quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ACREDITE NA SINALIZAÇÃO E NÃO DANIFIQUE AS PLACAS

Há muitas placas engraçadas e malucas por aí. E há blogs e sites só para esse gênero midiático. Aqui vão nossos saldos de balanço: placas que este blog publica, sem querer corrigir nada. Se achar ridículo, então ria! (Mas não sorria só pra ser filmado no loja, ê!)

Um gancho, um fio na meada. Por exemplo, esse bicho aí, o porco do mato, que tem a capacidade de ajuntar filosofia e cerrado. Vivia em manadas por este cerradão, até que o Seru inventou de corrigir a acidez do areião e vieram os Cats e os Komatsus com o correntão. E depois a soja, a cana e a soja e mais soja.
A UDR, criada em 1985 para criar caso com os ambientalistas e os sem-terra, adotou um lema da filosofia agroboy: “Cateto fora da manada é comida de onça”. Essa mensagem, colada no parabrisas das pickups com jetskis, visava convencer o latifundiário a se enturmar em um tipo de sindicato patronal conservador. Assim, o tal se via como cateto, aliás, um bicho do mato. E restava para a defesa da vida selvagem e da socialização da terra o nobre símbolo da onça braba, que é também a tradução do nome do célebre e coerente cacique Raoni.
Vai daí que essa placa, fincada na cabeceira do córrego São Pedro, em Uberlândia,  está errada e não está errada, ou seja, quem escreveu o aviso entrou numas de Chavez, “sem querer querendo”.  Pois, de uma maneira ou de outra, nós já matamos os outros catetos e espantamos as onças.
Zoo no Parque do Sabiá, Uberlândia, cuja direção merece nosso aplauso:
neste Natal de 2011, os bichos presos ganharam um presentão, ao ficarem livres dos visitantes humanos e chatos.
E QUE FIQUE CLARO: NÃO ALIMENTE OS ANIMAIS E NEM AUMENTE O SOFRIMENTO DELES!

Do lati para o lotefúndio. Mesmo quem tem um lote vago faz logo uma cerca e escreve “propriedade particular”, conforme Rousseau e a torcida do Mengão já observaram. E aquele quarteirão cercado de muro e enfeitado de lixo ali na Praia de Tambaú? Em João Pessoa, Paraíba. A lenda urbana (“Dizem que a área é do Gugu e nunca pagou imposto”) faz lembrar o disco do grupo Mundo Livre: “o samba não é do Faustão, não é do Gugu não é do Gugu não é do Gugu...”. Vai daí que o portão ficou com uma folha fechada, com duas advertências truncadas, e uma folha aberta à polissemia aqui explorada: a pobre jumenta que puxa a carroça do papeleiro virou o objeto de desejo e de inveja. Todo valor é relativo, mas a pobre criatura de Deus ainda prefere ser vista como bem de uso e não de troca. E nem de troça, certamente. Pois o jegue é nosso irmão, lembrou Gonzaga.
(A foto foi mexida no paintbrush, mas não inventada: só pra tirar um carro que o-fuscava o bichinho)

Querem me ver na fogueira, oxente? Seguindo pelo nordeste, eis uma marca interessante para um restaurante, um apelo direto, que dá fome e sede. Mas que tal dormir “na brasa”? Bode é esperto e anda também de manada pelas estradas. Voltam sozinhos para casa e sabem cruzar a pista. Tão bonitinhos e tão... apetitosos assados, com as devidas desculpas nossas, devido às inóspitas condições do agreste e outras veleidades humanas. “Que braseiro, que fornalha!”

Lada usado sem pagar IPVA pode servir de chiqueirinho também.

Passagem de macho. E agora um bar ali perto do campus da UFPB, o “Passagem Bar”, cujo fundador não foi o Walter Benjamin. Ali assam bode e outros bichos, mas é um bar porreta, só de cabra macho. Olha aí. Só tem banheiro pra eles e o depósito de carvão. (Nada disso, ô mineiro! Rudêia, rudêia..)
Lá em Catulé do Rocha não tem disso não!
(só moita de mumbufo...)

Os dois ou mais Brasis. Alguns gringos passam uma década aqui e não nos entendem. Para quem quiser vir aqui de professor visitante, o CNPq ou a Fapemig deviam aplicar uma prova básica. Por exemplo: quem não entende o jogo do bicho, com todas as suas conexões, não entende os dois ou três Brasis. Pareceria redundante a um alemão a placa no “trailer móvel”? Coloquem na lista de exemplos da lógica, ao lado de “married bachelor”. Explicando: a prefeitura e o DNIT só autorizam a instalação de um quiosque móvel para vender lanches. Aí o pequeno empresário faz certinho e tira a licença e vem com a carreta a reboque, pneuzinho novo. Tempos depois, deixa o trailer passar uma noite ou duas. E explica ao fiscal que o pneu furou. Depois, o fiscal nem vem mais e o esperto empreendedor tira as rodas, que é pra cachorro não mijar e molequenão roubar. No lugar, ergue uma paredinha de tijolão. E, depois, para maior conforto dos clientes, puxa a famosa varandinha. E aí é só cantar com aquele paraense: “... e eu fui que fui... ficando”.
Mas não me venham com aquele papo de "jeitinho brasileiro", não sinhô!
(Quem morou na Zoropa sabe que aquilo é cheio de mutreta, pois é uma Zona, a Zona do Euro.)

Alegres trópicos (para quem tem bom humor, ou seja, inclua Levi-Strauss e Saint-Hillaire fora dessa). E os tropeços da linguagem são apenas, quase sempre, um problema do receptor. Os lugareños nem notam. Outros, sabendo que turista curte placa engraçada, parecem escrever de propósito, coisas como “Melância e cocó gelado”. Não tem base e eles não acham graça,  pois nem precisariam de placa. Se um cara está ao lado de uma gaiola de frangos erados, parece-lhes óbvio que o dito cujo não vai doá-los e nem os trouxe para que vejam o movimento da BR. Enfim, estão certos os nossos patrícios muito antes da pragmática toda. E aqui vem a forçação de barra: quem haveria de fazer uma foto dessas, com o nome do Hotel Trópico para insinuar que a ambigüidade de “(eu) tropico” é uma variante de “(eu) tropeço” nesse degrau da portaria? Claro que o coco valendo pela letra “o” é um must do estereótipo de nuestros trópicos para gringo ver. E o canudo valendo por acento? Coisa à toa e não há que se explicar a piada, nem mesmo para gringo. Se virem.
Watch your step, baby!

BLASFÊMIA TOTAL. Será que a rica prefeitura do rico estado de São Paulo não tem grana para mandar fazer placas de rua? Onde estão enfiando o dinheiro extorquido nos pedágios e impostos? É um absurdo ver o que fazem os políticos e administradores de hoje com o patrimônio cultural da velha Ubatuba! (Um absurdo, não, Datena? ) Qualquer um de nós pagaria ao prefeito para ostentar apenas o nome da Praça, sem fazer propaganda de nada. Como podem associar uma borracharia ao sagrado símbolo que deu nome a este país? Cabe uma multa e uma missa de desagravo com coral barroco e órgão de 512 tubos. Laos Deo semper!


Não vai longe, meu filho! Pois nada de enrolar o rabo e sentar em cima! Olha aí, bem na nossa jurisdição,  aliás no quintal da capital do Sertão da Farinha Podre, ou seja, no Bairro Fundinho, de Uberlândia. Pois aqui é sujo rindo do mal lavado. Este aviso impresso em folha A4 quis poupar o rico dinheirinho de um cartório, essa mina de tomar dinheiro de noivo e pai babão. E economizaram papel e seta e espaço. Faz sentido, pois afinal esse negócio é meio absurdo mesmo, coisa de quem não pensa e jura per omnia saecula saeculorum. Sempre é muito.
Sala multi-uso em um bairro antigo de Uberlândia:
casar? Só nos fundos do cartório do Fundinho

Um passatempo para as férias: ler cardápios. Podem apostar que o setor de uísques será o vice-campeao, pois o campeão hors concurs é aquele vinho alemão, o Liebefral..., ou seja, aquele da garrafa azul. Mas, como diria o líder dos Gremlins, essa mania de rir de placas “é engraçada, mas não é civilizada”, pois tomem (com duas pedras de gelo) este exemplo como exemplo: aquela bebida alcoólica escocesa, destilada e cara pode ser chamada de Whisky ou whiskey (desde 1715), mas muito antes era uisce ou uisge, a depender daquelas línguas de bárbaros. E em português? Segundo o Antonio Houaiss, é uísque, mas vai que... ele tava tonto no dia em que registrou o verbete! Peça logo um escocês (ou uma Ferreira, de Januária, compadre.)

Foto de celular de origem conhecida: copiráite de meu cacique Raoni

Regência verbal pode causar acidente radioativo! Sem maiores comentários e em foto inteira, para mostrar que não é montagem.
Em um grande hospital de Uberlândia

Semiótica? Difícil de definir, mas eis um evento pertinente ao repertório: em Maceió, para economizar um parafuso, corre-se o risco de criar ambiguidade por uma simples sobreposição física de sinais... (ou seriam signos?) e aí, mermão, você pode ser atropelado por uma "carroça" bem na terrinha de Collor...


Propaganda sub-liminar: o editor deste longo post já está parando...

Sombra e água fresca. Em tempos de férias - para alguns, pois alguém tem que cuidar do loja - vamos encerrar este longo post com uma bela mensagem, ao gosto das Festas de fim de ano, mas sem apelar para cachorrinho vítima de crueldade. Lembram-se do poema de Olavo Bilac sobre as velhas árvores? "Tanto mais belas quanto mais antigas!" Sem problema, se não estiver lembrando ou se nunca leu; tá tudo no google... E tudo, agora, inclui nossa lista de placas comentadas. Promessa de fim de ano: não voltaremos tão cedo com essa onda de novo. Folk-lore urbano, mano véio.

Essa tá certinha e no lugar certo!

(com a aprovação de pássaros e sagüis)

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