terça-feira, 3 de maio de 2016


 

CARTA AO SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (DF)
 
  
Uberlândia, 30 de abril de 2016
 
Prezado Sr. Senador,
Eu sou professor aposentado da Universidade Federal de Uberlândia e me lembro bem de sua vinda a nossa cidade para a inauguração do Bloco 3Q. No belo auditório daquele prédio, o Sr. mostrou-se muito tarimbado no domínio do palco, habilidade certamente desenvolvida à época em que foi reitor da UnB. Soube lidar com os manifestantes – estudantes e professores - que trouxeram faixas. Combinou o ilustre visitante que cada faixa ou cartaz seria lida ao microfone por ele mesmo e, em seguida, cada militante iria abaixar a cartolina ou enrolar a faixa de pano pintada.
Nosso sindicato defendia, talvez desconfiando do futuro, a “autonomia universitária”. A resposta do atual Senador, curta e genial, relativizou essa pretensão: “Acima da autonomia da universidade está a soberania da nação!”
Claro. Ali estava o representante do executivo, responsável pela importantíssima pasta da educação, a reafirmar um valioso ideal republicano.
Ora, recentemente lembrei-me dessa doutrina tão preciosa, quando a Polícia Federal, já com bastante verba e margem de ação, passou a reivindicar um descolamento perigoso, sob essa bandeira da autonomia. Como assim? Acima do Ministério da Justiça? Acima dos interesses de nossa nação e da governabilidade?
Pois bem, caro Senador, fiquei esperando que o Sr. se manifestasse então com a mesma veemência de dez anos atrás, em nome da soberania. Talvez tenha falado sobre isso. Nem sempre acompanho os discursos e intervenções do seu mandato.
Além dessa defesa da soberania, como parte do ideário republicano, em uma outra   ocasião ouvi também em algum depoimento seu a expressão “refundação”, que é também parte da retórica de alguns novos teóricos do Republicanismo.
Em sala de aula – depois de uma banca de mestrado no Piauí – há três anos, encerrei minha carreira com um estudo sobre a república. Deixando de lado o idealista Platão, retomei o fio da meada com a bela obra de Cícero, mas corri logo para um autor atual, Philipp Pettit. O filósofo irlandês, nascido em 1945, tem várias obras e é tido como um dos mentores do governo espanhol – ou era, no mandato de Zapatero.
Caro Senador, desculpe-me por chateá-lo com uma conversa de filósofo. Embora não se possa fazer em uma carta como esta uma crítica extensa ao neo-republicanismo, vai um esboço: a posição de Pettit é muito fraca (o modelo “editorial’ de política é uma ofensa à tradição de participação da sociedade civil e do debate no espaço público) e inspira uma recaída conservadora: essa visão de república assume o poder do ponto de vista do sistema, dos gestores, do controle social, ou seja, joga para escanteio os nobres valores democráticos, que é são contraponto e dão a direção para conduzir a um Estado de Direito, etc.
Ora, esta carta inclui um pedido, que já está encaminhado pela preferência pela democracia acima manifestada. Passemos por cima das siglas e das trocas de partido (PT>PDT>PPS) e respondamos aos desafios deste momento que tanto nos preocupa no Brasil. Sua experiência e seu compromisso com o país, tão bem representados na reitoria da UnB, no governo do DF e no Senado desta República, deveriam ser valorizados com uma resposta madura e digna nos próximos dias: contra o impeachment.
Prezado Senador, vote contra o Golpe em curso! Não se junte aos covardes e oportunistas que querem destituir uma Presidenta eleita, com mandato legítimo ainda por cumprir.
Sei que o Sr. admirava Darci Ribeiro. Penso naquele bem elaborado livro dele, Aos trancos e barrancos, que cobria a história do Brasil, de 1900 a 1980.  Além de dar um apelido a cada ano, ele fez a lista dos pensadores reacionários e dos inimigos do povo. Creio que, sim, ele chamaria 2016 “o ano da farsa” e castigaria com sua crítica inteligente figuras lamentáveis como Miguel Reale e Hélio Bicudo. Darci se foi. Cabe a nós manter a eterna vigilância, preço da liberdade.
Não fique do lado errado da história, caro Senador Cristovam Buarque.
Atenciosamente,
 
Prof. Dr. Bento Itamar Borges
 
 
Well,
Dois dias depois de enviada por email, esta carta não obteve resposta e nem confirmação de recebimento. Aguardo. Espero ter mais atenção que em 2011, quando, no calor do debate sobre o novo Código Florestal, empenhei-me no debate e enviei petição aos três senadores por Minas Gerais. Deles, apenas Zezé Perrela, por meio de assistente, notificou o recebimento de minha manifestação. Confiram.
Seja como for (pois nem sei se acredito nas ditas hotlines dos SACs corporativos, incl. zerooitocentos), divulgo aqui uma cópia da carta envida ao Senador Buarque, como registro – também da crença em que as idéias se organizam melhor no papel e de que podemos adequar nossos estados emocionais a gêneros literários ponderados e responsáveis, ou seja, respondíveis, na base de “excelentíssimo” para lá, “digníssimo” para cá, etc.



 

 

De: Bento Borges ...@gmail.com
Enviada em: quinta-feira, 24 de novembro de 2011 13:21
Para: Sen. Aécio Neves; Sen. Clésio Andrade; Sen. Zezé Perrella
Assunto: Um apelo em favor de MG e de nosso futuro

 

Senhor Bento,

Acusamos o recebimento da mensagem e informamos que sua manifestação foi levada ao conhecimento do senador Zeze Perrella.

Atenciosamente

 

Sem dar piti:

eis um post-scriptum, apêndice usual em missivas deste naipe. Sobre o Philipp Pettit, citado na carta ao Senador Buarque, podem os leitores deste blog consultar, se queiserem, umas notas em outro blog nosso, que, aliás, anda saindo da hibernação:

 

http://filosofodocerrado.blogspot.com.br/2012/09/dois-filipinhos-e-um-litrao-de-chopp.html

Um comentário:

Maíra Selva de Oliveira Borges disse...

aqui vai um comentário: é isso aí!!!!
:)