CEMITÉRIO BIZANTINO NA BAHIA que aparece no filme universal "Abril despedaçado" (foto nossa, com cactus, feita num abril desses, inteiros) |
1. Trechos de notas de uma viagem nossa
11 e 12, sexta e sábado
Sem pressa, de Rio de Contas até Jussiape, passando por belo vale fértil, com açude e moleques nadando. Um pássaro preto e laranja, o sofrê, nessas margens do “Rio Ribeirão” ou Paraguaçu. Uma senhora crente e educada confirma a rota do GPS e nos cobre de bênçãos e vai-com-Deus. Fomos com Ele, subindo serra que chega a 1300 metros. Casas de colonos com cacimba que coleta água de chuva. Um tropeiro solitário conduz um burro com bruacas. As primeiras plantações de palma, o cacto que vaca come e o vaqueiro tombém.
Jantar em Mucugê. Pizza por preço bacana. Na volta, o cemitério bizantino iluminado. Leio uns salmos no domingo, tão cheio de belezas louváveis com a paisagem em volta. E leio João Rosa, sobre seus jagunços, a hora e a vez de cada um. E creio nisso. “Eu vou para o céu, nem que seja na base do porrete!”
<Capão da Volta (em geral, sem) Jussiape> (placa furadinha de bala - foto by Selbstgebaut) |
2. Trechos da história do João Rosa, depois recitada para o Véio Olavo e a Dona Nedina
(...)
E seu Joãozinho Bem-Bem, que, com o rabo-do-olho, não deixava de vigiar tudo em volta, virou-se, rápido,
para o Epifânio, que mexia com a winchester:
— Guarda a arma, companheiro, que eu já disse que não quero essa moda de brincar de dar tiro à toa, à toa,
só por amor de espantar os moradores do lugar!...Vamos chegando! Guia a gente, mano velho.
(...)
E a casa matraqueou que nem panela de assar pipocas, escurecida à fumaça dos tiros, com os cabras saltando
e miando de maracajás, e Nhô Augusto gritando qual um demônio preso e pulando como dez demônios soltos.
— Ô gostosura de fim-de-mundo!...
(...)
A coronha do rifle, no pé-do--ouvido... Outro pulo... Outro tiro... Três dos cabras correram, porque outros três estavam mor tos, ou quase, ou fingindo.
E aí o povo encheu a rua, à distância, para ver. Porque não havia mais balas, e seu Joãozinho Bem-Bem mais o Homem do Jumento tinham rodado cá para fora da casa, só em sangue e em molambos de roupas pendentes. E eles negaceavam e pulavam, numa dança ligeira, de sorriso na boca e de faca na mão.
— Se entregue, mano velho, que eu não quero lhe matar...
— Joga a faca fora, dá viva a Deus, e corre, seu Joãozinho Bem-Bem...
— Mano velho! Agora é que tu vai dizer: quantos palmos é que tem, do calcanhar ao cotovelo!...
(...)
(A hora e vez de Augusto Matraga - Guimarães Rosa)
3. Da capa da Folha de São Paulo, em 26/11/2012
Efeitos da campanha por "ficha-limpa" (Sujou) |
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Byzance |
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