Numa certa cidadezinha deste cerradão, mundo velho sem porteira, dois profissionais chamavam a atenção: um relojoeiro mudo e um locutor cego. Mais extraordinário seria se o mudo fosse trabalhar ao microfone da rádio e o outro viesse acertar pelo tato os mondaines e seikos. Not quite.
O fotógrafo cego
Há uns dez um cego arrepiou no circuito das culturetes de algumas metrópoles . Ganhou até coletânea de ensaios psicanalíticos, com algum francês a tiracolo. O Filósofo do Cerrado conheceu o cara, que nasceu com nome metido, Evgen Bavcar, ou seja, Eugênio. Expunha fotos e se expunha, com roupa extravagante e um chapéu preto de carroceiro, em sala de museu onde ninguém usava chapéu. E ainda aprendia a tocar sanfona no Brasil. Nada tão extraordinário assim, já que Evgen enxergou até por volta dos dez anos. Depois perdeu a visão e ganhou uma Leica. E hoje um assistente bota ele na direção do tema que fotografa; vira ele e diz “fica quieto e dispara!”
O fotógrafo míope
Quanto ao emissor ora diante do teclado, cabe dizer dele que sua sina não era ser Suassuna, ou seja, além de mediano nisso, a filosofia, ficou a meio caminho do sucesso na fotografia, pois sendo apenas míope, dançou de novo. Todavia, há que admitir: fez suas melhores fotos quando esteve a clicar sem seus óculos. Logo, Evgen tem razão: o olhar atrapalha. Ou seja, a Kodak se vira.
O fotógrafo peludo
- Espelho é paia. Certa vez, em um caderno de cultura da Folha ou do Estadão, lia-se: “Não se deve dar espelhos aos macacos”. Incompreensível essa frase, que agora cai no esquecimento, já que os macacos querem mais: querem câmeras fotográficas digitais com visor.
- Shoot, shot, shot. Poderíamos lançar aqui a qualquer hora mais um manifesto fora de hora. No caso, um manifesto contra o excesso de imagens de nossa sociedade midiática, etc. Tarde demais, já que até os animais estão a produzir imagens. Foi-se o tempo das piadas caipiras e pegadinhas, tipo “o cabrito que disparou um tiro de espingarda em seu pastor”.
- Ape Copyright. Um macaco tomou a câmera de Fulano Slater, um fotógrafo inglês, na Indonésia e fez várias fotos, inclusive auto-retratos, esticando o braço. Agora está em disputa a autoria das fotos. Militantes dos direitos dos animais (não humanos e cada vez mais espertos) criam caso e com razão. Quem ainda nega direitos aos animais que se prepare: já se reivindica “direitos autorais” para eles. Macaco tá certo. E só falta mico piratear a obra do colega indonésio.
- Solidariedade símia. Exemplo deste primata : para não desrespeitar o macaco-fotógrafo, inclusive por transitar alguma matéria por aí, o digitador deste blog não vai publicar fotos do colega indonésio. Quem quiser que procure neste endereço, por sua conta e risco: http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=fotos+macaco+indonesia+slater&rlz=1R2ADRA_pt-BRBR416&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.&biw=1024&bih=456&wrapid=tlif131144958902410&um=1&ie=UTF-8&tbm=isch&source=og&sa=N&tab=wi
E a matéria da Folha de São Paulo está em http://edicaodigital.folha.com.br/home.aspx?cod=JPQOKROMHOI
Sem condições para tirar lição de moral, pois até Esopo e La Fontaine estão pasmos, acrescente-se apenas um sub-item:
E – Ensaio sobre a fotografia. A sensacional obra de Susan Sonntag vai ter que ser reescrita, pelo filho-editor ou pela amiga-fotógrafa, se é que ainda anda por aí e não na companhia de Amy Winehouse agora.
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Jovem!
No ano em que completar 27 anos, parabéns!
Você ganhou dos malucos que levaram a sério o plano de morrer jovem.
E para quem estiver na fila dessa aposta bizarra, vespano os dizassete,
cabe repetir a avaliação de L. Coelho ou de Nhô Quim:
--Você está feito, cara. Está feito bobo.
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