Mãe coragem não fez piquenique no front
Imaginava-se que o título original da peça de Brecht fosse “Mutter Mut”. Engano; era “Mutter Courage”. E pode ter sido a genitora de nossos televisivos João Coragem y hermanos.
Melhor seria, então, uma comédia para celebrar este Dia das Manhas. O “Piquenique no front”, de Arrabal, sim: é divertido. A mãe do soldado vai visitá-lo no front. Uma batalha besta como todas e tantas. E ela lá, levando um lanchinho para o garoto e umas broncas para os inimigos.
Essa figura-mãe esteve há poucos meses na USP. Os estudantes eram levados pela polícia em ônibus fretado. A mãe de um deles chega de carrão e vem à janela entregar-lhe um pacotinho de biscoitos.
A outra, na França, não teve tanto sucesso. Seu filho, francês... “de origem árabe”, entrou numas de franco-atirador e matou meia dúzia de azarados. Cercado, acabou mal. Não ouviu os apelos de sua mãe, que a polícia trouxe ao improvisado bunker do maluco. Às vezes falham e viram Das Dores.
Muitos admiram as crianças que fazem perguntas difíceis e até farejam ali um lampejo de filosofia. Correção: quem merece elogios são suas mães, que sempre estão por perto e inventam alguma coisa como resposta. Ou refazem as perguntas. Dona Enedina, por exemplo.
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Uma de Lichtenberg e duas de Lichtenborg:
“Há muito tempo penso na autofagia da filosofia. A metafísica já comeu um grande pedaço de si mesma.” (1790, mais ou menos)
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“Cosecha tardia: para que a gentil parreira faça ainda por alguns dias companhia às colegas bananeiras que já deram cacho.” (2012)
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No céu, na água, na terra. O sonho de voar não pode equivaler ao de nadar. Eu, que não nado nada, já tenho mais horas de vôo que a devassa de cama. E nenhum dos grandes nadadores com ouro no pescoço consegue respirar debaixo d’água, pois mesmo o pirarucu sobe à tona para encher seu único pulmão. Dispensados ficamos de asas e guelras, na medida em que desistimos do sonho de dominar todos os elementos; ninguém inveja a minhoca que se enfia no barro e os túneis não inspiram esportes. (2012)
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Era uma vez um rei.
Um rei que vivia em um país falido.
País de um povo que invadiu, roubou e matou durante séculos, dentro e fora de suas fronteiras.
Castigo de Tupã, pois essa Espanha em crise massacrou os indígenas de nuestra América e levou no grito toneladas de ouro. Onde enfiaram?
Em parte na família real, que continua a gastar e a viver à toa.
E aí recém el Rey foi à África matar elefantes. Claro. Pois em um país cujos súditos se divertem nas touradas, matar boi é café pequeno; el Rey tem que se impor e matar bicho grande. E aí pegou mal. Esse incauto caçador torceu seu pé real. E dias antes um infante atirou contra o próprio pé – literalmente.
O rei volta manco e encontra o povo desempregado e revoltado com as caçadas de sua majestade. Talvez quisessem um pedaço de marfim pra penhorar no banco falido. Pediu desculpas ao povo. A notícia vinda da Argentina, com negócios de petróleo, desviou a atenção. Neo-colonialismo na África e na América. Elefantes e lucros. A imprensa, comprada, diz rapidinho que o povo perdoou el Rey.
Ninguém consultou os elefantes que ficaram órfãos e tristes. E com isso a Espanha acumula mais e mais motivos para ser castigada por uma crise. Tupãs e Tupacs e deuses de pigmeus e de elefantes – pensem em Ganesh, por exmplo, com todo o respeito. E não se esqueçam, caros espanhóis monarquistas, da lei da queda tendencial da taxa de lucro. Os elefantes se lembrarão e já fazem cálculos e apostas.
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