CARTA AO SENADOR CRISTOVAM BUARQUE
(DF)
Uberlândia, 30 de abril de 2016
Prezado Sr. Senador,
Eu sou professor aposentado da Universidade
Federal de Uberlândia e me lembro bem de sua vinda a nossa cidade para a
inauguração do Bloco 3Q. No belo auditório daquele prédio, o Sr. mostrou-se
muito tarimbado no domínio do palco, habilidade certamente desenvolvida à
época em que foi reitor da UnB. Soube lidar com os manifestantes – estudantes
e professores - que trouxeram faixas. Combinou o ilustre visitante que cada
faixa ou cartaz seria lida ao microfone por ele mesmo e, em seguida, cada
militante iria abaixar a cartolina ou enrolar a faixa de pano pintada.
Nosso sindicato defendia, talvez desconfiando do
futuro, a “autonomia universitária”. A resposta do atual Senador, curta e
genial, relativizou essa pretensão: “Acima da autonomia da universidade está
a soberania da nação!”
Claro. Ali estava o representante do executivo,
responsável pela importantíssima pasta da educação, a reafirmar um valioso
ideal republicano.
Ora, recentemente lembrei-me dessa doutrina tão
preciosa, quando a Polícia Federal, já com bastante verba e margem de ação,
passou a reivindicar um descolamento perigoso, sob essa bandeira da
autonomia. Como assim? Acima do Ministério da Justiça? Acima dos interesses
de nossa nação e da governabilidade?
Pois bem, caro Senador, fiquei esperando que o
Sr. se manifestasse então com a mesma veemência de dez anos atrás, em nome da
soberania. Talvez tenha falado sobre isso. Nem sempre acompanho os discursos
e intervenções do seu mandato.
Além dessa defesa da soberania, como parte do
ideário republicano, em uma outra
ocasião ouvi também em algum depoimento seu a expressão “refundação”,
que é também parte da retórica de alguns novos teóricos do Republicanismo.
Em sala de aula – depois de uma banca de mestrado
no Piauí – há três anos, encerrei minha carreira com um estudo sobre a
república. Deixando de lado o idealista Platão, retomei o fio da meada com a
bela obra de Cícero, mas corri logo para um autor atual, Philipp Pettit. O
filósofo irlandês, nascido em 1945, tem várias obras e é tido como um dos
mentores do governo espanhol – ou era, no mandato de Zapatero.
Caro Senador, desculpe-me por chateá-lo com uma
conversa de filósofo. Embora não se possa fazer em uma carta como esta uma
crítica extensa ao neo-republicanismo, vai um esboço: a posição de Pettit é
muito fraca (o modelo “editorial’ de política é uma ofensa à tradição de
participação da sociedade civil e do debate no espaço público) e inspira uma
recaída conservadora: essa visão de república assume o poder do ponto de
vista do sistema, dos gestores, do controle social, ou seja, joga para
escanteio os nobres valores democráticos, que é são contraponto e dão a
direção para conduzir a um Estado de Direito, etc.
Ora, esta carta inclui um pedido, que já está
encaminhado pela preferência pela democracia acima manifestada. Passemos por
cima das siglas e das trocas de partido (PT>PDT>PPS) e respondamos aos
desafios deste momento que tanto nos preocupa no Brasil. Sua experiência e
seu compromisso com o país, tão bem representados na reitoria da UnB, no
governo do DF e no Senado desta República, deveriam ser valorizados com uma
resposta madura e digna nos próximos dias: contra o impeachment.
Prezado Senador, vote contra o Golpe em curso!
Não se junte aos covardes e oportunistas que querem destituir uma Presidenta
eleita, com mandato legítimo ainda por cumprir.
Sei que o Sr. admirava Darci Ribeiro. Penso
naquele bem elaborado livro dele, Aos
trancos e barrancos, que cobria a história do Brasil, de 1900 a
1980. Além de dar um apelido a cada
ano, ele fez a lista dos pensadores reacionários e dos inimigos do povo.
Creio que, sim, ele chamaria 2016 “o ano da farsa” e castigaria com sua
crítica inteligente figuras lamentáveis como Miguel Reale e Hélio Bicudo.
Darci se foi. Cabe a nós manter a eterna vigilância, preço da liberdade.
Não fique do lado errado da história, caro
Senador Cristovam Buarque.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Bento Itamar Borges
Well,
Dois dias depois de enviada por
email, esta carta não obteve resposta e nem confirmação de recebimento.
Aguardo. Espero ter mais atenção que em 2011, quando, no calor do debate
sobre o novo Código Florestal, empenhei-me no debate e enviei petição aos
três senadores por Minas Gerais. Deles, apenas Zezé Perrela, por meio de
assistente, notificou o recebimento de minha manifestação. Confiram.
Seja como for (pois nem sei se acredito nas ditas hotlines dos SACs corporativos, incl. zerooitocentos), divulgo aqui uma
cópia da carta envida ao Senador Buarque, como registro – também da crença em
que as idéias se organizam melhor no papel e de que podemos adequar nossos
estados emocionais a gêneros literários ponderados e responsáveis, ou seja,
respondíveis, na base de “excelentíssimo” para lá, “digníssimo” para cá, etc.
|
De: Bento Borges ...@gmail.com
Enviada em: quinta-feira, 24 de novembro de 2011 13:21
Para: Sen. Aécio Neves; Sen. Clésio Andrade; Sen. Zezé Perrella
Assunto: Um apelo em favor de MG e de nosso futuro
Enviada em: quinta-feira, 24 de novembro de 2011 13:21
Para: Sen. Aécio Neves; Sen. Clésio Andrade; Sen. Zezé Perrella
Assunto: Um apelo em favor de MG e de nosso futuro
Senhor Bento,
Acusamos o recebimento da mensagem e
informamos que sua manifestação foi levada ao conhecimento do senador Zeze
Perrella.
Atenciosamente
Sem dar piti:
eis um post-scriptum, apêndice usual em missivas deste naipe. Sobre o
Philipp Pettit, citado na carta ao Senador Buarque, podem os leitores deste
blog consultar, se queiserem, umas notas em outro blog nosso, que, aliás, anda
saindo da hibernação:
http://filosofodocerrado.blogspot.com.br/2012/09/dois-filipinhos-e-um-litrao-de-chopp.html
Um comentário:
aqui vai um comentário: é isso aí!!!!
:)
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