“O feio, o ruim e o falso”. Isso pode parecer título de um filme de caubói espaguete, mas é apenas o negativo dos três grandes valores de nossa cultura metida a universalidades: o belo, o bom e o verdadeiro.
Em 2001 e 2002, estava este filósofo do cerrado muito livre e cheio das idéias, ou seja, em licença de pós-doc. Podia fazer o que lhe desse na web e mesmo trabalhar por encomenda. Topou. Os caras da psicologia da UFRGS – e os psicanalistas – em torno do colega e guru Caon estavam lendo e falando de “O império do grotesco”, que é o mundo da mídia e título de um livro, onde caberiam Chacrinha, Ratinho e todas as paniquetes e jackasses.
Este blog continua com o plano de contar a história da filosofia universal, ou seja, as peripécias dos textos publicados por seu sub-escritor (sic e cpf), o filósofo do cerrado. É história e tem data marcada aí. Lugar: entre Porto Alegre e Santa Maria, com passagem pelo Museu do Prado, na Espanha, e pela Bahia de Gregório, o Boca do Inferno.
Então, vejam, caros principiantes, como funciona a filosofia no mundo em que vivemos e nos Brasis dos contrastes: é permitido pesquisar por encomenda. Sim, senhores. E sem ganhar grana alguma. (Um dia volto à carga, mas é que os sacanas da agência não deram bolsa para esse pós-doc! Foi na raça e na meia-porção de galeto com polenta e taça de vinho sem marca...)
Mas... e o prazer? O gosto de entrar no jogo e de ver umas cem carinhas loiríssimas olhando para o palestrante, meio assustadas. Pois, além de apresentar aos psi da capital da gauchada, levei o ensaio a um evento de estética, na UFSM , Santa Maria. Aí, ao falar das mulatas, do erotismo e da musa praguejadora de Gregório de Matos Guerra, levantei os olhos do paper e só vi loiras e galegos com olhos azuis arregalados.
O ensaio foi longe, até o Kitsch e um chute, um salto por conta própria: a função crítica do grotesco, do mau gosto, do feio, etc.
Quem quiser ler, pode encontrar o texto no site da turma da psi, cujo título misterioso é Mars Gradivus. Parece que foi a inauguração da página, tipo número 1, ano 1, em 2002. E por muitos tempos foi o endereço mais visitado no Google para o tema “grotesco”.
Dois anos depois, o texto foi publicado na revista da PUC de Porto Alegre, a Veritas. Fazia minhas pesquisas naquela instituição, onde obtive o certificado de pós-doc. Fez sentido publicar lá.
Para um futuro que já vem apitando na curva, ficaria bacana uma versão ilustrada, pois há muitas referências a artes visuais e imagens, em geral.
Além de contar a historinha desse texto publicado, caberia aqui um adendo, uma atualização.
O español Goya foi uma figura muito importante para o acervo de imagens grotescas e para dar estofo aos que buscavam uma teoria do grotesco. Conhecemos algumas imagens chocantes com cenas de guerra. A mais apreciada pelos filósofos, inclusive, quem sabe, os cartesianos e kantianos, é essa, com gatos que se transformam em corujas e morcegos.
OS MONSTRUOSOS SONHOS DA RAZÃO |
O professor Ernildo Stein é um dos tantos que citam essa bela gravura. Agora, fica ainda mais clara a inteligência e a loucura de Goya. E precisamos registrar aqui um convite e uma ressalva:
Vejam no Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba, a exposição da série de gravuras de Goya. São umas oitenta gravuras, feitas e publicadas há uns 213 anos. Sempre trazem um título e, na exposição, uma explicação, uma contextualização da crítica, do deboche, do escracho, em torno de megeras, bruxas, demônios e sonhos.
¡OLHA O GOYA NO MUSEU DO OLHO! |
Curioso é que a primeira de todas essas gravuras seja... um auto-retrato. Goya se inclui na série de devaneios sobre o feio, o assustador, o sórdido, o lúgubre, o nojento.
Ora, isso puxa uma anedota a mais e uma promessa. Nossa colega de ofício, Imaculada Kanguçu, a Leca, hoje na UFOP, às vezes referiu-se a meu nome e sobrenome, seguidos do aposto, “o grotesco”. E eu gostava. Curti.
A promessa: vou em breve imitar o Chico Goya e fazer mais uma gravura, com cena que ele teria gostado de ver, numa praia brasileira. Com mulata digna de Gregório, o desbocado.
O GROTESCO NÃO É TOSCO. EIS O Y DA QUESTÃO, ANTES DE UM EISBEIN NO BAR DO ALEMÃO onde, aliás, podem os maiores tomar um chopp batizado com Steinhager... Nesse caso, um gostinho bom. |
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