quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

MENDIGOS PROSEANDO - poema litorâneo traduzido quentinho

 Isturdia grande, em dois mil e dizanove, eu e ela saímos do bairro "Vaca Vermelha", em Dublin, e fomos ver o mar. Howth (leia-se "Ruff") fica a duas léguas e pouco e é lugar bom pra comer Peixe com Batata Frita... e tomar uma Guinness. Passeio bacana é subir a pé o barranco do mar, o "cliff", só pra ter uma bela vista e boas idéias. 

Na descida reparamos nessa placa redonda. E paramos para ver, admirar o verso, fazer foto. Nisso, turistas gringos também se detiveram, interessados. Uma renca. Ali havia morado o poeta Yeats, na adolescência. 

Agora, Natal de 2022, minha filha trouxe de NY pro velho aqui um livro com poemas desse poeta irlandês. Em retribuição a elas, traduzi o que se segue. Creio que combina com a paisagem e com a esperança,  no meio de uma boa visão social, crítica e movida pela beleza. 





Mendigo a mendigo gritou


(W. B. Yeats / 1865-1939)

'Hora de  suspender o  mundo e ir para algum lugar,
E se refazer da saúde com a brisa do mar'
Gritou mendigo a mendigo, tomado pelo frenesi.
'Antes que minha cabeça se alise, vou de minha alma cuidar.'

'E conseguir o conforto de uma esposa e um lar,
Pra me defender do diabo que me vem ao calcanhar'
Gritou mendigo a mendigo, movido pelo frenesi.
'E o pior diabo que veio entre minhas coxas morar'.

'E mesmo que eu me case com rapariga faceira,
Ela não precisa ser bela demais, desde que me queira'.
Gritou mendigo a mendigo, atacado pelo frenesi.
'Mas há um demônio no espelho da penteadeira'.

'Nem devia ela ser rica demais, pois a ambição
Move o rico assim como a coceira põe o pedinte em ação'
Gritou mendigo a mendigo, atacado pelo frenesi.

'E uma feliz conversa espirituosa  o rico consegue não'.


'E lá serei respeitado, tranquilo e audaz
E hei de ouvir no meio do jardim em noites de paz'
Gritou mendigo a mendigo, atacado pelo frenesi.
'O clamor dos gansos mariscos que o vento traz'.

(Tradução de Bento Itamar Borges, Natal de 2022) 


 Casa do poeta quando teen 

e versos no original, a seguir:



 

Beggar to Beggar cried

(W. B. Yeats – 1865-1939)


‘TIME to put off the world and go somewhere

 

And find my health again in the sea air,’

 

Beggar to beggar cried, being frenzy-struck,

 

‘And make my soul before my pate is bare.’

 

  

‘And get a comfortable wife and house

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To rid me of the devil in my shoes,’

 

Beggar to beggar cried, being frenzy-struck,

 

‘And the worse devil that is between my thighs.’

 

  

‘And though I’d marry with a comely lass,

 

She need not be too comely—let it pass,’

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Beggar to beggar cried, being frenzy-struck,

 

‘But there’s a devil in a looking-glass.’

 

  

‘Nor should she be too rich, because the rich

 

Are driven by wealth as beggars by the itch,’

 

Beggar to beggar cried, being frenzy-struck,

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‘And cannot have a humorous happy speech.’

 

  

‘And there I’ll grow respected at my ease,

 

And hear amid the garden’s nightly peace,’

 

Beggar to beggar cried, being frenzy-struck,

 

‘The wind-blown clamour of the barnacle-geese.’

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