segunda-feira, 18 de abril de 2016


17 de abril

O DIA DO MASSACRE

 

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O Filósofo do Cerrado participou de uma mesa-redonda no 1º Simpósio Internacional de Ética e Política, na Universidade Federal de Goiás, em abril de 1996. O encontro de teóricos ocorreu uma semana depois do terrível massacre. Disposto a quebrar a cara, o filósofo referiu-se a esse triste exemplo de violência do Estado contra pobres trabalhadores – condição bastante parecida com a situação dos curdos, que o referido Habermas deveria conhecer bem na sua Alemanha, etc.

 


O texto, publicado dois anos depois, pode ser lido na íntegra e de graça, neste endereço:



 

Entre o ano do evento e o da publicação, passou por Uberlândia uma caravana de Trabalhadores Rurais Sem-terra, que marchava rumo à Brasília, em busca de terra, trabalho, liberdade e justiça. Uma exposição de fotos feitas por Sebastião Salgado foi organizado no Colégio Nacional, onde também podia ser adquirido o livro dele. A nota 13 acima refere-se a uma das fotos, mas no momento não tenho como reproduzir aqui a imagem exata.


Ontem, dia 17 de abril de 2016, os grandes jornais não se lembraram desse lamentável aniversário. A grande imprensa golpista estava ocupada na organização de outro ataque: um golpe contra a democracia, ao encaminhar a admissibilidade do impeachment de uma presidenta eleita e legitimada. O complô dos golpistas contava ontem com a tropa de choque de bandidos, latifundiários, pastores fascistas e torturadores, siglas de aluguel, em mesa presidida por um gangster diabólico e hipócrita. #foracunha!

Uma exceção: uma rádio da cidade de Marabá lembra os mortos e feridos (e criminosos impunes).


 

O Jornal Brasil de Fato – do tipo que não vemos em salas de espera de consultórios médicos – também publicou matéria alusiva ao episódio de 96 e às lutas atuais por terra e por paz, sobretudo no Pará.

https://www.brasildefato.com.br/2016/04/17/acampamento-em-eldorado-dos-carajas-homenageia-mortos-e-debate-as-novas-lutas/

 

Nestes vinte anos, mais 271 trabalhadores rurais e lideranças foram assassinados somente no estado do Pará, traçando um trágico cenário da luta pelo direito à terra no Brasil. Em 2015, o Brasil registrou o maior número de mortes por conflitos por terra dos últimos 12 anos. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou 50 assassinatos, 144 pessoas ameaçadas e 59 tentativas de homicídio em conflitos no campo. Os estados de Rondônia, Pará e Maranhão concentram 90% desses casos.

Somente no estado do Pará, entre 1964 e 2014 (40 anos), foram registrados 947 assassinatos de trabalhadores rurais, lideranças, religiosos e advogados. As regiões sul e sudeste do estado apresentam os índices mais altos de violência e concentram a maioria dos assassinatos de trabalhadores e lideranças rurais

 

https://anistia.org.br/noticias/massacre-de-eldorado-dos-carajas-20-anos-de-impunidade-e-violencia-campo/

 

Este mês, duas mortes no campo chamaram nossa atenção. A polícia do Paraná executou os dois trabalhadores rurais, em demanda com empresas de celulose. A preocupação inclui o simbólico (na verdade, diabólico) e o sintomático: o estado do Paraná está, lamentavelmente, servindo ao golpe em curso, ao sediar o quartel-general do Delegado Moro e seus hipócritas apoiadores.  #ficadilma!

Quem nos ajuda a entender a tramoia em curso é um filósofo, de quem muito me orgulho: Aldo Fornazieri, meu colega de mestrado no Rio Grande do Sul, há trinta anos. Tem aparecido também em canais de TV que promovem o esclarecimento e  a análise política. Outro dia, ele escrevia sobre os quatro tabuleiros desse jogo perigoso, o golpe midiático-judicial. E eu gostaria de perguntar a ele ou de continuar a crítica assim: “...e quem é o dono do cassino?”

O filósofo do cerrado anda longe da sala de aula e da mídia. Não tem feito suas charges e nem contribuído para o debate público, mas se orgulha de poder recomendar também o filósofo Vladimir Safatle. Aqui vai um texto recente dele, retransmitido em blog de Luciana Genro - mas pode ser lido nos sites da Folha de São Paulo e da UOL, onde apareceu primeiro.


 


Terra

Sebastião Salgado

 

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