sexta-feira, 1 de julho de 2011

NOSSO BAR NO "ENTRE-RIOS"

O lema dos mineiros, libertas quae sera (tamen), já foi traduzido como "liberdade ainda que à tardinha". É a bandeira em favor da happy hour nos butecos, com direito a um queijinho assado. Segundo Millor Fernandes, o "tamen" está sobrando, pois pertence à frase seguinte de algum clássico. A conferir, ou seja, CERVEJA! Pronto: aí acabou a aula de sexta-feira à noite e ninguém segura mais. E nessa altura, já passaram a lista e os celulares organizam as turmas que vão se formar nos bares mais próximos. Calma, calma! Não vem aí uma bronca, pois isso aqui não é site dos AA; não há alcóolicos terminais aqui e nem são anônimos. Eis os nomes, abaixo da fotografia.
Quem são esses caras? Parecidos com o Almandino, o primo Batista e o João Donizete, não? São os iraquianos Moyed, Bassam e Hatem. Só falta o Zeca Pagodinho. Sim, esses caras no país tão distante e sofrido são nossos chegados. Muitos dirigiram nossos Passats e, quem sabe, alguns tem nosso sangue, pois tantos brasileiros estiveram lá trabalhando em obras, antes da guerra. Ah! a guerra. Que merda de guerra, pô!

Esses brothers aí usam a net, twitter e facebook, para driblar a polícia e... montar seu bar. Nessa cena aí, com baldinho de gelo e belas palmeiras, estão na sede da União dos Escritores do Iraque. São escritores e militantes em favor da liberdade. Tomar uma, no Iraque de hoje, é um ato de rebeldia e de resistência. Depois da ditadura, da guerra, do embargo, sofrem agora com a intervenção dos gringos e com a linha dura do governo instalado a ferro e fogo.

E daí? O que é que tem o Cuca a ver com as calças? Duas coisas: a ironia da história (sacanagem da grossa, mesmo) e a origem de uma sociabilidade favorável à democracia.

SÓ NO CANUDINHO, MERMÃO!


Vemos aí dois caras bebendo cerveja de canudinho. Mas olha o tamanho do barril: isso é que é litrão! A imagem tem mais de 6.000 anos e foi encontrada em Tepe Gawra, Mesopotâmia ou seja, cerveja Iraquiana, lá do "Entre-rios". Se alguém aí acha isso antigo, bota antiguidade nisso, pois o paraíso bíblico de Adão e Eva ficava lá, entre o rio Tigre e o rio Eufrates, não é?
Esse aqui tá mais pra inventor do chimarrão, tchê!
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 Os iraquianos inventaram tanta coisa boa - ou descobriram, no caso - e aí vem os soldados dos Bushes e matam gente, roubam tesouros de museus e... proibem os bares. Sim, segundo a velha brincadeira do "pão líquido", a cerveja é, sim, um feliz acidente de percurso: um pão que não deu certo, feito do mesmo cereal. Quem reclama? Essa cerveja devia ser muito encorpada, com palha e grãos de cereal. Mais grossa que a Caracu. Daí a necessidade do canudo. E parece que ainda existe por lá, tipo kaluji do nosso Xingu.
Hoje é festa na floresta. Traga seu canudo.


AQUI É GUINNESS NO GUINESS!
Ué? Cadê as mulé? Este post mais parece uma foto de formatura no quartel. Pois então, aí vai. A cerveja irlandesa é um mito, só comparável a James Joyce. E esse copo é maior que o Ulysses. Mas não precisam ir tão longe, pois na Guiana Inglesa, de pouca indústria, existe uma dessas cervejas - escura e forte. Made in Guiana. Melhor beber uma ali que no vizinho país Venezuela, onde Chavez regula o álcool (também). Aliás, um brinde a ele, sem ironia: que fique de novo sadio (e a democracia bolivariana também) e pronto pra tomar uma Quilmes Bock. Não só de rum, camarada...

O apelo à imagem das moças em anúncio de cerveja não parece ter sido, portanto, uma invenção recente da indústria. As mulhere sempre beberam alguma e fabricam também. E naquele calor do Egito, para onde a bebida foi, tinham que trabalhar topless.

Nada contra, a não ser pelas modernas normas de higiene. O progresso técnico move o mundo. Se, por um lado, a cerveja foi um feliz acaso, uma descoberta de uma padeira descuidada, já o trigo foi inventado no Egito para dar conta da demanda: cerveja e, se sobrar, pão. Bom também.

Na Alemanha, nossa referência de cerveja e Oktoberfest, a mascota reúne tudo: pão e cerveja. É a Münchner Kindl, mas advertimos: criança não pode beber. Senão perde a faixa de rainha da festa.
Isso pode ser em Blumenau ou Munique, Baviera, terra do filósofo Habermas. Seu livro Mudança Estrutural da Esfera Pública fala disso: como a sociedade burguesa se preparou para o exercício democrático do poder, em torno de mesas de pub e clubes, nos séculos XVIII e seguintes.
Mas se querem um livro mais light, quase uma Liber, sem álcool, leiam o excelente História do mundo em seis copos, deTom Standage.   E fiquem tranquilos, pois alguns copos são de bebida sem álcool: coca, chá e café.

Então, o papo da cerveja, em torno da defesa do direito de reunião - inclusive pra falar mal do governo - vem a ser uma dica para a leitura de obras que refazem o caminho da formação da opinião pública, instituto temido pelos ditadores de épocas diversas e moralistas em geral.

Há, todavia, uma conexão mais imediata entre cerveja e filosofia, neste caso, negativa: não dá para filosofar - no sentido mais silencioso e concentrado do termo - quando a rapaziada da república ali do lado resolver começar à tarde, numa sexta-feira, a festa que vai varar a náite, certamente. De boa. Deve ser a despedida do semestre, início do inverno. Enfim, hora de exercitarmos outros gêneros literários, como este aqui, o post, ao som de hits sertanejos. Tem base?

EM TEMPO: Este blog não  é contra a lei seca no Brasil, tipo, "se beber, vá a pé, mesmo em zig zag", todavia não pode aprovar a lei seca à moda talibã, tipo: "mulher não dirige e nem bebe". Nada a ver.

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Créditos: o blog agradece ao pintor primitivo pela imagem dos bebedores de cerveja no canudinho. A foto inicial está na Folha de São Paulo, onde o artigo citado pode ser lido na íntegra. Tentem este endereço: http://edicaodigital.folha.com.br/home.aspx?cod=JPKQCOOOEOO (edição de 26-junho- 2011)


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