segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

dois mil e doze

INTROSPECTIVA 2012

















Kaspar David Friedr...ich

2000
10
2
*

kaspar david friedrich
kdf
kdf
Dürer
São Jerômo (Santa Bárbra!)
Ommmmm...
Ravi: with his sweet Lord now
Down there
Wanderer über Ubajara:
<Nebel - dahinten is Leben>

sábado, 29 de dezembro de 2012

Mea culpa raitéque

Pode ser que a turma do Bill Gates começou na garagem,
mas hoje a tecnomercadoria depende de grandes universidades
e de uma sociedade livre e com alguma grana.


Ninguém liga se um cara qualquer disser que a tecnologia não muda o mundo. Que, de fato, celulares e computadores não melhoraram o mundo.

Mas o Bill não é um cara qualquer. Ele inventou esses equipamentos e ficou rico com a mania de consumo do serumano. Bill Gates tem esperança na tecnologia, mas está decepcionado com os resultados em alguns contextos.

O ministro Cristovam Buarque, em Uberlândia, 2003 ou 2004,
mistificou pacas com esse papo de ciência que surge no fundo do quintal.
Mas escutou a réplica de um colega, professor da arquitetura:
Bullshit!

A frase completa dele é "a inovação tecnológica, por si só, não muda o mundo". Claro, pois "tudo é muito mais", como já cantou o filho de Dona Canô - que Deus a tenha.

Esse kantiano "por si só" recoloca a verdade sobre nossas relações políticas e sociais. E o resto? O fogão, o gás, a comida, o remédio, o emprego e a esperança de liberdade? Cadê?

Claro que é bom ter um velho despertador e acordar de madrugada para tomar as pílulas da pressão, mas é necessário ter as pílulas. Só o sininho do relógio à corda não curava hipertenso algum.

Esse filme é horrível! O equívoco da vida de nossa comandante Ripley...
Mas a frase é boa: "High technology my ass"
(ou seja, "alta tecnologia uma ova!")

Leiam, se quiserem, trecho de Bill Gates em momento natalino de autocrítica:

"Uma década atrás, muita gente acreditava que a proliferação de aparelhos móveis na África significaria um um caminho mais curto para o acesso ao poder digital. Nao foi o que aconteceu. A simples existeência da tecnologia não muda de imediato a forma pela qual as pessoas atendem às suas necessidades."


O texto inteiro está no endereço abaixo:
27/12/2012 - 06h00
Análise: A inovação tecnológica, por si só, não muda o mundo
BILL GATES
ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE, EM SEATTLE


"Alô! É o Bill?

Happy new year, boy!"

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pelé pisou na bola

Pelé deixa hospital
após ser operado à anca
Assim foi dada a notícia em um jornal português. Pelé é o rei da bola. O rei Pelé correu muito, driblou, fez 1200 gols. E de vez em quando pisou na bola. É claro que não queremos ver nosso rei sofrendo e estimo suas melhoras reais. Mas, eis a verdade, caros ouvintes de nossa gazeta esportiva: Pelé virou o pé porque pisou na bola. Realmente, o rei não precisava aparecer nessa campanha do agronegócio. Pegou mal ver o melhor jogador do século XX ao lado daquela dona de fazenda e de outros lobistas do latifúndio. Pisou na bola, torceu o pé, saiu coxeando.
Pelé nao tinha que encher a bola da UDR, que agitou o meio político contra o código florestal. Pelé não precisa de grana e nem de promoção. Logo ele, que ficou famoso em uma área verde de meio hectare: 50 metros por 100. Pelé não precisou de latifúndio para encantar o mundo.  Se te procurarem, não tem que dar bola, meu caro Edson Arantes.
Então, meu caro Rei Pelé, você bem que podia fazer campanha em favor da pequena propriedade rural - produtiva e diversificada. Para driblar a fome das famílias. Ao contrário da monocultura da grama, sobre a qual batia um bolão, o “campo” de plantio fica bonito e sadio, com a diversidade de culturas e uma boa faixa de mato nativo, eternamente no banco dos reservas.

A medida de uma datcha russa é bem menor que um campo de futebol de grama, uns 600 metros quadrados. E decerto um noivo inca ganhava do deus Sol, pelas mãos do rei, uma gleba menor que essa por onde correm vinte e dois marmanjos atrás de uma bola.

EDSON ARANTES FEZ MUITO DINHEIRO
POIS CULTIVOU SEU TALENTO NA PEQUENA ÁREA

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FILOSOFIA CASCUDA E RETORCIDA


Seção de Ética, sub-seção “Mundo véio tá perdido”



Cantora Fiona Apple cancela turnê no Brasil por causa de Pitbull
Em meados de novembro, a cantora norte-americana Fiona Apple fazia uma contagem regressiva em sua página no Facebook “13 dias para o Brasil”. Ela estava ansiosa pela turnê no país, com shows marcados em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, que aconteceriam na última semana do mês. Conhecida no meio indie rock por seu trabalho musical, ela passou a ser assunto também entre os apaixonados por animais. (...) [Correio de Uberlândia - 2/12/12]
OBSERVATÓRIO ROMANO DA IMPRENSA FAIT DIVERS: Viram só? Vocês também caíram na pegadinha do título? A cantora não foi mordida por um pitbull. Ela tem é um bom coração (ein Herz für Tiere) e os fãs hão de compreender sua bela atitude. E a dona Fiona chama nossa atenção, pelo contraste. Três contra-exemplos: uma criança morreu ao cair de um balanço em um parque paulista, mas a direção manteve os brinquedos em funcionamento, "em respeito ao público". A irmã de G. Lima teve um acidente, com morte (da afilhada dele, me parece) e... o cantor do tchererê-tchê-tchê tocou o show, por... respeito ao público. E até nossa querida dupla Milionário e Zé Rico seguiu a cantoria com suas gargantas de ouro, depois que o palco desabou em alguma feira de bois gordos. E dava pra justificar? Sim, de novo, em nome do respeitável público.
Eu sei que o colega Alcino poderia ponderar diferentemente, com apoio na mais atual ética cognitiva. Mas eu prefiro citar Tião Carreiro: "Mundo véio tá perdido." Pra quem não apricêia o rasqueado, sugiro Chico: "Morreu na contramão, atrapalhando o trânsito."
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Seção premeditando a semântica
na fase "alimente seu tamaguchi"
(com uma boa dose de Pustejovsky, por exemplo)

"Um acidente na manhã desta segunda-feira (22) matou duas pessoas e deixou uma ferida na BR-050, no km 124, entre Uberlândia e Uberaba. (...)" [Correio de Udi]
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Delegada de Alagoas, sobre profeta envenenador que previra o fim do mundo e queria levar uma galera para o cemitério: “O profeta era um charlatão e previu  o fim do mundo, o que, como se pode ver, não ocorreu...” [algum canal de TV, outubro de 2012]

E atenção, amigo ouvinte! Aqui quem fala é o Orson Welles:
se você estiver me ouvindo pelas ondas da ZYR4, da Rádio Not Yet,
é porque o mundo não acabou em 2012.



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E esta, que vai merecer uma ilustração original:

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[rumo ao hexa, mas sem histeria]



sábado, 1 de dezembro de 2012

E POR FALAR NISSO, ISSO TEM CURA

como calar
em público

Você é desinibido?
Você fala pelos cotovelos?
Você interrompe as pessoas?

Então, chegou sua vez: venha curar sua verborréia!
Curso MBA* de 600 minutos pelo sistema ausencial

Programa:
1.   Solipsismo grego
2. O silêncio é Zen
3. O solilóquio medieval
4. Ludwig: sobre o dever de calar-se (e é o caso)
5. Business: O sucesso dos Siris
6. Nazareno, um desvio autoritário (núcleo pândego)
7.  A escuta psicanalítica e o tic-tac do desejo

[Case: Os mineiros que calam quietos ]

Exibição dos curtas:
Psiu! A enfermeira tem razão
Saudades do cinema mudo
Cala a boca, Zebedeu!

Workshop: Como fechar a matraca em talk shows
Promoção: Não conte a ninguém e ganhe um fim de semana
                   no SPA dos Falantes Anônimos

40 mil vagas (só para alunos ouvintes)
Grátis para as primeiras 39 mil inscrições**
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* MBA (Meia-Boca Awards é marca registrada da Somewhere University &Co. )
** Quem conseguir ler os termos do contrato, não precisa procurar o foro da comarca e ainda ganha um bônus para nosso
próximo curso. Quanto a este, já aconteceu. Infelizmente, nosso palestrante ficou rouco e não estamos autorizados
a falar sobre isso. Nossos agradecimentos ao bichinho do ran-ran.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

AS HORAS E AS VEZES: NOTEN ZUR LITERATUR

CEMITÉRIO BIZANTINO NA BAHIA
que aparece no filme universal "Abril despedaçado"
(foto nossa, com cactus, feita num abril desses, inteiros)

1. Trechos de notas de uma viagem nossa
11 e 12, sexta e sábado
Sem pressa, de Rio de Contas até Jussiape, passando por belo vale fértil, com açude e moleques nadando. Um pássaro preto e laranja, o sofrê, nessas margens do “Rio Ribeirão” ou Paraguaçu. Uma senhora crente e educada confirma a rota do GPS e nos cobre de bênçãos e vai-com-Deus. Fomos com Ele, subindo serra que chega a 1300 metros. Casas de colonos com cacimba que coleta água de chuva. Um tropeiro solitário conduz um burro com bruacas. As primeiras plantações de palma, o cacto que vaca come e o vaqueiro tombém.
Jantar em Mucugê. Pizza por preço bacana. Na volta, o cemitério bizantino iluminado. Leio uns salmos no domingo, tão cheio de belezas louváveis com a paisagem em volta. E leio João Rosa, sobre seus jagunços, a hora e a vez de cada um. E creio nisso. “Eu vou para o céu, nem que seja na base do porrete!”
(...)

<Capão da Volta (em geral, sem)
Jussiape>
(placa furadinha de bala - foto by Selbstgebaut)


2. Trechos da história do João Rosa, depois recitada para o Véio Olavo e a Dona Nedina

(...)

E seu Joãozinho Bem-Bem, que, com o rabo-do-olho, não deixava de vigiar tudo em volta, virou-se, rápido,
para o Epifânio, que mexia com a winchester:
— Guarda a arma, companheiro, que eu já disse que não quero essa moda de brincar de dar tiro à toa, à toa,
só por amor de espantar os moradores do lugar!...Vamos chegando! Guia a gente, mano velho. 
(...)
E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando
e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.
— Ô gostosura de fim-de-mundo!...

(...)
A coronha do rifle, no pé-do--ouvido... Outro pulo... Outro tiro... Três dos cabras correram, porque outros três estavam mor tos, ou quase, ou fingindo.

E aí o povo encheu a rua, à distância, para ver. Porque não havia mais balas, e seu Joãozinho Bem-Bem mais o Homem do Jumento tinham rodado cá para fora da casa, só em sangue e em molambos de roupas pendentes. E eles negaceavam e pulavam, numa dança ligeira, de sorriso na boca e de faca na mão.

— Se entregue, mano velho, que eu não quero lhe matar...
— Joga a faca fora, dá viva a Deus, e corre, seu Joãozinho Bem-Bem...
— Mano velho! Agora é que tu vai dizer: quantos palmos é que tem, do calcanhar ao cotovelo!...
(...)
(A hora e vez de Augusto Matraga - Guimarães Rosa)


3. Da capa da Folha de São Paulo, em 26/11/2012
Efeitos da campanha por "ficha-limpa"
(Sujou)

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Byzance





quinta-feira, 22 de novembro de 2012

TOP OF THE NEVER MIND

TOP OF THE MIND e NEUROFILOSOFIA


Este blog não participou ainda de nenhuma edição de Top of the mind. Esquema manjado, tipo revista ilustrada de cidades medianas, com dez páginas de coluna social. Logo depois de uma matéria sobre as virtudes do chá verde, na página ao lado está um deslavado comercial de casa de chá. Verdes, as uvas estão verdes, caro Esopo. E vamos, sim, desdenhar do cavalo ruim de dentes, que não podemos comprar. Ou como cantava o grupo Mutantes: “Eu vou sabotar... top! Top! Top! Lari, lari...” (E o Fradim, do Henfil, dava tapa no copinho formado pela outra mão: top, top – no Pasquim do Gip-gip Nnheco-nheco...)
O blog do filósofo do cerrado não ganhou nem menção honrosa nos últimos Tops. Topo. Toppo. Toppo Gigio. Toppolino: Fiat italiano antigo. Se nosso blog não é top, never mind.
Compras. É disso que se trata: mercado. Os publicitários e eempreendeedoress querem reforçar as marcas ® no mercado. E alguns ganham dinheiro para registrar sua marca, com ameaças: antes que alguém roube sua marca. Já tivemos a marca JB®, de José e Bento: tch... Para carimbar os bezerros – pobrecitos - , como se diz no Texas, sempre melhor que a cacofonia de “marcar gado”. Não confundir com o uísque JB, que não era nosso. On the rocks.

Por fim, que está na hora. Nem sempre retemos u’a marca como boa lembrança. Sabe aquela imobiliária sacana, que nos explorava com aluguel e multas? Sim, aquela, com marca e logotipo. Ficou em 1º lugar entre as “top ten” de sua memória, justamente por ser uma empresa com a qual você não quer mais negociar.
E o carro DKW? Pra comprar, era decavê, mas na hora de vender: dkH. E o Alfa? Segundo Jason: na subida, nao tem motor; na descida, nao tem freio; e parado, nao tem preço. E aquele som três em um? Concerta, concerta, estraga. E o dentifrício, aliás, pasta de dentes? Pra meu pai, ainda é Kolynos. E quem entende a indústria? No Brasil, Kolynos virou Sorriso, mas a mesma indústria nossa vende Kolynos no Uruguai. E o jipe Mitsubishi Pajero mudou de nome no Cone Sur – lá é Montero, para não virar piada, pois Pajero é chulo.
Bom mesmo é ouvir Mind games, de John Lennon. Essa sim: top ten de quem já foi teen. Psicodélica in xtrem.
Para quem não tem o vinil, o youtube tem várias entradas, tipo esta:
http://www.youtube.com/watch?v=8dHUfy_YBps
E que essa bela canção-com-melodia-distorcida sirva de fundo musical, enquanto o nobre leitor segue adiante. Agora, sim, uma prosa séria. Repasso o convite, a pedido do colega Leo.


Minicurso na Universidade Federal de Uberlândia

29 e 30 de Novembro de 2012 (14 às 17 horas)
Sala da Pós-Graduação em Filosofia (bloco 1U, perto do restaurante universitário)

Prof. Dr. Gabriel José Corrêa Mograbi

Epistemologia, Ética, Estética e Filosofia da psicologia
 - interfaces neurofilosóficas

Sinopse de mini-curso: O mini-curso funcionará como uma aproximação pensada especialmente para filósofos de interessantes resultados de neurociência e da possibilidade da análise filosófica apropriar-se destes. Tanto questões sobre o cognição quanto questões éticas serão abordadas sob a ótica da neurofilosofia. Também trataremos de alguns temas que relacionam percepção e linguagem com a questão da valoração estética. Ferramentas epistemológicas, lógicas e matemáticas serão usadas para entender e questionar a validade de protocolos experimentais de experimentos da neurociência e avaliações éticas serão feitas das repercussões e relevância dos experimentos."
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+ Conferência na Universidade Federal de Uberlândia
29 de Novembro de 2012 (19:30 horas)
Sala da Pós-Graduação em Filosofia (bloco 1U, perto do restaurante universitário)

Prof. Dr. Gabriel José Corrêa Mograbi

Neuroética x Ética da Neurociência

Sinopse da conferência: Diversas correntes de neurofilosofia e filosofia experimental usam experimentos de neurociência para fundarem as bases de suas éticas. Já por outro lado questões sobre o próprio fazer de neurociência parecem exigir cuidados filosóficos meticulosos para o estabelecimento de critérios éticos e uma normatividade da neurociência. Como estas duas formas de relacionamento entre neurociência e filosofia se informam e se realimentam uma à outra? Como é possível distinguir e relacionar estas duas abordagens?"
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Gabriel J. C. Mograbi é Graduado, Mestre e Doutor em Filosofia pela UFRJ com bolsa do CNPq. Durante seu estágio doutoral no exterior (como parte do Doutorado Sanduíche) foi "Visiting Scholar" na University of California, Berkeley sob orientação do "Slusser Professor of Mind and Language" John R. Searle, com Bolsa PDEE-CAPES. Atualmente, pesquisa Filosofia da Ciência e Filosofia da Mente e especialmente a Epistemologia das Neurociências e Neuroética. Dentre as questões da Epistemologia das Neurociências que pautam sua pesquisa, dedica-se especialmente aos seguintes temas: processos de decisão, a relação entre diferentes níveis de processamento de informação, níveis de consciência e mind-reading. Foi agraciado com o Joshi-Bedekar Award for Young Researchers conferido por esta mesma instituição em associação com a World Psychiatric Association, Indian Council of Philosophical Research e Mens Sana Monographs pela ocasião do International Seminar on Mind, Brain and Consciousness na Índia em 2010. É Professor Adjunto na UFMT, ocupando a cadeira de Epistemologia. É atualmente editor associado convidado para um tópico especial sobre análise filosófica de experimentos de neurociência da decisão do periódico Frontiers in Decision Neuroscience ramificação da organização internacional FRONTIERS IN para publicação e research networking com base em Zurique, Suiça. É também revisor e membro do conselho editorial do periódico Philosophy Study da David Publishing Company, situada em El Monte, Califórnia, EUAe outros periódicos nacionais. Tem diversas publicações na área de filosofia da mente e epistemologia da neurociência em revistas nacionais e internacionais.
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Sessão das doze

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Um recado para nossa vizinha de blog, Rose Dee: vamos cooperar? Escrever juntos um post?
Assim: você escreve sobre/contra comercial machista de cerveja ruim.
E eu escrevo sobre/contra a campanha contra o tabagismo.
Si hay cuentra, soy coentro!
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COMING SOON:



terça-feira, 6 de novembro de 2012

FILOSOFIA É e não é PERFUMARIA


Este blog prometeu (acorrentado à velha moral do fio de bigode) e cumpre: de volta ao tema da maquiagem, para que alguém tente a conexão: o que tem a filosofia a ver com isso, the make up? Muito. E isso não é pouco.

Para os mal informados que opõem filosofia (e poesia) a atividades práticas e pragmáticas, cabe lembrar que o pragmati(ci)smo é também uma filosofia: se funciona, é verdade. E maquiagem funciona, tem efeito. Vejam a diferença acima e abaixo. O antes, o depois (e o mais tarde, de volta pra casa).

A coruja é ela. "It's a she", conforme Abu R. Garg. Minerva também: uma deusa. Ela. E decerto vaidosa no Olimpo, para impressionar inclusive papai, de cuja cabeça ela saiu. Um estouro (plim!) e lá estava ela, poderosa. A coruja era sua mascote. E coruja só sai à noite. Umas do buraco, outras, da torre, pois o mundo é cruel. E não se pode sair à noite e muito menos na náite, sem uns cremes e perfumes, acessórios e cartão de crédito.

Por isso, é de um mau gosto a tradução da frase de Hegel que se refere a essa ave como "o mocho de Minerva". Péssima solução, pois se o mocho é macho, já complicou, degenerou. E, cá no cerrado, mocho é um animal sem chifres. Quem quer isso? Aspas. Em tempo, senhor Houaiss: não confunda mocho com troncho. Enfim, a assimetria é a negação dos padrões clássicos de beleza. Por isso, evitem as blusas de uma manga só, mula manca, as saias que tem a frente mais alta que a parte traseira, brinco só em uma orelha, etc. Não saia troncha por aí, dona Minerva. E não beba demais.


Essas duas fotos acima sairam no mesmo dia em dois importantes jornais do país: a Folha de São Paulo e o Correio, de Uberlândia. Discorda? Pois foram os únicos do país que tiveram matérias utilizadas nas provas do ENEM, last weekend, como diria Ibrahim Sued. E faço, sim, merchandising aqui para os dois jornais que assino e leio há decadas - agora leio online.

Pois, então: as duas fotos são da mesma moça, em estilos diferentes. E mesmo quem não liga para a maquiagem e para a filosofia vai querer logo dizer que prefere esta imagem àquela. Estão vendo? Faz diferença. A moça é um blogueira da hora, famosa no momento, nesses contextos que vão sempre desaguar nas colunas sociais. Nada contra. Há pessoas que não se contentam com as "redes sociais" e aparecem em público, carne e osso e muito creme, alguma química e o charme natural.

Prestes a encerrar esta conversa, once and for all, embora nunca devamos dizer que dessa água Perrier não beberemos. No caso, não deixaremos de beber. É que depois de alguma lenga-lenga, querendo brincar com a aproximação dos temas filosofia e maquiagem, encurtei o caminho ao saber de uma marca de produtos para a beleza da mulher que é, justamente: PHILOSOPHY.

E digo mais: cosméticos, cosmos, cosmologia - tudo contra o caos

Pronto: fim de papo. Philosophy é make up. E make up é Philosophy, para os fãs e os donos do loja. E vejam que não é tão gratuita assim a adoção da marca. Há produtos deles com rótulos que indicam conceitos tão genuínos e puros quanto "graça", "esperança" e "pureza". Coerentes, portanto.

Muitas marcas hoje em dia anunciam sua missão e sua "filosofia". Mas esta marca já é philosophy. Só.


"Me? I'm just a lawn-mower..." (Genesis)

Para quem busca definição de filosofia eis uma, quentinha:
philosophy is a brand that approaches personal care from a skin care point of view, while celebrating the beauty of the human spirit.  our skin care products, fragrances, bath and body products and philosophy gift sets are formulated with scientifically-proven ingredients
E para quem acha que uma empresa só permanece no mercado se aplicar princípios gerenciais estritos e frios, em nome de alguma racionalidade, veja o slogan dessa empresa digna dos "salões de beleza":

philosophy: believe in miracles 


Sim, o milagre da beleza, da vida e, sobretudo, da graça. "Ela não anda; ela desfila". Por aí.

Não é qualquer empresa que pode lançar um "release" no frasco: alívio


Quanto à disciplina acadêmica filosofia, para quem visa diploma e uma vaga na ANPOF, um aviso, a pedido da ANVISA: aprender essa conversa sofisticada dos filósofos é mais difícil que aprontar uma noiva. E uma atividade não exclui a outra. Você aí pode trabalhar no beauty parlor e estudar filosofia. E nada disso dura muito tempo: é preciso chegar em casa e remover a maquiagem, tirar as roupas apertadas.  Teorias e interpretações também entram na moda e saem da moda, no campo das vaidades acadêmicas. Perecíveis. Ou efêmeras, tipo um sorriso.



O grande mestre Stein dizia, circa 1983 ou 1991, que "não existe um kit para filosofar". Quem passou pelo cursinho, entenda: não há macetes na filosofia - e muito menos neste blog. Tens que ralar. Mas, vamos abrir algumas exceções, em favor das netas de meu vetusto mestre, de la Selva e de minhas queridas sobrinhas: eis um kit.

Algo assim, na linha do que disse a "Cidinha Lopes":
"GIRLS JUST WANNA HAVE FUN"


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SACI, SANDY E SANDICES DE PUXA-SACOS

Quando eu era criança, não exatamente em Barbacena, o ar quente de aguosto e setuembro provocava redemoinhos de poeira. Os moleques mais levados daquelas ruas entravam no meio do negócio e tentavam rodar o corpo no sentido contrário. Isso poderia desativar o "redimunho", ao contrariar o capetinha que ia lá dentro. Saci era dessa categoria e fazia suas pequenas diabruras só para atazanar a vida das lavadeiras de roupa. As mães católicas olhavam de rabo de olho e não aprovavam nem esse enfrentamento do coisa-ruim e nem girar o berra-boi, pois foi um instrumento do suplício de Jesus.

Mas aí vieram o Ziraldo e o programa de Lobato na TV, com o sítio do pica-pau. E o Saci tornou-se cada vez mais uma figura querida de nossa imaginação. Nos anos enta, a Caixa Econômica Federal lançou uma campanha de poupança que tinha um saci biônico como mascote... Quem abria uma conta ganhava um cofre-nik. Mas não sei se já havia correção monetária e muita gente não compraria nem um picolé, anos depois, com suas economias.

Em São Luís do Paraitinga, na Serra da Mantiqueira,
a Sacilogia é uma ciência empírica que reúnde observadores
e conta com entidade e estatuto: SOSACI

Desde entonces ou desde sempre, nossas finanças brigam com o dólar e nossas tradições tem que disputar com invenções estranhas. Está certo, podemos e até devemos aprender um inglesinho do gasto, mas sem macaquear os ianques, por favor. Nos EUA, eles tem essa brincadeira com abóboras e máscaras. Um lance de consumo, antes do dia de Todos os Santos. Creio que os brasileiros teriam mais afinidades com a festa religiosa mexicana, um dia depois, Finados. Se chover, a festa será maior ainda. Pois somos dois povos cristãos e cheios de santos e de respeito pelos muertos. Mas sem medo de assombração.

Se o Saci está no redemoinho, pode estar também no enorme furacão com 1.600 km de diâmetro que esgadanhou parte de Noviorque e adjacências, anteontem. Tão violento, mas sempre com nomes de mocinhas: Sandy, Sandrinha. Lamento mais pelas mortes e menos pelos prejuízos. Quem mandou fazer casa de papelão na areia? Como construir no subsolo de uma ilha? Para que refazer os prédios das Torres Gêmeas? Resposta: por pura prepotência, arrogância. Bastava um jardim meditativo ali. Um anjo barroco absorto.


E agora, nossa mídia. Que vergonha! Alguns repórteres deslumbrados, com água pelos joelhos, quase choram diante de uma bandeira norte-americana rasgada pelo vento furioso... Menos. Menos. Essa imprensa vendida lamenta, com razão, - nós aqui também - as cinquenta mortes. Mas não dá destaque às 2.300 pessoas que foram mortas no Afeganistão, na era Obama, por meio dos sacanas drones (aviões não tripulados).

Uma universidade norte-americana esteve avaliando os números desses ataques em áreas de combate. Segundo essas fontes deles, a eficiência do equipamento é a seguinte: quem envia os drones não corre risco e não morre. Mas, do lado de lá, no Afeganistão, a população civil não tem sossego com esses troços zunindo nos céus, dia e noite. E podem atirar bombas a torto e a direito, a qualquer hora. Os pesquisadores universitários calculam que menos de 2% dos mortos são, de fato, "terroristas", segundo definições e critérios criados por eles. Ora, ora. A aversão aos invasores é maior que isso e, decerto, crescente.
ABÓBORA?

SÓ SE FOR COM CARNE SECA...

Em outros tempos, esse papel do estudo sobre impacto de bombas coube a uma pessoa: John Kenneth Galbraith. Antes da Segunda Guerra, esse economista canadense a serviço dos USA, trabalhava em controle de preços. Serviu diversos presidentes, democratas e republicanos. Mas, como a guerra é também a continuação dos negócios por outros meios, de preços o gringo passou a bombas; analisava a eficácia dos bombardeios, o custo/benefício - expressão em uso muito impróprio, nesse caso. Galbraith exibia uma frieza típica de um liberal, que depois escreveria memórias, sob o título "Contando vantagem". Uma diferença hoje talvez seja a preocupação acadêmica com os direitos humanos. Mas, essa doutrina não parece tão eficaz  e barata quanto bombas voadoras nada seletivas.
OS ESPANHÓIS TAMBÉM, COM 25% DE DESEMPREGO,
DEVIAM APRENDER A LIÇÃO E RESPEITAR A COMIDA, SAGRADA:
ACABAR COM AQUELA BESTEIRA DE GUERRA DE TOMATES

Eles, acima do Equador, neste continente, não acreditam em direitos humanos na periferia do império. Eles e elas não acreditam em aquecimento global e não vieram assinar compromissos na Rio+20. Eles e elas não acreditam em castigo e brincam com assombração. Brincam com fogo, desperdiçam comida e confundem santos com espíritos malignos. Por via das dúvidas, se você aí cruzar com alguma entidade ou espectro,  numa noite de apagão - por causa de pique em fim de novela no lixão - é melhor cortar uma volta e rezar alguma coisa pertinente, pois pode ser uma alma penada. E diga também e repita umas emboladas oportunas, entremeando uns "vade retro" e uns "t'esconjuro". Seja eclético em país mestiço. Cruz Credo!

Mas o que nos arrepia e assusta pode ser apenas mais uma molecagem, como esta e tantas outras. Coisa de Saci, pra não se levar muito a sério. E depois do susto, é sempre bom restabelecer a diferença: o que é cosia séria e sagrada / o que é presepada e perfumaria. O que é costume nosso / o que é consumo dos outros. Etc.


TÁXIS AMARELO-ABÓBORA FLUTUAM NO RIO HUDSON

(Americanos deram bandeira dois com essa festa bizarra)

(foto com créditos no cantinho, deu na FSP, hoje)

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UM POUCO DE FILOSOFIA ILUSTRADA

De volta nosso personagem Godofredo Bolacha,
em homenagem ao pragmático Leibniz,
que acreditava ser este o melhor dos mundos possíveis.


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Em breve nesta tela:

FILOSOFIA & MAKE UP

A médio prazo:

AMBIGUIDADES & PUSTEJOVSKY

Sine dia:

NOVAS ANEDOTAS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA UNIVERSAL