quinta-feira, 24 de agosto de 2023

"NÓIS VORTEMO COM UMA BAITA DE UMA REIVA" (Tugendhat, terceira parte)

 

Exemplos claros de eurocentrismo

Não se trata de um defeito de nosso homenageado, mas dos meios de comunicação estrangeiros e até de nossa consciência colonizada. À época do falecimento desse filósofo simpático e disposto a promover a inclusão do outro, poucos meios deram a notícia por aqui. E demorei para ver uma nota no site da ANPOF. Talvez sites de departamentos de filosofia e direito tenham prestado homenagens, de circulação mais restrita.

A onipresente Wikipedia atualizou o verbete Tugendhat por ocasião de sua morte, fechou o parênteses aberto com data de nascimento e reticências. Mas, não deu uma informação sequer sobre a passagem do filósofo pelo Brasil e nem sobre os livros que ele lançou aqui ou foram traduzidos por nós brasileiros. Achei apenas uma linha, como exceção, na seção  “Further Reading”, que indica um texto do colega Prof. Adriano Naves, de 2008, sobre a filosofia moral de Tugendhat.

A “Villa Tugendhat Bauhaus”, referida acima, deu a notícia da morte e até postou fotos de arranjos de flores e fitas roxas, mas, na curta biografia daquele de quem tomaram a residência... nada sobre a passagem dele pelo Brasil.

O respeitado canal estatal alemão Deutsche Welle seguiu o costume guiado pela empáfia e ignorou a passagem de Ernst pelo Brasil. Após apresentá-lo devidamente no título da matéria como “um dos mais importantes proponentes da filosofia analítica da linguagem na Alemanha”, a DW pula por cima de duas décadas:   “Em 1992, ele voltou a América do Sul para lecionar em Santiago do Chile. Ele então voltou a Europa onde passou a maior parte de sua aposentadoria em Tübingen, até se mudar em 2013 para Freiburg, onde faleceu”.

Mesmo a nota da ANPOF, assinada por L. C., merece complementos. “Anpof, Nota de falecimento, 15/03/2023. Durante a década de 1990, a presença do Prof. Tugendhat foi assídua principalmente nestas três cidades: em Ijuí (...); em Santa Maria, (...), e em Porto Alegre (...)”. Sim, tenho que completar com Goiânia. E não acho inoportuno, nem inadequado corrigir os jornalistas e filósofos alemães, pois muitos deles nos querem apenas para divulgar e traduzir suas teorias e delírios continentais, mas não nos tratam à altura.

Enfim, faço aqui o que o velho Ernest teria feito em sua defesa, se pudesse, em meio a elogios fúnebres eventualmente hipócritas: “Periferia não! Há uma intensa atividade filosófica no Brasil! E lá pude debater meus temas e os deles em alto nível, com intenções práticas, muss man sagen...” (Olhar cortante e murro na mesa. E isto foi uma homenagem).

Recentemente, um amigo do titio lançou – em um livro de memórias e causos – dois capítulos sobre sua passagem pela Alemanha, como bolsista. Um colega, que também tinha vivido lá por um ano, leu esses dois capítulos mesclados de críticas e anedotas e enviou o seguinte comentário, digno de nota:

Certa vez, perguntaram-me, quando estudei na Alemanha, se eu gostaria de morar na Alemanha, à qual indagação respondi: "a Alemanha e os alemães são ótimos, mas prefiro viver no Brasil. O interlocutor retrucou: por qual razão? E eu respondi: vocês são geniais, mas diminuem os estrangeiros e sua cultura. Vocês são orgulhosos demais, para cederem  espaço e consideração a brasileiros". (J.F.O.)




Agradecemos, em memória, ao grande músico e gozador Adoniran Barbosa. E aqui vai a estrofe inteira, do “Samba do Arnesto”, gravado em 1953:

O Arnesto nos convidou Prum' samba, ele mora no Brás Nós fumos, não encontremos ninguém Nós vortemos com uma baita duma reiva Da outra vez, nós num vai mais


 

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