Isturdia grande, em dois mil e dizanove, eu e ela saímos do bairro "Vaca Vermelha", em Dublin, e fomos ver o mar. Howth (leia-se "Ruff") fica a duas léguas e pouco e é lugar bom pra comer Peixe com Batata Frita... e tomar uma Guinness. Passeio bacana é subir a pé o barranco do mar, o "cliff", só pra ter uma bela vista e boas idéias.
Na descida reparamos nessa placa redonda. E paramos para ver, admirar o verso, fazer foto. Nisso, turistas gringos também se detiveram, interessados. Uma renca. Ali havia morado o poeta Yeats, na adolescência.
Agora, Natal de 2022, minha filha trouxe de NY pro velho aqui um livro com poemas desse poeta irlandês. Em retribuição a elas, traduzi o que se segue. Creio que combina com a paisagem e com a esperança, no meio de uma boa visão social, crítica e movida pela beleza.
Mendigo
a mendigo gritou
(W. B. Yeats / 1865-1939)
'Hora de suspender o mundo e ir para
algum lugar,
E se refazer da saúde com a brisa do mar'
Gritou mendigo a mendigo, tomado pelo frenesi.
'Antes que minha cabeça se alise, vou de minha
alma cuidar.'
'E conseguir o conforto de uma esposa e um lar,
Pra me defender do diabo que me vem ao calcanhar'
Gritou mendigo a mendigo, movido pelo frenesi.
'E o pior diabo que veio entre minhas coxas morar'.
'E mesmo que eu me case com rapariga faceira,
Ela não precisa ser bela demais, desde que me
queira'.
Gritou mendigo a mendigo, atacado pelo frenesi.
'Mas há um demônio no espelho da penteadeira'.
'Nem devia ela ser rica demais, pois a ambição
Move o rico assim como a coceira põe o pedinte em
ação'
Gritou mendigo a mendigo, atacado pelo frenesi.
'E uma feliz conversa espirituosa o rico
consegue não'.
'E lá serei respeitado, tranquilo e audaz
E hei de ouvir no meio do jardim em noites de paz'
Gritou mendigo a mendigo, atacado pelo frenesi.
'O clamor dos gansos mariscos que o vento traz'.
(Tradução de Bento Itamar Borges, Natal de 2022)
Casa do poeta quando teen
e versos no original, a seguir:
Beggar to Beggar cried
(W. B. Yeats – 1865-1939)
‘TIME to put off the world and go somewhere |
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And find my health again in the sea air,’ |
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Beggar to beggar cried, being frenzy-struck, |
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‘And make my soul before my pate is bare.’ |
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‘And get a comfortable wife and house |
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To rid me of the devil in my shoes,’ |
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Beggar to beggar cried, being frenzy-struck, |
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‘And the worse devil that is between my thighs.’ |
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‘And though I’d marry with a comely lass, |
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She need not be too comely—let it pass,’ |
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Beggar to beggar cried, being frenzy-struck, |
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‘But there’s a devil in a looking-glass.’ |
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‘Nor should she be too rich, because the rich |
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Are driven by wealth as beggars by the itch,’ |
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Beggar to beggar cried, being frenzy-struck, |
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‘And cannot have a humorous happy speech.’ |
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‘And there I’ll grow respected at my ease, |
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And hear amid the garden’s nightly peace,’ |
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Beggar to beggar cried, being frenzy-struck, |
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‘The wind-blown clamour of the barnacle-geese.’ |
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