Ou cisco na vela. Róla muita conversa fiada na imprensa sobre tecnologia. Coisa de criança, mais exatamente bad boys com um notebook ou tablet e alguma queda para o design futurista. Vários futuros já chegaram, mas cadê os carros-conceitos? Alguns não chegaram à carroça-noção, como diria o Collor, se pudesse.
QQ isso? Deve ser o Zé Gotinhamóvel |
Alguns desenhos metidos a besta tem a aparência de um sabonete usado. Dali tiram a aero e a hidrodinâmica de suas idéias mirabolantes. E é preciso fazer média com a consciência culpada do consumidor-poluidor. Aí dirão que para cada carro novo uma árvore será plantada. Balderdash and Co. Sustentabilidade é uma balela. O carro elétrico é tão antigo quanto o Fordinho T, que era uma cristaleira com motor tuc-tuc.
Grátis um limpa-vidros e um porta-trecos |
Poeminha flex 2.0, zero km, incompleto
O carro do futuro não terá rodas
A roda do carro não terá raios
O raio do carro não terá motor
O inexistente motor não fará fumaça
Massa! Nem breque nem buzina nem IPVA
O carro do futuro não terá sentido nem direção
Nem lugar pra dois no expresso dois dois dois
Nem banco duro nem pneu nem furo
Pois no futuro não haverá carro
do futuro mantenhamos distância.
oooo
(psicografado pelo espírito do tempo de Leminski Catatau)
Este blog não deveria vir agora com piadinhas. Vamos do agudo ao grave: a morte. Alguém aí esperava que este século começasse matando tanto assim? Este XXI fresquinho ainda “nas fraldas sujas da história” que não acabou já expôs as carcaças inglórias de Saddan, Bin Laden e, agora, Gaddafi and sons. Fotos de celulares nas mãos dos rebeldes.
A imagem das fraldas é de Walter Benjamin, que, em uma de suas teses sobre a filosofia da história cita essa sacada genial de Leon Daudet:
“L´automobile c´est la guerre.”
Passat 74, muito prazer |
Em 1993, na Babel de um curso de alemão para estrangeiros, aparece um iraquiano que mais parecia um primo da gente. Falávamos ainda inglês, que rendia mais que o incipiente alemão. Boa conversa do grupinho já no coquetel de boas-vindas. Ao ouvir o nome Brasil, o iraquiano riu à beça. O Brasil das construtoras era mais associado ao carro que exportava: o velho Passat. Para nós, motivo de orgulho. No Iraque, não era bom negócio um carro que dava tanta oficina.
Semana depois, mais drinks e mais libido, o colega se apaixona por uma moça de outra turma. Eram duas irmãs, que viviam zanzando e não aprendiam a língua. Repetiam o semestre e permaneciam por ali, com dinheiro à vontade. O rapaz logo se desiludiu e até pediu transferência para outra cidade, Heidelberg. Na despedida, apontou para as moças e perguntou aos primos: “Do you know the meaning of disgrace?”
As moças eram filhas de um general líbio. Montado na grana. Ditadura que agora caiu em desgraça.
Nos últimos anos, ao ver carros detonados pela guerra de Bush no Iraque, vinha o temor. Será o brimo sobreviveu? E agora dá o que pensar. Não estariam as moças em fuga após o cerco que matou Gaddafi, filhos e generais? Teriam morrido sem ler Schiller no original?
Tema para desenvolver: como é difícil levar a democracia ao resto do mundo! Tem que ser na marra, a ferro e fogo? E o capitalismo vem junto no mesmo kit de destruição & reconstrução? Por enquanto, uma certeza, reforçada pelas imagens: essa na Líbia foi a guerra das pickups. A Otan armou rebeldes com as mesmas camionetas que aqui correm à toa pelos canaviais. E decerto a gasolina foi liberada, além dos cartuchos carregados. Claro, claro. É mais uma guerra por petróleo, que queima petróleo. Mas também pelas liberdades, inclusive a nossa de ir e vir. Reviravolta.
A parte elétrica tá supimpa |
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PARAPSICOPATOLOGIA não é PROPAROXÍTONA
Em respeito à memória do grande Ibrahim Sued, em essência o padroeiro de colunistas de socialites de todos os gêneros, fica decretado ou facultado como se segue: quem não conseguir emitir a correta seqüência de sílabas da palavra Fe-no-me-no-lo-gi-a, fica dispensado ou dispensada de soletrar H-u-s-s-e-r-l . Mas com isso não se insinua que seja tão essencialmente engraçado como quis crer um certo Molière que alguém tenha passado grande parte da vida a falar francês sem que tivesse consciência de ter estado todo aquele tempo a empregar vogais. Ah! É?
-------- NOVA SEÇÃO DAS DEZ -------
“No tempo do cinema surdo”
“Um bonde chamado desejo” é um título muito sutil e freudianamente verdadeiro para um belo e pesado teatro filmado. A censura ianque promoveu aquele filme em quarenta e nada e o infeliz título dado no Brasil fez o resto: “Uma rua chamada pecado”. Não há rua e nem tem pecado, para os padrões gerais mais recentes. Ou pelo menos não há – em lugar algum – tanto pecado quanto desejo. O desejo ganha disparado, pois esse trem é o que arrasta a trama. Já o nosso Nelson R. cansa, mesmo quando chama Lucélia Isaura. Bem depois de o vento levar sua Tara, Vivian Leigh já não era tão bonitinha e nem merecia o lugar de ordinária. Mas era professora de poesia e não soube entrar no jogo suburbano e superegótico de tapas e beijos.
(O “Cinema surdo” foi criado por um ato falho do velho Antônio Justino – sua bênção – seguidor de McAdam, que, ao contrário do xará menudo canadense, jamais usou playback.)
MÓ NO NADA
Minimalismo tem limite. Para os insatisfeitos com este post, do tipo que resmungaria, até com razão, aliás: “não tamo nada satisfeito” , um alento >em breve algumas achegas ao delírio da figurinha carimbada aqui, o versátil Godofredo Leibniz.
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