quinta-feira, 17 de agosto de 2023

"...ELE MORA NO BRÁS" (ROUBARAM A CASA DO ERNESTO)

 

Ernst Tugendhat (1930-2023)

P.S.1) A casa modernista Bauhaus. Ernest era de família rica. Rica o bastante para contratar o famoso arquiteto Ludwig Mies van der Rohe, que desenhou casa-caixote típica da Bauhaus, construída em 1929-30. Ernestinho nasceu ali em 1930 e lá viveu até quase se entender por gente. Aí, os nazistas alemães invadiram a Tchecoslováquia. Como disse perto dali o pai de Carlos Raimundo Popper, “denn ist es leider Krieg”.  

 

Ou, como disse ou diria um certo Daudet, a respeito do automóvel: “C’est la guerre!” A família Tugendhat, que era judia, teve que fugir – primeiro para a Suíça e depois para a Venezuela. Sim, havia judeus ricos e os nazistas roubavam seus bens e tomavam suas empresas. Quem lê textos de ética precisa saber desses episódios. E quem tive coragem invente tempo e leia o livro preto com botas do cano alto: Behemoth, de Franz Neumann. Entender como o movimento fascista preparou e executou a cruel  perseguição, depois de expropriar e marginalizar os judeus pobres e ricos.

A casa, que é a única edificação modernista tombada pela UNESCO no território da atual República Tcheca, foi restaurada entre 2010 e 2012. Desde então, é um espaço cultural com o nome de Villa Tugendhat e ingressos a partir de 80,00 (oitenta reais). Podemos ver fotos, conferir preços e programação digitando-se apenas <tugendhat.eu>

Em 2007, Ernst e mais dois herdeiros entraram na justiça para recuperar a posse da casa da família, que então se tornara parte do patrimônio público municipal. E a prefeitura de Brno não a quer devolver, segundo o jornal Brno Daily. Ética e justiça não são meros conceitos, meus caros e minhas queridas. São demandas graves, disputas pelo espaço vital e em nome da honra, etc.

Tipo história de uma casa (assassinada ou tomada) pelo desvio do “tombamento”: a família perde para os nazistas o imóvel de referência afetiva e, depois, para o poder público restaurador, no que dão razão a tese-título de Walter Benjamin: documentos de cultura/documentos de barbárie. Com o perdão dos bárbaros.


Mies projetou essa beleza.
Nazistas tomaram. Prefeitura se apossou. 

Ernesto no prejuízo hasta la muerte... 


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