Exemplos claros de eurocentrismo.
Não se trata de um defeito de nosso
homenageado, mas dos meios de comunicação estrangeiros e até de nossa
consciência colonizada. À época do falecimento desse filósofo simpático e disposto
a promover a inclusão do outro, poucos meios deram a notícia por aqui. E
demorei para ver uma nota no site da ANPOF. Talvez sites de departamentos de
filosofia e direito tenham prestado homenagens, de circulação mais restrita.
A onipresente Wikipedia
atualizou o verbete Tugendhat por ocasião de sua morte, fechou o parênteses
aberto com data de nascimento e reticências. Mas, não deu uma informação sequer
sobre a passagem do filósofo pelo Brasil e nem sobre os livros que ele lançou
aqui ou foram traduzidos por nós brasileiros. Achei apenas uma linha, como
exceção, na seção “Further Reading”, que
indica um texto do colega Prof. Adriano Naves, de 2008, sobre a filosofia moral
de Tugendhat.
A “Villa Tugendhat
Bauhaus”, referida acima, deu a notícia da morte e até postou fotos de arranjos
de flores e fitas roxas, mas, na curta biografia daquele de quem tomaram a
residência... nada sobre a passagem dele pelo Brasil.
O respeitado canal
estatal alemão Deutsche Welle seguiu o costume guiado pela empáfia e ignorou a
passagem de Ernst pelo Brasil. Após apresentá-lo devidamente no título da
matéria como “um dos mais importantes
proponentes da filosofia analítica da linguagem na Alemanha”, a DW pula por
cima de duas décadas: “Em 1992, ele voltou a América do Sul para
lecionar em Santiago do Chile. Ele então voltou a Europa onde passou a maior
parte de sua aposentadoria em Tübingen, até se mudar em 2013 para Freiburg,
onde faleceu”.
Mesmo a nota da ANPOF,
assinada por L. C., merece
complementos. “Anpof, Nota de falecimento,
15/03/2023. Durante a década de 1990, a presença do Prof. Tugendhat foi assídua
principalmente nestas três cidades: em Ijuí (...); em Santa Maria, (...), e em
Porto Alegre (...)”. Sim, tenho que completar com Goiânia. E não acho
inoportuno, nem inadequado corrigir os jornalistas e filósofos alemães, pois muitos
deles nos querem apenas para divulgar e traduzir suas teorias e delírios
continentais, mas não nos tratam à altura.
Enfim,
faço aqui o que o velho Ernest teria feito em sua defesa,
se pudesse, em meio a elogios fúnebres eventualmente hipócritas: “Periferia
não! Há uma intensa atividade filosófica no Brasil! E lá pude debater meus
temas e os deles em alto nível, com intenções práticas, muss man sagen...” (Olhar cortante e murro na mesa. E isto foi uma
homenagem).
Recentemente,
um amigo do titio lançou – em um livro de memórias e causos – dois capítulos
sobre sua passagem pela Alemanha, como bolsista. Um colega, que também tinha
vivido lá por um ano, leu esses dois capítulos mesclados de críticas e anedotas
e enviou o seguinte comentário, digno de nota:
Certa vez, perguntaram-me, quando estudei na
Alemanha, se eu gostaria de morar na Alemanha, à qual indagação respondi:
"a Alemanha e os alemães são ótimos, mas prefiro viver no Brasil. O
interlocutor retrucou: por qual razão? E eu respondi: vocês são geniais, mas
diminuem os estrangeiros e sua cultura. Vocês são orgulhosos demais, para
cederem espaço e consideração a brasileiros". (J.F.O.)
Agradecemos,
em memória, ao grande músico e gozador Adoniran Barbosa. E aqui vai a estrofe
inteira, do “Samba do Arnesto”, gravado em 1953:
“O Arnesto nos
convidouPrum' samba, ele mora no Brás
Nós fumos, não encontremos ninguém
Nós vortemos com uma baita duma reiva
Da outra vez, nós num vai mais”
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