17 de abril
O DIA DO MASSACRE
O Filósofo do Cerrado
participou de uma mesa-redonda no 1º Simpósio Internacional
de Ética e Política, na Universidade Federal de
Goiás, em abril de 1996. O encontro de teóricos ocorreu uma semana depois do
terrível massacre. Disposto a quebrar a cara, o filósofo referiu-se a esse
triste exemplo de violência do Estado contra pobres trabalhadores – condição
bastante parecida com a situação dos curdos, que o referido Habermas deveria
conhecer bem na sua Alemanha, etc.
O texto, publicado dois
anos depois, pode ser lido na íntegra e de graça, neste endereço:
Entre o ano do evento e
o da publicação, passou por Uberlândia uma caravana de Trabalhadores Rurais
Sem-terra, que marchava rumo à Brasília, em
busca de terra, trabalho, liberdade e justiça. Uma exposição de fotos feitas
por Sebastião Salgado foi organizado no Colégio Nacional, onde também podia ser
adquirido o livro dele. A nota 13 acima refere-se a uma das fotos, mas no
momento não tenho como reproduzir aqui a imagem exata.
Ontem, dia 17 de abril
de 2016, os grandes jornais não se lembraram desse lamentável aniversário. A
grande imprensa golpista estava ocupada na organização de outro ataque: um golpe contra a democracia, ao encaminhar a
admissibilidade do impeachment de uma presidenta eleita e legitimada. O complô
dos golpistas contava ontem com a tropa de choque de bandidos, latifundiários,
pastores fascistas e torturadores, siglas de aluguel, em mesa presidida por um
gangster diabólico e hipócrita. #foracunha!
Uma exceção: uma rádio
da cidade de Marabá lembra os mortos e feridos (e criminosos impunes).
O
Jornal Brasil de Fato – do tipo que não vemos em salas de espera de
consultórios médicos – também publicou matéria alusiva ao episódio de 96 e às lutas atuais por terra e por paz, sobretudo no Pará.
https://www.brasildefato.com.br/2016/04/17/acampamento-em-eldorado-dos-carajas-homenageia-mortos-e-debate-as-novas-lutas/
Nestes
vinte anos, mais 271 trabalhadores rurais e lideranças foram assassinados somente
no estado do Pará, traçando um trágico cenário da luta pelo direito à terra no
Brasil. Em 2015,
o Brasil registrou o maior número de mortes por conflitos por terra dos últimos
12 anos. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) registrou
50 assassinatos, 144 pessoas ameaçadas e 59 tentativas de homicídio em
conflitos no campo. Os estados de Rondônia, Pará e Maranhão concentram 90%
desses casos.
Somente
no estado do Pará, entre 1964 e 2014 (40 anos), foram registrados 947 assassinatos de trabalhadores rurais, lideranças,
religiosos e advogados. As regiões sul e sudeste do estado apresentam os
índices mais altos de violência e concentram a maioria dos assassinatos de
trabalhadores e lideranças rurais
https://anistia.org.br/noticias/massacre-de-eldorado-dos-carajas-20-anos-de-impunidade-e-violencia-campo/
Este mês, duas mortes
no campo chamaram nossa atenção. A polícia do Paraná
executou os dois trabalhadores rurais, em demanda com empresas de
celulose. A preocupação inclui o simbólico (na verdade, diabólico) e o
sintomático: o estado do Paraná está, lamentavelmente, servindo ao golpe em
curso, ao sediar o quartel-general do Delegado Moro e seus hipócritas apoiadores. #ficadilma!
Quem nos ajuda a
entender a tramoia em curso é um filósofo, de quem muito me orgulho: Aldo Fornazieri, meu colega de mestrado no Rio Grande
do Sul, há trinta anos. Tem aparecido também em canais de TV que promovem o
esclarecimento e a análise política. Outro dia, ele escrevia sobre os quatro
tabuleiros desse jogo perigoso, o golpe midiático-judicial. E eu gostaria de
perguntar a ele ou de continuar a crítica assim: “...e quem é o dono do
cassino?”
O filósofo
do cerrado anda longe da sala de aula e da mídia. Não tem feito suas charges e
nem contribuído para o debate público, mas se orgulha de poder recomendar
também o filósofo Vladimir Safatle. Aqui vai um
texto recente dele, retransmitido em blog de Luciana Genro - mas pode ser lido nos sites da Folha de São Paulo e da UOL, onde apareceu primeiro.
http://lucianagenro.com.br/2016/04/sobre-o-impeachment-e-um-inaceitavel-governo-temer-duas-opinioes/
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