quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Heráclito era o nome do sujeito

Este blog talvez ainda volte a nosso encarte “Notas sobre literatura”, pois não só de adornos importados faz-se a filosofia. E, à guisa de manifesto solitário, anuncia-se uma direção: literatura regional. Sim, da região do cerrado, tipo “ação entre amigos” sem sorteio de fusca nem de vaga em academia de letras. Borboleta, Jorge dos minicontos, Bar Glória, Mano Ciro, Popó e alguns outros caras e livros estão nessa galeria, tipo “o que ando lendo”, além de gringos.

Por enquanto, masquemos isto: O monstro de Capinópolis. Era um fantasma? Era um ET? Ou foi apenas um inocente útil, que assumiu crimes praticados pela ditadura militar?
Diversas mortes – de pessoas e bezerras – na região do Triângulo Mineiro assustaram a população, no início dos anos 70. Quem já se entendia por gente lembra-se disso. Depois da prisão de Orlando Sabino, uma foto do coitado foi exposta por aí. Ficou preso uns quarenta anos.
Agora, ano passado, o jornalista Pedro Popó, ilustre filho do Rio Bagagem, lançou seu livro sobre nosso famoso serial killer. O monstro de Capinópolis refaz o trajeto de Orlando Sabino, que passou por nossa terra, inclusive Tupaciguara.  
Dona Enedina ouviu a leitura salteada do livro. Coisa de se ler em uma tarde, com café e biscoito. Destaque para os trechos mais conhecida dela e do Véio Olavo: do Entre Rios até Centralina. Pausas para comentar e lembrar dos conhecidos (e de outras histórias mal contadas do tempo da ditadura, por aí).
De repente, Dona Nedina interrompe o leitor, para corrigir o relato de Popó:
- O nome desse homem era Heráclito. Heráclito, irmão da comadre Fulana.
Vai aí uma dica para a próxima edição do apreciado livro do Popó: errata – de Eraco para Heráclito.
Pois vejam só: este filósofo do cerrado começou este blog contando de sua infância entre deuses e sábios gregos. Em sua pequena cidade importante, o dito cujo convivia com nomes tais: Aristóteles, Ulisses, Jove (vulgo Júpiter), Homero – eternizado na mítica figura da “Mariinha do Homero”.
Aristóteles moía milho pra fazer fubá. Ulisses tinha máquina de beneficiar arroz. E agora Dona Nedina revela o pré-socrático Heráclito, envolvido nessa regressão ao terror pânico de um matador meio lelé que comia quilos de açúcar. Fora razão, parece que matava movido por uma carência de glicose. O monstro matou alguém conhecido de Donedina. Uma co-madre.

E eu com isso, perguntará algum leitor? Cá pra nóis, o risco era grande, pois Seu Olavo era justamente o cara que fazia rapadura e açúcar mascavo. Tinha um engenho Stamato puxado a cavalo. Vai daí que este filósofo do cerrado foi, que nem o Zé Lins, um menino de engenho.
Engenhoso é revelar-se aqui e agora que Dona Enedina, que recuperou o nome Heráclito, vem a ser a mãe do Filósofo do Cerrado. Aos 81, arribando com vontade e bom humor, a memória está firme. Quantas histórias não escritas, ainda em tempo de ouvir dela. O que muda e o que permanece, minhas caras gregas. Era e ainda é.

http://www.correiodeuberlandia.com.br/mododever/2011/12/14/o-monstro-de-capinopolis/
http://uipi.tv.br/musicvideo.php?vid=dd1b3b16b

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