mob. Acessado em 19.03.2020. (Nota do tradutor)